South Side Connection é uma crew de breakdance que aperta o Atlântico num abraço Brasil/Portugal. Apesar da aliança recente, intensifica-se a vontade de crescer com expectativas alargadas às mais altas competições.


Freestyle - Primeiro queria pedir-vos uma pequena apresentação individual


Surprise – Eu sou do Brasil, de S. José do Rio Preto (S. Paulo), e foi lá que comecei a dançar, com 16 anos, numa crew chamada T Unit Crew. Os b-boys Pelezinho e Rika foram meus professores mas lá era diferente, não havia competições como aqui, era só na rua. O meu início em campeonatos foi aqui na Europa, quando vim para cá e me juntei a um grupo chamado Formula Armada, no qual estive 2 anos. Depois aconteceu um estrilho, separamo-nos e agora nasceu a South Side Connection.

X2Rock – Eu comecei a dançar em Espanha, mais ou menos em Maio de 2005, em Badajoz onde morei durante 4 anos. Foi lá que tomei o primeiro contacto com o b-boying. Estava a passar na rua e vi uma cypher de b-boys. No princípio o que mais me atraiu foram os moves que eles faziam e quis logo aprender a todo custo. Comecei a ver vídeos na net e a tentar sozinho, até que conheci dois b-boys principiantes de um bairro de Badajoz, comecei a treinar com eles e fizemos a Vagus Crew, a minha primeira crew. Passado algum tempo eles desistiram e eu fui ter com os b-boys do centro de Badajoz com os quais pude aprender mais básicos essenciais do b-boying. Quando regressei a Portugal, em Setembro de 2006, não conhecia ninguém com quem treinar, até que um dia, numa jam que houve na Fundição de Oeiras (Festival de Hip-Hop de Oeiras), conheci o Surprise e restantes elementos de Formula Armada. Entrei para a crew e a partir daí o percurso foi o mesmo do Surprise. Nós conseguimos levar o nome de Formula Armada a competição, porque éramos basicamente nós os dois que saíamos a competir em Portugal. Actualmente estamos com South Side e treinamos com o mais alto nível de Portugal: os 12 Makakos.

KashoPa - Eu comecei em 2004 com o grupo Block Party Crew de Cascavel Paraná. É o grupo de essência de um dos b-boys mais famosos do Brasil, que é o b-boy Neguin, uma grande influência minha e grande inspiração. Com 2 anos de treino, em 2006, fomos a um campeonato em S. Paulo e conseguimos ficar no 3º lugar (crews). Em final de 2007 vim para Portugal, com outros intuitos sem ser a dança, mas acabei também por encontrar aqui muitas influências e vi que o nível do break é muito mais avançado do que no Brasil. A minha paixão pelo break cresceu e agora reunimos a South Side Connection que é um grupo forte em Lisboa e esperamos poder levar o nome da crew muito mais alto.



Porquê South Side Connection?


X2Rock – Nós temos vários contactos no Brasil, de b-boys que inclusive já vieram participar connosco em edições da Eurobattle, então decidimos estender a crew também ao Brasil. Eles estão no Brasil, nós estamos em Portugal mas ambos representamos o mesmo nome South Side. O nome faz sentido porque acabamos todos por ser do lado sul, seja de um continente como a América ou do lado sul da Europa e porque constituímos uma conexão de b-boys.



Quem são esses b-boys do Brasil?


X2Rock – B-boy Rika e b-boy Tiko, ambos de S. Paulo.



Há mais um nome, feminino, que também está convosco regularmente.


X2Rock -  Sim a Maria começou a interessar-se há pouco tempo pelo break e começou a treinar mais connosco. Além disso ela tem espaços para os b-boys e arranja-nos muitos trabalhos. Acaba por ser aquela situação de que tu não tens de estar muito evoluído para pertencer a uma crew, tem é de haver uma certa simpatia e um certo convívio entre os elementos, ter outras coisas em comum, assim como numa família.



Falem-nos das vossas participações na Eurobattle. Quem tem participado convosco e como tem corrido?


Surprise – Em 2008 participámos com o b-boy Pelezinho e esse ano correu mesmo muito bem. No segundo ano trouxemos mais gente, além do Pelezinho vieram também os b-boys Rika e Tiko. 

X2Rock – Em 2008 participámos ainda como Formula Armada. À competição fui eu, o Surprise, o Osvaldo o Pedrolic e Pelezinho. Fomos das equipas portuguesas que chegaram mais longe, até nos depararmos com os gigantes da B-boy World Team. Em 2009 não correu tão bem porque nós temos ainda pouco tempo como grupo. Eu e o Surprise estamos muito habituados a dançar juntos mas com o resto dos elementos foi a primeira vez e, desta forma, treinámos muito pouco. Mesmo assim no primeiro dia fomos das poucas equipas portuguesas a passar os filtros. 



