Suarez é o cabecilha da Covil Produções e um dos nomes que mais se destaca quando se fala em Hip-Hop alentejano. Em 2009, são várias as novidades que o artista traz, entre as quais «Blue Note» - um álbum de rap acústico composto por novas versões de algumas das faixas do seu disco de estreia, «Visão de Um Estranho»


Freestyle: Dois anos depois de «Visão de Um Estranho», continuas à procura de um motivo?


Suarez: Claro! (risos)



Como surgiu a ideia de fazer um álbum de rap acústico?


Foi uma cena muito natural. Não procurei o conceito, eu fui encontrado pelo conceito. Sempre gostei de desafios, torna a vida entusiasmante e, quando estava a promover o disco «Visão de Um Estranho», surgiu uma série de espectáculos onde achei que o slam seria um transporte interessante para transmitir a mensagem. Dessa forma, coloquei mãos à obra e comecei a montar um espectáculo onde, inicialmente, a base musical seria suportada por uma guitarra acústica e um coro feminino de duas vozes. Infelizmente, o processo ficou a meio, ou seja, a vida mudou, as contas aumentaram e o dinheiro diminuiu. Fiquei com um esboço que mais tarde ouvi em tom de nostalgia (gravo todos os ensaios) e pareceu-me algo tão natural e real que decidi reconstruir alguns temas do «Visão de um Estranho» e gravar. Foi um desafio, enquanto produtor, pois entusiasmei-me com o facto de ter possibilidade de cozinhar tantos aromas distintos, sem regras. Apenas segui a génese acústica para conceptualizar e limitar (um pouco) este universo enorme que é a música. Nunca pensei fazer um disco.



A guitarra, o acordeão, o trompete, a percussão, o contrabaixo e o bandolim substituíram neste registo os habituais loops e samples que dão vida ao Hip-Hop. Não estranhaste rimar sobre instrumentos?


De forma alguma, o interessante nestes projectos é procurares os teus limites enquanto criador, criativo e executante. Existem temas que têm particularidades excitantes. Por exemplo, há um tema em que eu gravei primeiro o verso e só depois compus a música.



Quem foram as pessoas que te acompanharam nesta aventura musical? 


A pessoa que mais me acompanhou foi o Fábio Dias, pois foi com ele que compus as músicas. Imagina... Eu não percebo nada de música. Então, cantarolava as melodias e o ambiente que pretendia e ele reproduzia na guitarra e ainda enriquecia mais os temas. Como é óbvio, um grande músico. O Nuno Faria foi o homem que montou as bases de contrabaixo, um ser excepcional!!! O Eduardo Espinho fez alguns arranjos de vozes e bandolim, a Emília fez umas leads de trompete muito boas, o Zé é um génio, o João Garcia colocou o acordeão a chorar, as meninas, Dora, Lena e Luísa foram excelentes nos vocais, o Pass One mostrou como se risca num só take, o Pedro rebentou com a escala no «Sangue Novo», a equipa no Konpasso (estúdio) foi cinco estrelas. Enfim... foram todos excepcionais comigo! E sabes o que mais me deixa feliz com tudo isto? É que existiu uma partilha e um respeito mútuo de tal forma que o casamento de estilos foi perfeito. Deixa-me salientar que à excepção do Sr. Nuno Faria, são todos músicos amadores que tocam e se comportam como profissionais, ou seja, não fazem da música vida, mas vivem para a música. Todos eles são detentores de um talento incrível.



Num dos temas afirmas «Eu não sou rapper, não sou poeta, não sou escritor». Como é que defines o teu trabalho, então?


« (...) sou um gajo que escreve merdas consoante o seu humor (...)»

Eu gosto de música, adoro produzir e, quando digo produzir, não me refiro a fazer batidas, refiro-me à cena de pensar na estrutura do tema, nos recursos para a música, no conceito, na mensagem e cozinhar tudo isto sem restrições. Não consigo definir o que faço.



Em «Blue Note» consta a versão acústica de alguns temas do teu álbum de estreia. Achas que as letras seleccionadas são intemporais? Ou crês que correm o risco de já não serem interpretadas da mesma forma?


As letras são intemporais e este disco ensinou-me que, na música, consegues criar um ciclo do mesmo dia, ou seja, ao fazeres uma versão de um tema consolidado e que, por si só, já pode ter várias interpretações, sentes que aquele som (dia) podia ter sido como está na segunda versão, ou não. Quer dizer, andas no tempo e não perdes nada, a única diferença é que, por vezes, encontras um dia mais quente, chuvoso. Enfim, sem nunca perderes o sentido da história, crias ambientes e imagens diferentes. Acho que os temas jamais serão interpretados da mesma forma, pois uma música não é só a letra. Obviamente, vais ter sensações diferentes e acredito que até possam ter mais impacto. Mas tenho a certeza absoluta de que a mensagem, o seu teor, jamais serão interpretadas de forma diferente.



