"Tribruto é bailarinas, é as espadas e os pauzinhos do restaurante chinês, é corridinho algarvio, é tudo". Dito assim, podem pensar: O que têm a ver com o Rap? A resposta é : Tudo! A explicação? A entrevista tratará de a dar


Freestyle:  Falem-nos um bocado de Tribruto. Como nasceu e como tem crescido o grupo?


GI Joe: Normalmente chamavam-me a mim ou a Kimahera para dar concertos e acabávamos por fazer um pack geral da Kimahera e havia até um projecto em que os mc’s já estavam formados e aí era o Punch e o Kristo, a solo, e eu. Cada um levava os sons próprios e dava os backs do outro. Fizemos isso durante um ano e meio, vimos que resultava em palco a presença dos três e decidimos criar o grupo. Foi ao contrário do normal, em que crias um grupo e depois é que tens experiências em palco.



Como tem sido estes dois anos de crescimento do grupo?


Punch: Positivo. Eu e o Kristo completamo-nos mutuamente no palco, tanto em rimas e flows como em punchlines, que é onde o nosso rap cai muito. Além disso, temos o Joe que faz DJ e as produções do grupo.
GI Joe: Tem resultado muito bem e, com a experiencia que temos em palco, já adquirimos a noção de que som é que vai resultar bem ao vivo e o que pode funcionar ou não. Isso facilita a criação de temas quando estamos em estúdio. Temos tido bom feedback.



Vocês têm uma presença muito forte ao vivo. 


Kristo: Temos uma expressão mais agressiva em palco porque temos observado que é necessário isso hoje em dia. Um artista deve ter atitude, deve mostrar agressividade e empenho para ter uma boa aceitação e receptividade por parte do público. Alguma brincadeira também é importante: não ter aquele ar sério, porque isso pode as vezes gerar uma certa desconfiança por parte de quem está a ver; nunca mostrar um ar superior em palco; mostrar que estamos ali e estamos a gostar e o público por si responde com o tal buzz. A nossa própria personalidade e o termos essa postura vem da experiência que temos e dos conselhos que nos foram dando que depois fomos aplicando.
Punch: Criar interacção com o público. Assim aderem mais as nossas brincadeiras e libertam-se.
GI Joe: Também tem a ver, um bocado, com a base instrumental que planeámos e que eu tenho dado ao grupo, que se foca mais em sons que batam ao vivo.



É essa a base do vosso trabalho, a música tem de resultar primeiro em palco? 


GI Joe: Primeiro, primeiro tem a ver com as nossas influências e com o estilo de rap que queremos fazer. Eles não estão limitados às punchlines e mesmo no álbum há mais temas, mas é nesse estilo e com essa base. Tem a ver com isso, com o que gostamos, com o que queremos transmitir, um grupo activo, com muita força e isso reflecte-se logo em palco.
Kristo: Até os próprios convidados entram dentro da nossa estrutura, sabem já para o que vão e entram com essa agressividade que nós transmitimos.



Descrevam um pouco do EP e o porquê de o lançar antes do álbum?


Kristo: Foi bater nas pessoas (risos). O EP foi engraçado porque o álbum já estava feito, mas, devido à nossa aliança com a Footmovin, nós somos Kimahera, entrámos para a Foot a convite do Bomber. O EP foi um dar a conhecer o que vem no álbum, dar a conhecer quem é Tribruto.
Real Punch: Nós temos mais nome a solo do que em grupo e na altura, o conceito de Tribruto nas pessoas ainda não estava definido e devido a isso, o EP veio para dar a conhecer o grupo, principalmente fora do Algarve.
Kristo: Foi uma «Granda Moca Meu» e se o pessoal não curtir é «Não me venhas com essas dicas».



Por falar em não me venhas com essas dicas, «Ah porque tribruto é só punchlines». É mesmo?

