"Eu não me limito". Bastaria esta frase para mostrar que Tekilla quer sempre mais. Um MC da velha escola, mas inovador, empreendedor e muito comunicativo. Com o seu segundo álbum nas ruas e evolvido em vários projectos. Tekilla não deixa os seus créditos por mãos alheias.

Freestyle: Há quanto tempo fazes rap e qual foi o primeiro contacto?

Tekilla: Comecei em 95/96, mas a sério há uma década. Primeiro, estava numa cena embrionária, numa de absorção. O primeiro contacto foi quando o meu irmão voltou de França e trouxe-me CD’s de LL Cool J, Wu Tang, Bone Thugs and Harmony entre outros.



Fazes parte de um grupo de rappers que contribuíram para a evolução do movimento, principalmente com mixtapes. O que sentes em relação a isso?


As pessoas valorizam-me como artista nesse aspecto porque muitas delas também estavam nessa fase. Fizeram parte do mesmo processo de desenvolvimento que eu, que eram as mixtapes, que causaram um grande impacto, Shout out to Kronic, Bomberjack, Cruzfader. O DJ Cruzfader foi quem fez mais mixtapes, vendeu imensas, embora a mix nova dele ainda esteja para sair. Havia mais entusiasmo musical, coisa que se perde hoje em dia. 



Achas que fazem falta mais mixtapes para que se mostrem mais MC’s?


O DJ Cruz foi uma pessoa que se destacou nas mixtapes, que fundou a sua própria editora, a Encruzilhada, e integrou vários artistas. Eu fui um deles, o Kacetado e o Regula também, entre outros. Isso de repente parou, não sei porquê. Nos Estados Unidos é ao que se dá mais relevância. Artistas que vêm com as suas próprias mixtapes, que lá chamam de Street Albuns, isto é, eles fazem álbuns normais, com produtores e cenas originais e atiram para as ruas. O Regula sentiu falta disso, achou que era necessário, que estava a faltar qualquer cena tuga e que era preciso avançar. 



És consultor de moda, actor, MC e skatter. Uma mistura de actividades que, à primeira vista, pouco têm em comum. Existe para ti alguma ligação entre elas? 


Em primeiro lugar, em relação à moda, o pessoal gosta de se vestir bem e a imagem vende. Ao mesmo tempo tenho uma irmã que é manequim e como sempre gostei de me vestir bem e de estar sempre apresentável, e me movimento por vários meios, apresento-me consoante a ocasião. Embora muitas pessoas dentro e fora do rap não tenham essa noção, eu tento ajudar nesse aspecto, não só ao nível de patrocínios, mas também de conjugação indumentária. 

A nível de cinema, muitos dizem que tenho vocação para actor, porque estou à vontade com as câmaras e público. Eis a razão de também ser animador de festas, de estar na área da moda, de ser manager das marcas Kru, Supra e LRG, opinion maker…. 

A minha área é Gestão e Marketing, embora não tenha acabado o curso. Sou assinante de revistas, leio, sou uma pessoa informada. Não me limito. Se tenho vocação para várias áreas, sei comunicar, sinto-me à vontade com as câmaras e com o público, então é viável e benéfico para mim. 



Por falar em festas. Costumas ser MC, na verdadeira acepção da palavra.


A cena está em comunicar com o público. Não sabemos se é uma pessoa de 5 ou de 50 anos que vai estar no público. Tens de saber incentivar as pessoas, puxar pelo público. É triste ver rappers que não sabem dar concertos. Há uma frase minha em que digo: “um gajo já não dá concertos há alguns anos, um gajo só dá shows”. O público não quer ser só mero espectador, quer ser incentivado e quer interacção, quer sentir-se à vontade e em vez de se encostarem aos cantos ou ao pé do bar. É preciso puxar por eles e trazê-los para o meio da pista. Isso também ajuda os DJ’s, porque muitos não sabem ler o público, parece que estão a passar música para eles. 



Como artista, como é que vês a internet? 


Eu sou coleccionador de música. De vez em quando também faço os meus downloads, mas a minha ideia é: saco, ouço e se gosto, vou comprar. Devíamos reeducar as pessoas. Podem sacar, podem ter acesso, mas se gostam, comprem e apoiem os artistas. Eu como faço a minha música, eu pago os estúdios, não vejo o porquê de dar a minha música para a internet para receber uns props. Se for uma parceria, de onde possas ver um lucro que seja viável para ti, agora se não for viável, não vejo sentido. Para A Preview, por exemplo, fiz um snippet do álbum, 1 minuto de cada música e disponibilizei no meu Myspace. Eu não gosto de enganar ninguém e antes de as pessoas comprarem o álbum, podem ir lá ouvir, sentir as tracks e saber o que vão encontrar no álbum. 



Tekillogia saiu em 2004. Porquê estes 4/5 anos até este novo álbum?