Quem vos eliminou este ano?


X2Rock - Os Speedy Angels, da Venezuela.



Pretendem estreitar essa conexão Portugal / Brasil?


Surprise – Sim e o próximo encontro já está em andamento. Nós temos um campeonato em Setembro no Brasil, estamos só à espera de uma resposta para apoio das viagens.

X2Rock - Temos o convite para uma Dream Team de Lisboa e para mais eventos também, estamos só à espera que alguém daqui da área da juventude apoie algumas actividades que não sejam aquelas típicas. E é estranho porque no Brasil consegue-se apoio, eles conseguiram vir cá com patrocínio da câmara, mas em Portugal é difícil!



Têm outros campeonatos em vista?


Surprise – Estamos também a pensar ir à Holanda, a um campeonato chamado The Notorious IBE 2009. É por selecções, mas também há muitas rodas e queremos aproveitar para estabelecer contacto com outros b-boys.

X2Rock - É mais para estarmos em contacto com o centro do b-boying porque estão lá milhares de b-boys, é enorme. Acaba por ser uma experiência única. Eu já fui ver o UK B-boys Championship 2006 em Londres e não tem nada a ver com a nossa realidade, a aceitação ao b-boying é muito maior e os apoios, por conseguinte, também.

KashoPa Em Fevereiro do ano que vem também estou a pensar ir ao Duelo de Titãs que é um campeonato individual onde pretendo ir representar South Side Connection, no Brasil. 



Quais os países onde já dançaram? 


X2Rock – Eu e o Surprise já fomos ao Top30, em Espanha. Eu já estive a dançar em Edimburgo (Escócia) e também em Inglaterra. 

KashoPa – Eu dancei só no Brasil e Portugal mas pretendo fazer muitas viagens ainda. 

Surprise – Mas aqui em Portugal já percorremos muitos sítios, também com Makongo. Já dançámos em muitos palcos e muitos ambientes de norte a sul.



Pois, enquanto Formula Armada, a crew oficial de Makongo. Gostavam de dançar para Makongo? É um estilo um bocado diferente.


X2Rock – Nós gostávamos, só que realmente o grupo tem um estilo de música que não se adequa muito ao b-boying. É mais kuduro, não é que deprecie o trabalho deles, eles fazem um bom trabalho, mas estávamos a tentar juntar uma coisa que não é muito compatível. Era um break mais mexido, um break mais rebolado.



O que fazem além da dança?


Surprise - Eu estudo, estou a tirar um curso.

X2Rock - Eu estou a dar aulas de break em centros educativos e estou a estudar engenharia no ISEL. 

KashoPa - Eu trabalho num restaurante italiano no Estoril. Sou pizzaiolo.

X2Rock – Ele faz grandes calzones de camarão, têm de ir lá experimentar (risos)



    

 


Praticam outras vertentes?


Surprise – Já experimentei DJ e graff mas o meu forte é mesmo a dança. 

X2Rock – Eu antes de me interessar pelo break ainda pintei mais ou menos durante dois anos, assinava Star2. Só que na altura era mais novo e não tinha muito dinheiro para as latas, então foi algo que não levei muito a sério. Quer dizer, cheguei a ser apanhado pela polícia portanto chegou a ser sério (risos) … e cheguei a fazer um train. Hoje ainda pinto, mas só no papel, aqui em Portugal talvez tente fazer alguma coisa um dia.

KashoPa – Somente a dança

 


E outros estilos?


Surprise – Eu sei praticamente um pouco de tudo, rockpopnewstyle, mas mais b-boying

X2Rock – Nós temos contacto com vários estilos e acabamos por fazer uns toques disto, uns toques daquilo, mas dançar mesmo é só b-boying.

KashoPa – Eu brinco muito com popping, gosto, mas não me identifico muito. Outras danças, pratiquei capoeira desde os oito anos no Brasil, e daí vem a minha influência.



Onde treinam habitualmente?


Surprise – Agora neste tempo de férias foi mais na rua e na praia. 

X2Rock – Também já treinámos num ginásio do ISEL mas agora não. Normalmente é no Clube Jean Piaget, em Chelas, na Zona J. É mais por Lisboa que costumamos treinar, na rua nem tanto, agora nas férias foi excepção.



Há rivalidade entre b-boys ou costumam reunir crews?


X2Rock – Já houve mais rivalidade dentro de Lisboa, agora estamos mais unidos e os nossos treinos no Jean Piaget normalmente são em conjunto com os 12 Makakos com os quais podemos partilhar experiências e ideias, o que acaba por ser positivo para todos.



Fazendo uma auto-avaliação, em que nível se encontram actualmente?