Kristo: Não. Isso foi tirado porque é mais o que as pessoas dizem e acham, mas não. Digamos que 75 por cento da nossa cena é agressividade, punchline, mas não. Temos temas muito bons no álbum que não são só punchline e a nossa ideia não é ter duas palas só para as punchs, não, não sigam essa ideia. É Tribruto, pronto. Podem dizer que Tribruto é bailarinas, é as espadas e os pauzinhos do restaurante chinês, é corridinho algarvio, é tudo.
GI Joe: Basicamente daqui a uns anos, vai existir um estilo no rap que será estilo Tribruto. (riso)



Tendo em conta o EP, o que podemos esperar do álbum?


Kristo: Podes esperar tudo de bom. Vamos ter bom punchline, temas a puxar pelo público, participações muito boas...
GI Joe: Não procurámos grandes participações e ainda nem tínhamos tido este convite do Bomber. Todas as participações foram naturais, era pessoal com quem nos identificávamos. Não são aqueles nomes enormes, não que não tivéssemos essa possibilidade mas porque não o quisemos.
Kristo: Pois, porque há pessoal que tenta essas participações para vender mais 50 cópias, nós não. Não queremos seguir essa linha. Preferimos fazer música com que nos identificamos e com quem, naquela faixa, é a melhor pessoa.
GI Joe: A nível de álbum, como ele estava a dizer, é mais diversificado que o EP, vamos procurar que seja o mais visual possível. Estamos a tentar fazer mais vídeos, acompanhá-lo com imagem e esperamos que as pessoas curtam. 



Em termos de produção, ficou a cargo só do GI Joe?


GI Joe: Fui só eu a produzir, Tribruto tem como base dois MC’s e um DJ/Produtor, então a produção do álbum é toda minha. Só é diferente quando, por vezes, há participações exteriores. Então, usamos um beat exterior e eu entro apenas como DJ.



Ultimamente têm-se visto muitos grupos ou a solo usarem bandas e instrumentistas. Vocês estão a seguir o classic, MC e DJ.


Kristo: Nós temos baterias e assim, mas é no telemóvel (risos). Agora a sério, nós temos seguido essa linha e queremos seguir a linha do classic, até porque teres banda vai-te abrir portas, mas vai fechar outras. Estamos numa fase inicial e queremos seguir essa linha porque isso não pode morrer.
Real Punch: É manter a relação MC e DJ. Crescemos neste estilo e queremos mantê-lo.
GI Joe: Não quer dizer que ponhamos de parte uma futura participação de um instrumentista, mas a base do grupo é esta.



Qual a vossa relação com as restantes vertentes do Hip Hop?


Real Punch: A vertente que temos mais dificuldade no Algarve é o breakdance. Graffiti, estamos bem servidos e temos uma boa ligação com writters lá de baixo.
GI Joe: Estamos ligados e informados em relação às restantes vertentes, mas há realmente uma certa dificuldade em conciliar os bboys quando nos pedem para organizar algo. 

Ser do Algarve condiciona-vos?


Kristo: Sendo do Algarve, temos de trabalhar o triplo. Já andamos há muito tempo nisto, o Joe anda há mais e tem sido uma luta terrível para conseguirmos entrar no meio Hip Hop, porque nos vão sempre considerar como “de fora”. E não somos de fora, somos do mesmo país, estamos juntos. Por vezes somos olhados de uma forma estranha e um tanto superior, tanto em Lisboa como no Porto. Parece que nos estão a avaliar. Como se pensassem «vamos lá a ver o que estes gajos valem». Se já estamos aqui e se chegámos a este patamar, é porque tivemos de dar o triplo e é importante que as pessoas tenham isso em conta.
GI Joe: O que acontece também é que, logisticamente, não é fácil chamarem-nos para um concerto. Automaticamente vai haver mais custos, seja para aqui (Lisboa) ou para o Norte. Mesmo que consigamos ter o nosso nome presente, é mais fácil se não aparecermos durante um mês ou dois, que as pessoas se comecem a esquecer, enquanto quem está no centro tem mais facilidade em manter-se visível. Claro que no Algarve, conhecem-nos melhor a nós. É normal, aceitamos isso e trabalhamos o triplo.
Kristo: Estamos sempre a trabalhar, estamos já a fazer o terceiro álbum, vamos saltar o segundo. Mesmo a solo, estamos sempre a fazer as nossas cenas, parar é morrer e parar neste meio é sermos engolidos, é como quem faz bodyboard, distrai-se um bocado e a onda engole-o e nós temos de estar sempre atentos. As coisas estão a correr bem e estão-nos a dar valor.
GI joe: Só para completar, por termos de trabalhar o triplo, foi uma das razões que juntámos três.