Basicamente, a primeira razão foi pelo impacto que teve. Eu não estava à espera, fui surpreendido pela indústria com tanta adesão. Eu ouço muito Soul, R&B, Rap alternativo, underground e vim com uma cena diferente, que foi musicalidade, mais melodia, como no tema N.C.A. e acho que o pessoal sentiu uma liberdade de expressão musical. A partir daí, tive o convite do Kacetado para entrar em Madvision. O primeiro conceito de Madvision era o produtor Sam, o rapper Kacetado e o DJ Link. Depois eles sentiram necessidade de integrar outro rapper e outro DJ, o Kronic. A cena teve um bom buzz, chamaram-nos até o super grupo. Tenho pena que Madvision não tenha ido mais avante. Depois da Madvision, comecei a trabalhar no “A Preview”. Trabalhei também outro álbum, onde tenho participações de Nigga Poison, Cool Hipnoise, Virgul, Otis, entre outros… É um álbum com mais musicalidade, como o Sam diz. Está mais pessoal, com mais story telling…



A Preview tem um significado.


A Preview é uma expectativa de algo que ainda vai sair. Se o álbum está a atingir as expectativas do pessoal, então esperem pelo que vem a seguir…



…O Erro Perfeito?


Sem dúvida. O Erro Perfeito é outro álbum mais abrangente, com mais musicalidade, outro leque de artistas, diferente, mais maduro. Inicialmente queria lançar dentro de 6 meses, tenho música para dar e vender, mas a minha preocupação é como pôr a música cá fora. Se quiser lançar 2 CD’s todos os anos, posso lançar porque me sinto inspirado para isso e tenho vigor para isso. A questão está na viabilidade para os lançar. Quero um álbum com promoção, viabilidade, visibilidade, bons vídeos, boa qualidade. 



Em relação a editoras, sempre  aquela noção de que os artistas portugueses são sempre os mais prejudicados, em comparação com os estrangeiros.


O que as labels te dizem é: damos-te a fama e ficam com o dinheiro. Para A Preview, por exemplo, estive em negociações com várias labels, mas não deu certo. Eu já tinha pago o álbum, o Master já estava feito, eu só queria promoção, porque eles têm mais contactos, têm outra linguagem para com os media, mas não entrámos em acordo. Se eu fiz o meu álbum e paguei tudo, porque é que eles tinham de ficar com uma percentagem maior? Não sou um homem que fica minimamente à espera das oportunidades, eu crio oportunidades. Muita gente ainda tem mentalidade retrógrada e esses não se safam. Eu tenho outra meta, que é dentro de uns anos ser AR. Eu ando nas ruas, tenho noção da música, vou a espectáculos. Temos de dar oportunidades aos novos talentos e não andar focados nos que fizeram sucesso à 10 ou 20 anos atrás. As pessoas já não são influenciadas pelas mesmas coisas e já são outras faixas etárias que gerem e fazem girar esta indústria e muitas editoras ainda não se deram conta disso. 



 


Avançando agora para o teu álbum. No teu tema “Obra”, os rappers ficaram fofinhos?


Ya (risos). Eu digo “os rappers ficaram fofinhos, eu acho que viraram bolos” porque muitos rappers têm uma certa credibilidade mas não estão a cuspir o que as pessoas querem ouvir. O público gosta da música daquele artista, mas não sente que a música dele fale para eles. Eu sou egoísta. Eu faço música para mim, para eu gostar. Se o pessoal gosta, óptimo, porque vê que é algo com amor, com musicalidade, com melodia, mas também algo muito pessoal. O significado do tema “Obra” é que um gajo já não está a cuspir rimas nem a fazer só um tema, já estamos a fazer obras. Muitos rappers estão fofinhos porque eles não estão focados naquilo que as pessoas querem ouvir. Ainda há dias estava a falar com Nigga Poison e estavam-me a dizer: “nós somos do ghetto, a nossa finalidade é sair do ghetto. O people está farto de ouvir os mesmos temas, querem é ouvir outras cenas. Eu não posso estar a falar duma cena que eu vivo todos os dias, eu já tenho um álbum a falar disso.” Porquê? Não é só isso que tu vives, pois não? Tu não vais trabalhar? Não dormes com a tua lady? Não tens filhos? Então fala sobre isso, são temas. Quem é que chega e dita o que tu tens de fazer? Não há regras. Eu faço o que eu quero e mais nada e comunico com o público e dou-lhes o que eles querem ouvir.



No mesmo tema também dizes “eu quero é vender records”. Há uns anos atrás iam-te acusar de seres comercial e quereres vender...


Isso é contraditório, porque as pessoas são hipócritas até certo ponto. Uns não querem mostrar a cara, os outros dizem que em vez de vender estão a ser vendidos, mas tu sem guita não pagas contas e não comes. Eu quero vender records não é para me vender, é para, através da boa música que eu faço, as pessoas irem comprar. Através do meu trabalho eu tenho feedback e se as pessoas gostam, eu ganho. Querem ser underground e vêm dar despesa? Não podem dar despesa, façam vender. Underground é estares focado no teu conceito e não ires contra os teus princípios, manteres a tua ideologia. Eu sou assim e não vou deixar de ser para vender.



Achas que há hipocrisia no Hip Hop?