X2Rock – Em termos de Portugal nós temos um bom nível, apesar de sermos poucos, não temos um grupo muito grande, mas acabamos por ser competitivos.

Surprise – Nós também não treinamos todos os dias, não dançamos profissionalmente, temos de fazer outras coisas... 

X2Rock – Pois, se tivéssemos apoios como a Coreia tem para poder treinar 8 horas por dia… 

KashoPa – e se tivéssemos um espaço bom para evitar lesões, nós podíamos levar o nome de Portugal muito mais além do que já está.



E o que procuram melhorar?


X2Rock – Estamos a melhorar tudo. Mas apostamos muito no estilo de cada um, não é apenas chegar e despejar uma série de moves. Cada um preocupa-se em ter a sua marca original. Fazer o que toda a gente faz é muito fácil, quer dizer, basta treinar para isso.  



Como definem essa individualização?


Surprise – Numa palavra? Talvez malabarista. Sequências, mistura de saltos e powers.

X2Rock – Fluid ninja style sliding and rockin

KashPa – E o meu estilo é o quê? Stylefreestyle?

X2Rock – O teu estilo é caracóis! (risos) Uma mistura de brazilian flavor com bases old school novaiorquinas, ao que muitos chamariam foundation.



Se calhar convem explicar o que é Foundation...


X2Rock - foundation são os fundamentos do break, os three stepsix step, muito footwork. Também há quem defina foundation como uma atitude, porque hoje em dia está muito na moda dizer que se é foundation, então põem aqueles caps assim para cima, os caps da mesma cor que os ténis e têm aquelas letras “b-boy or die”... isso é o estilo foundation que vem do old school e as pessoas começaram a imitar o modo como se dançava na velha escola. Ao mesmo tempo há quem o considere um estado de espírito, enfim… eu chamar-lhe-ia uma moda como houve a trickers e haverá outras certamente.



Uma boa recordação que tenham no vosso percurso?


Surprise – Para mim foi o Let’s Battle que ganhámos aqui em Cacilhas este ano.

X2Rock – Eu gostei bastante de estar a batalhar contra B-boy World Team, na Eurobattle em 2008. Estar em palco contra supostamente os melhores, porque aquilo é uma selecção de um dos países que representa melhor o b-boying, que são os Estados Unidos. B-boy World Team é uma selecção das estrelas dos Estados Unidos, portanto é mesmo o topo. Depois gostei da jam de aniversário dos 12 Makakos, também em 2008, no Tuatara. Gostei muito do ambiente, foi a primeira vez que vi um ambiente desses cá em Portugal, em Lisboa. Foi diferente.

KashoPa – Eu estou a gostar muito de estar cá, está a ser uma mais valia para o meu percurso, conheci pessoal bacano com o qual consegui desenvolver muito a minha dança, evoluí e conheci uma nova cultura. É pena que esteja a fazer planos para voltar ao Brasil, mas vamos continuar juntos na South Side e manter contacto. 



O que é preciso para ser um bom b-boy?


Surprise – Muito treino e muita influência porque também treinar sozinho não dá tanta evolução.

X2Rock – Eu concordo com ele. Temos de ter muito treino e ter gente a treinar connosco que saiba a técnica, porque tu não consegues evoluir no break se não souberes a técnica. Podes evoluir muito o teu freestyle mas tens de ter técnica para fazer power moves, para fazer freezes. Um pequeno jeito na perna, um pequeno jeito no braço, faz toda a diferença. Tem de haver alguém que saiba técnica, porque tu demoras seis meses a evoluir sozinho, mas com uma pessoa que tenha técnica podes demorar um mês. Entendes? Ganha-se tempo. Don´t sweat the technique!

KashoPa – Muita gente pensa que o break é só dança mas vem também a ser um desporto muito forte porque exige muita pratica. 

X2Rock – É verdade e nós mantemos a forma com o break. É raro veres um b-boy gordo, não precisamos de ginásios nem de outras coisas. Mas precisamos de um grande reforço muscular porque o corpo não foi feito para andar sobre os braços, foi feito para andar sobre as pernas. Estamos a contrariar uma lei da natureza.

KashoPa – Brincamos com a gravidade!



Palavras finais


Surprise – A dança tirou-nos da rua. A dança fez mesmo uma reformulação da minha vida, daquilo que eu era para aquilo que eu sou. Abraço para os meus pais, para todos os b-boys e para quem aprecia o break. Paz!
X2Rock – Fazemos hip-hop, queremos hip-hop. Paz para todos e props para todos os b-boys, em especial para Transformers Crew (Espanha) e 12 Makakos (Portugal)

KashoPa - Paz e união para todos os que representam o hip-hop!




Por: Sofia Meireles

Fotos: Martim Borges


FREESTYLE/2009

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