Stereossauro, aka DJ Ovelha Negra, membro dos BeatBombers e criador das mixtapes "Até Borras-te", disponibilizou-se a falar com a Freestyle sobre produção, dos seus pojectos actuais e do seu futuro

FREESTYLE: Como te descreves musicalmente?

Stereossauro: Procuro grooves e balanços, sempre muito influenciado pela música negra, é isto que tenho tentado transmitir nos meus trabalhos. 



Como e quando é que começaste a produzir?


Por volta de 2000/2001, quando comecei a trabalhar a tempo inteiro e juntei guita para um computador, o software era o Acid, cheguei a experimentar umas cenas com outros programas, mas eram todos uma beca complicados, prefiro programas mais simples, também curti bué no Fruity Loops. Agora é só o Ableton Live. 



Quais são os teus meios de produção e o que estás a pensar adquirir brevemente?


Computador, gira discos e mesa de mistura, pads e teclado midi, um mic minimamente decente e umas precursões, é quase tudo material em segunda mão, o guito é muito mas muito curto, o que eu precisava agora era umas colunas decentes, mas acho que vou ter de comprar um berço em vez disso, vou ser pai em Agosto. As prioridades mudam. 

Software vs. Hardware? Ou ambos?


Gosto dos dois, tens boas coisas nos dois campos, o software está a resolver problemas de espaço, economia e cada vez tem mais qualidade sonora, o hardware em termos de interface e resposta costuma ser sempre melhor, mas não está ao alcance do bolso comum.

Por exemplo no scratch, nada como um disco a sério, mas com um controlador digital posso scratchar cenas de Hip-Hop Tuga que, regra geral, só existem em CD ou mp3, portanto os dois formatos são bons, cada um com as suas vantagens, depende apenas dos resultados que procuras obter e do teu orçamento. Eu pessoalmente estou bastante virado para software e controladores midi, são mais baratos e versáteis, podes configurá-los como bem entenderes, não ficas limitado ao que engenheiros e designers projectaram para o instrumento, fazes tu o instrumento à tua "medida". 



Fazes digging de vinil, mas samplas também de CDs, internet, etc?


Sim claro. Os discos velhos são um vício incontornável, adoro o objecto e são a fonte dos samples instrumentais que uso. Já as vozes, procuro em todo o lado na rádio, em CDs, em DVDs, etc. ... Ultimamente faço questão de só usar vozes em português e isso obriga-me a procurar samples noutros formatos que não o vinil. Tenho várias vozes portuguesas em vinil, mas só até aos anos oitenta, daí para a frente só em CD, em VHS e em DVD. 



Costumas samplar algum género específico ou década?


Tenho algum método na escolha dos discos, quando compro cenas que não conheço e que não posso ouvir no local, geralmente vejo o tipo de instrumentos utilizados, os nomes dos músicos, se têm uma capa freak, a label, esse tipo de informação pode ajudar. O feeling do disco também conta, há discos que olhas para eles e sabes logo que vais encontrar cenas boas. Não gosto de generalizar mas a música dos anos 60 e 70 costuma ter as melhores surpresas, talvez tenham sido épocas com mais experimentação e os próprios estilos musicais não eram tão formatados, mas também há muito boa música a ser feita agora, venha o futuro.  

Nos últimos dois anos tenho-me dedicado mais especificamente a samplar música portuguesa por causa das mixtapes "Até Borras-te" e tenho encontrado bons samples em diversos sítios, tanto clássicos em vinil como filmes infantis em DVD. 



Qual o disco Português que não tens mas que gostarias de ter? 


É um disco que ainda não existe, uma colectânea só de acapelas de Hip-Hop Tuga, isso era altamente! Com os raps clássicos dos MCs de topo. Ia ser muito útil a todo o tipo de DJs e promovia os MCs. 



Já tens lançado algumas mixtapes de download gratuito, que, verdade seja dita, implicaram um trabalho impressionante de produção/corte-&-costura... “Até borras-te” fazendo uma vénia Hip-Hop nacional e “Até borras-te, vol. 2” num tom mais abrangente... Explica-nos o porquê destas mixes apenas com música Portuguesa?