Como tem sido o feedback, tanto de concertos e do EP?


Kristo: Cada vez mais, temos o peso da responsabilidade. Pela primeira vez, fizemos as três semanas académicas do Algarve, o que não é fácil, porque há uma grande rivalidade entre elas. Tivemos no Pirate Popular Soundclash da RedBull. Tem corrido bem.
Real Punch: Até pessoal fora do meio, pessoal cujo estilo musical não tem nada a ver com Hip Hop valoriza muito o nosso trabalho, a nossa postura em palco e a nossa interacção com o público, como tínhamos dito em cima. 
GI Joe: E isto sem banda, sem mudarmos o nosso estilo para agradar. Somos nós, tal como queríamos e temos tido um feedback positivo.
Kristo: E sabes que os concertos de Hip Hop, em Portugal, estão complicados. Muitos já mancharam a imagem e estão uns a lutar e outros a destruir. É complicado abrir certas portas, mas tem sido bom até agora. 



Quando escrevem, têm algum cuidado ou preocupação no que vai agradar às pessoas ou é só para vós?


Real Punch: Falando por mim, a minha escrita é baseada naquilo que eu sinto, no que me agrada. Se os outros gostarem, melhor. Fico contente.
GI Joe: Também vai do facto de eles estarem actualizados e ouvirem coisas boas e terem boas influências musicais. É normal que, após escreverem, haja sempre gente que se identifica.
Kristo: Todos têm influências. Vais sempre buscar um bocadinho de cada um e nós estamos sempre a ouvir musica, muita música de fora, principalmente. Estamos agora numa de mostrar mais skill, mais técnica de rimas, que é o que se pede hoje em dia, que escrevas bem, que tenhas um bom flow e mensagem claro, senão bates uma vez num som e não bates mais. Depois temos a nossa influência que somos nós próprios.



Com o lançamento do álbum, que projectos têm para o futuro?


GI Joe: Queremos continuar a trabalhar nos vídeo clips, para complementar o álbum. Tocar muito ao vivo, mostrar o álbum ao vivo e podemos dizer que já estamos em estúdio a preparar o próximo.
Kristo: Acima de tudo, não parar. Queremos fazer participações como Tribruto, podemos fazer uma ou outra a solo. Mas acima de tudo queremos ter participações como Tribruto.
GI Joe: Nós, nas músicas dos outros, somos como um marcador fluorescente (risos).



Em termos de trabalhos a solo?


Kristo: Estou a preparar o meu álbum, mas não sei será EP ou mesmo álbum. Depende daquela tal questão que é o dinheiro. Se for EP será para download na net. É isso e focar-me no álbum de Tribruto. Uma participação ou outra, mas por agora é só.
GI Joe: Eu continuo a trabalhar com Tribruto e com outros artistas. A seguir ao lançamento do álbum de Tribruto, vou lançar um álbum de Trip-hop com a emmy Curl e estou a trabalhar em simultâneo em coisas que me vão pedindo e que eu acho que vale a pena agarrar e tenho tempo. 
Real Punch: Eu estou a acabar de escrever a minha segunda mixtape. Estou focado num projecto que vou fazer com um produtor de Mertola, Randy, que serão só faixas de um minuto, que deve sair em formato de mixtape. Vou juntando algumas coisas para um álbum, mais isso é mais para a frente. É um trabalho com pessoal da minha terra, que é uma crew que já tenho desde antes do rap, mas principalmente é a minha mix.