No teu irónico «Obrigado» dás a entender que foi das adversidades da vida que retiraste a tua força. É nestas adversidades que inspiras a tua música?


Eu inspiro-me em tudo! Neste momento estou a ouvir a máquina de lavar, estou a ouvir as sapatilhas a bater no tambor da máquina e está-me a apetecer samplar essa dica... parece mesmo uma cena industrial (risos). Percebes? Eu inspiro-me naquilo que a vida me dá... E a vida também não traz adversidades?



Pensas que a geração actual vive da «Poligamia de Bens»? 


Se te referes ao consumismo, acho que cada vez somos mais consumistas, mas temos menos dinheiro para o ser, a nossa geração sofre de um enorme síndrome. Muito tempo para descansar, pouco tempo para trabalhar. Quando começarmos a perceber na pele o que custa a vida teremos de mudar de estilo e arregaçar as mangas. Existe um aumento (€) nos bens essenciais que já não são de fácil acesso e o Estado está passivo relativamente a essa situação. Mas como sofre do mesmo síndrome que o seu povo, só quando os motins, semelhantes ao resto da Europa, nomeadamente França, surgirem é que as medidas serão tomadas. O tuga curte é sol e cerveja gelada. O resto vem por acréscimo.




Achas que o nosso país precisa de «Sangue Novo»? 

Em todos os sectores.



Actualmente vives em Lisboa. Terás mais facilidade em promover o teu trabalho a partir da capital?


As cenas continuam a ir pelo correio (risos). Só terei realmente facilidades quando baixar as calças.

A nível criativo e de recursos para produzir e conhecer outras pessoas da área... Muito bom!



O que podemos esperar das apresentações ao vivo de «Blue Note»?


É uma incógnita. Vou ser demasiado severo: é um disco que exige uma estrutura muito dispendiosa para colocar ao vivo. Tenho óptimas ideias para o vivo, mas tenho de, antes de mais, ter garantias do bem-estar dos músicos e de toda a equipa. Caso contrário, não há «Blue Note» ao vivo, com muita pena minha.



O papel do Covil tem sido extremamente importante no panorama do Hip-Hop alentejano. Quem são as raposas actualmente no activo?


Estão todos no activo. Percebo que queiras nomes para perceber quem são, mas dentro de alguns meses «a casa vai estar arrumada» e a malta vai perceber o conceito e os intervenientes do Covil. Só peço a todos que vão passando no MySpace do Covil e, futuramente, noutras estruturas que estão a ser criadas.



Em 2007 referiste que estava para breve o lançamento do segundo volume da colectânea «AlémDoTejo». O que é que se passou entretanto?


Antes de mais, quero salientar que é muito importante existir essa pressão do... «Então disseste que estava quase e agora?» (risos), prova que a comunicação social e tu, particularmente, escutam aquilo que nós dizemos. Mas, respondendo à tua questão, «AlémDotejo» é um projecto que serve única e exclusivamente para impulsionar novos talentos da zona, sendo os mentores deste projecto o Guly e eu. Entretanto, o Guly afastou-se e eu assumi o comando, o que trouxe baixas. Por isso, o segundo volume não está para breve. Mas, por outro lado, o ano de 2010 vai ser muito positivo para o Covil, pois existe muito trabalho no forno.



Até ao fim do ano vão sair cinco «Lost Tapes,,,». Podes adiantar pormenores?


(Risos) Vão sair muitas surpresas. No mês de Setembro, no segundo volume da Lost Tape, demos a conhecer uma nova (velha) raposa. No mês de Outubro também vai sair um EP, do Asma, com selo do Covil. Não revelo mais nada, mantenham-se apenas atentos às movimentações das raposas.

O Covil tem o objectivo de deixar de ser «extremamente importante no panorama do Hip-Hop alentejano» e, isso sim, ser extremamente importante no panorama do Hip-Hop. Vamos criar muita actividade no movimento. Nós estamos a desenvolver a estrutura mais correcta, consoante as nossas necessidades e objectivos para diferentes projectos e estamos quase a terminar a receita.




Por: Daniela Ribeiro

Fotos: Gentilmente cedidas pelo artista


FREESTYLE/2009


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