Fiz as mixtapes porque era música que eu queria ouvir e ainda não existia. Comecei por fazer uma mix só de Hip-Hop Tuga e durante o processo percebi que podia explorar esse conceito de maneiras diferentes. Abracei a ideia e fiz o volume dois, com samples de variadas vertentes da nossa música misturados sobre influências Dub. Estou de momento a trabalhar no terceiro, mas ainda numa fase de experimentação. Esta maneira de fazer mixtapes dá muito trabalho e leva muito tempo, muitas horas à procura de sons que casem bem uns com os outros e que exprimam o que quero dizer, mas o trabalho não me assusta, assusta-me é não poder fazer música. O facto de os samples serem portugueses torna-os facilmente reconhecíveis, o que à partida inviabiliza logo a comercialização destes trabalhos, mas isso não me importa, vou continuar a fazê-las e a pôr na Net para download gratuito, mas também por outro lado, como as pessoas reconhecem os samples percebem melhor o que foi feito com eles. Fico também com a sensação de missão cumprida, estou a relembrar às pessoas que a nossa cultura tem cenas boas, já me disseram isto algumas vezes. Apesar de não ganhar dinheiro directamente com as mixtapes, estas abriram-me muitas portas e deram-me oportunidades muito boas. Se não as tivesse feito provavelmente não me estavas a entrevistar... 


O que podemos esperar num terceiro volume?

Scratch com samples tugas, remisturas, mashups, mas não quero revelar já o jogo. Vão ter de esperar pela mixtape. 


Tens alguma fórmula quando começas a produzir algo?

Tanto começo por samplar qualquer coisa e depois experimento esse sample, como vou para o estúdio já com uma ideia mais definida do que quero fazer, tem dias, vou um bocado ao sabor do vento. 

Ultimamente o que tens ouvido?

Umas colectâneas de Soul, o Kara Davis vol.2, cenas de Reagge Roots, música africana, etc. ... 



Qual é o teu TOP-3 de instrumentais de sempre?


Sei lá, cenas do Jay Dilla, DJ Shadow, Prefuse 73, aborrece-me estar a tentar lembrar-me dos nomes das músicas. 



Foste referido pelo DJ Ride como uma das suas maiores influências. Do teu ponto de vista como achas que o influenciaste?


Nós já nos conhecemos há algum tempo e discutimos ideias, ele mostra-me as cenas que está a produzir e um gajo manda sempre umas dicas, vice-versa, ao início mostrei-lhe alguns discos aos quais ele não prestou muita atenção, mas isso já tens de lhe perguntar a ele. 



Que material usas nas tuas actuações ao vivo?


Nos concertos com o DJ Ride uso um gira-discos, uma mesa de mistura, pads midi, um laptop e um pedal de delay. 

Aproveito para agradecer ao Ride, porque se não fosse ele eu praticamente não tocava ao vivo. Ele é que trata das cenas todas, granda boss! 



Lançaste pela Optimus Discos um EP de download gratuito intitulado ”FARPHISAS ON FIRE”. Fala-nos um pouco deste trabalho e de como surgiu o convite?


Esse EP surgiu com um convite do Henrique Amaro na sequência de ter ouvido as mixtapes, "Até Borras-te" e foi uma espécie de desafio, pois eu tive muito pouco tempo para o fazer e não estava nos meus planos na altura fazer um EP, mas não se recusam essas oportunidades, aproveitei um beat que já tinha, fiz mais alguns, convidei o Ride, o Espectrocliché e o Skilaz dos MDC para darem uma ajuda e com algumas horas de sono a menos, o EP foi ganhando forma. Este desafio em contra-relógio foi muito bom e para além de divulgar o meu trabalho, serviu também para eu me testar, porque normalmente não tenho prazos para acabar as músicas. Foi quase como quando tocas ao vivo e não te podes enganar, tem de sair tudo à primeira. 



Com quem tens trabalhado ultimamente e o que poderemos esperar de ti futuramente?


Com o Ride, estou sempre a bulir em várias coisas, tenho mandado uns beats para o Sagas, outros para o Espectrocliché. Fiz uma remix para os Kunpania Algazarra, que é capaz de sair entretanto. Num futuro mais próximo vou lançar o volume 3 do "Até Borras-te" e um disco de samples tugas que estou a fazer com o Ride que se vai chamar "TugaBreaks", esse disco vai ser mais virado para as battles de DJ e vai ter beats poderosos do Ride, frases e dicas maradas para scratch compiladas por mim. Temos feito algumas actuações ao vivo para promover o último disco do Ride “Psycadelic Sound Waves”, que desde já convido toda a gente a ir ver, estamos com um som cada vez mais forte e sempre a manipular máquinas do início ao fim do concerto, batidas feitas no momento à frente do público, muito scratch, bass synths, já sabes como é, BeatBombers style! 



Queres dar umas palavras finais para os leitores?


Vou citar o Boss AC "Hip-Hop sou eu e és tu!" 




Por: X-ACTO 

Foto: Edgar Libório


FREESTYLE/2010 

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