Os Tribruto são pessoas divertidas e brincalhonas. Entendem-se bem?


Kristo: Sim, damo-nos bem e a união é o segredo de um grupo conseguir seguir em frente e ultrapassar os obstáculos seja em que vertente ou cultura for. É não ligar a bocas de fora. Tens o caso dos Dealema, que entre eles existe confiança, são reservados e não ligam ao que dizem de fora e por isso é que eles estão há 20 anos a fazer isto.
Punch: A união, a amizade é importante e o nosso espírito é esse e isso ajuda-nos.



Com o crescendo de buzz que têm tido, preocupam-se em apoiar o pessoal do Algarve?


Kristo: Claro e ainda há pouco tempo fiz uma mixtape da minha terra, em que tive de tomar a atitude. O pessoal troca muito o fumo pela sede e perde o sentido da música, mas o mais importante foi que lançámos a cena. Eu estou com a ReK TV, o Joe, sempre que pode, ajuda em beats e scratchs para as mixs.
GI Joe: Nós, com a Kimahera, procuramos sempre pessoal para lançar e com talento para ser apoiado.



Num tom mais de brincadeira, Kristo, as balanças continuam a fugir de ti?


Kristo: As balanças!? (risos) Agora comprei uma bicicleta daquelas para ter em casa e todos os dias trabalho o físico um bocadinho senão iria chegar ao descalabro. Mas essa dica foi mais no contexto em que eu estou a ficar gordo. Por isso, mesmo as balanças fogem de mim e os bons rappers estão todos a ficar gordos “é o que se diz por ai” (risos).



Como parece o estado do rap em geral?


Kristo: Eu penso que tem estado a evoluir bastante bem. Ainda não conseguiu atingir aquele patamar, como vês lá fora, mas tem evoluído muito bem. Tens artistas com temas em novelas e programas muito vistos, o que é muito bom. O rap está a chegar a um ponto muito positivo mas falta muito apoio.
GI Joe: Acho que o que ele estava a dizer de não estar num nível como lá fora, nunca vai estar. O HH já passou a fase do boom, essa fase já passou. Em minha opinião, o que vai acontecer agora é que isto vai passar a ser muito filtrado. Quem é bom é que fica, e isso, por um lado, é bom, porque haverá muita filtragem do que não vale a pena. Deixa-me com receio por não vir a haver mais apoio, que é o que o que é preciso.
Real Punch: Em Portugal, quantidade não é sinónimo de qualidade e isso comprova-se cada vez mais. Como o GI Joe estava a dizer, daqui para a frente vai ser mais filtrado. Quem é bom aparece e vai ser muito por aí. Nós vamos apostar em qualidade.



Palavras finais.


GI Joe: Queria agradecer termos conseguido fazer na música aquilo que queremos e, com isso, termos evoluído. Agradecer às pessoas que têm apoiado os nossos álbuns e vídeos, principalmente a Kimahera e mais recentemente a Footmovin. Ao público que não tem problema de vir ter connosco e dizer que gosta.
Kristo: Agradecer ao público que nos tem acompanhado e pedir que não tenham problemas nos concertos em ir para a frente e incentivar. Não fiquem lá atrás. Agradecer à Footmovin , à Kimahera, à Natascha que nos fez as t-shirts, pessoal da nossa terra que nos apoia sempre. O pessoal tem sido 5 estrelas para nós e nós retribuímos com espectáculos e nunca deixaremos de os dar e de sermos nós.
Kristo: Agradecer a atitude do pessoal em geral. Agradecer à Freestyle, o vosso trabalho tem sido importante. 




Por: Tiago Costa Rebelo

Fotos: Sónia Santos


FREESTYLE/2010


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