Sempre houve. A 1ª faixa do meu álbum tem o título de “HipHopcrisia parte II”. A parte I é o título erróneo de Tekillogia, que saiu na compilação da Kombate, com um beat do DJ Radical. No meu primeiro álbum fiz uma intro que é exactamente a cara de Portugal e ninguém tinha mostrado. Mostra que as pessoas quando estão contigo são só love, mas quando bazas é só inveja. Se és bom, não tens de vir dizer que és bom... deixa a tua música falar por ti. 



Como é para ti trabalhar com artistas de outros estilos musicais?


Óptimo. Eu não me limito a nível musical. Se aquela pessoa tem uma boa voz e tem algo que vai de acordo com os teus princípios e com a tua personalidade, porque não trabalhar com ela? Eu tenho “n” temas ainda para fazer com vários artistas. Quero trabalhar com a Teresa Salgueiro, quero trabalhar com a Mariza, entre outros e eu não vou entrar na onda deles, eu sou rapper. Trabalhei com Cool Hipnoise; com o Otis, saxofinista de Jazz que já entrou no primeiro álbum no tema “Por Amor” e entra neste novo, no tema “Sexo”; trabalhei com a Francisca da Orquestra Sinfónica da Gulbenkian, que também entra a pôr violino… Eu vejo a musicalidade, não me interessa o que as pessoas fazem.



Com este álbum já tens actuações marcadas. Tu gostas de actuar ao vivo?


Acho que é benéfico. A pessoa ouve os tracks em casa, mas depois ela quer ver-te. Ela diz “vamos ver se este gajo ao vivo é tão bom como está no álbum”. E tu vives numa prova constante, o pessoal exige sempre mais de ti. É uma coisa que eu gosto de fazer. É dar shows. É uma das formas que eu consigo comunicar com o público e ver o feedback deles.



Na tua perspectiva, para um artista no geral, é algo fundamental dar concertos?


Mais que fundamental, por 3 aspectos: a medida que és conotado como artista, tens de ter noção para que público interages e comunicas e tocas; amadurece-te não só como pessoa mas como artista; para além de amadureceres nesses aspectos, vais partir para o nível seguinte. Vais querer tocar noutros temas, vais querer comunicar de outra forma. Vais querer criar coisas diferentes num espectáculo, porque começas a habituar aquele núcleo de pessoas e não queres estar sempre a dar o mesmo, queres inovar. Portanto são 3 factores fundamentais que muitas das pessoas não levam em conta, mas deviam, cada vez mais. Há quem viva só de espectáculos, mesmo em majors, porque a percentagem de lucros que eles têm das vendas não é suficiente para sobreviver.



Como vês o estado do Hip Hop no geral.


Como um processo gradual, mas positivo. O rap tornou-se mais abrangente, há um número maior de pessoas a consumir. E hoje em dia as pessoas, para além de consumirem, já têm noção do que é que consomem, sabem distinguir o que é bom e o que é mau. Tens os writters, tens os bboys, os DJ’s e cada vez tens mais clubs a passar hip hop. E hoje em dia já não dizem rap é a aquela música para pretos, barulho. Não, já está mais diversificado. É preciso agora é as pessoas mais competentes nas áreas produzirem mais espectáculos e mais cenas. 



Quais as influências na tua música?


Há várias coisas que me influenciam. Acções, atitudes, entrevistas, diálogos, passeios, uma saída à noite, até pode ser uma queda de uma velha, a forma que a levou a cair (risos), etc. A nível de musicalidade, Reggae, Ragga, Dancehall, Rock, as vezes Metal. Eu gosto de melodia, boa melodia e também rap agressivo. 



Projectos para o futuro.


Para além de estar a gravar um EP, apenas com 7 músicas, 2 interludios e 1 intro - produzido pelo meu produtor alemão que é o SEB - vou entrar na mixtape do Xeg. Ainda me convidaram para uma mixtape canadiana, para uma mixtape francesa, acabei de gravar para o álbum do TT, tenho um som exclusivo para um produtor novo que é o Kosmiko que está a vir com uma óptima sonoridade, com bons beats, entre outros projectos. 



Palavras finais.


Obrigado a todos, obrigado ao Myspace, obrigado à Freestyle Magazine, aos meus patrocinadores, colaboradores, rádios, Rui Miguel Abreu, José Marino e “n” entidades por aí. One love to Gualter, LRG my niggaz, one Love to Pedro e Eduardo, pessoal da Supra e da Kru, one love to Condutor e Kalaf, real love 4 life, one love para o meu people do continente Africano… Angola têm mostrado bué amor e eu não sei quando é que consigo ir lá, mas provavelmente esse ano... basicamente, one love, a mensagem é love! O pessoal está muito focado em beefs e invejas… one love to site Hip Hop Hater (risos) esses niggas tão fats, há aí bué especulações sobre quem é o nigga… Eu tenho uma rima para o nigga do Hiphophater “niggas são fofinhos, mas fofinhos sempre foi o vosso sinónimo, vocês são como o hip hop hater, é bom que se mantenham anónimos” (risos).

Holla, Tekilla, A Preview nas stores, O Erro Perfeito coming soon




Por: Tiago Costa Rebelo

Fotos: Martim Borges


Freestyle/2009


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