Sam The Kid fala à Freestyle sobre o seu percurso na produção

Freestyle: Quando começou a tua fase de produção? Em que altura?


Sam The Kid: Tanto quanto me lembro, foi em 1995. As primeiras filmagens do grupo oficial nasty são de 96 e recordo-me de ter sido um bocadinho antes que comecei a fazer batidas com um teclado e uma caixa de ritmos da boss. Por isso, há-de ser por essa altura.


O que te atraiu?

Não é o que me atraiu, a produção foi uma necessidade para pôr as minhas rimas em prática. Em primeiro lugar, sempre me considerei rapper, por isso precisava de músicas para poder rimar. No princípio, achava-me distante das músicas que ouvia. A música ainda tinha uma certa magia porque não lhe sabia os truques. Depois de os saber, a música resulta de outra forma. No início, era apenas uma caixa de ritmos que tinha sons, não era um sampler. Nesse tempo, tinha uma caixa de ritmos e um teclado que um amigo me emprestou. Os teclados foram sempre emprestados e, de forma muito artesanal, ligava uma «banana» para o teclado e outra para a caixa. Nas cassetes que gravei, ouves a melodia de um lado e a bateria do outro. Tenho tudo guardado desde os primeiros tempos. 


No tema «Quantidades», com o Beto, dizes « (…) conto quatro elementos quando sinto que há um quinto… produção!» No teu entender a produção é uma nova vertente do Hip-Hop?

Não. Se tivéssemos de estender as vertentes, a seguir à quarta vinha a produção, depois o beat box, e até podia falar na roupa (apesar de eu não ligar a isso), a linguagem e a maneira de falar. Mas, a meu ver, já não são tão importantes. Contudo, tenho ideia de que a produção está inserida na vertente do d.j. porque antigamente eram eles que faziam os beats. Actualmente, a produção tem cada vez mais importância. Antes, os produtores passavam mais despercebidos e agora é o contrário: tens o caso do Timbaland, do Pharrell que já são estrelas e produzem para outros géneros musicais. O que se perdeu foi a identidade que havia nos grupos. Hoje, todos têm o mesmo tipo de som. É normal, uns vão a favor da corrente e outros vão contra.


És mais a favor ou contra a corrente?

Sou as duas coisas. Posso brincar. Não gosto muito das cenas sintetizadas sem alma. Como a minha referência do hip-hop são samples, gosto dos elementos orgânicos. Posso dizer que, antigamente, a maior parte dos meus beats era feita entre 90 e 100 bpm´s. Agora, como uso bpm´s mais lentos, fico mais a favor da corrente. Mas não deixo de fazer com o meu estilo, usando vozes, etc …


Qual é o material que usas?

Mpc. Neste momento, tenho duas: uma Mpc 2000XL e uma Mpc 2500, que a Akai me ofereceu. Por acaso nunca comprei nenhuma, houve sempre pessoas que me ofereciam, ou porque não sabiam mexer ou porque eu lhes fazia beats e depois me davam.


Fuck PC?

Foi mais numa de defender a máquina que uso. Também disse, nesse som, que não interessa o que tens, importa é o que fazes. Tens o exemplo do 9th Wonder que faz sons no fruity loops e muita gente não queria acreditar.
Eu prefiro a sensibilidade que tens no Mpc, é muito mais imediato. No computador estás a ver a música e aqui posso sentir o instrumento enquanto toco ao vivo; posso dar show off.


Sentes-te maestro da tua orquestra?

Com certeza. Porque todos os instrumentos possíveis estão aqui.


Qual é o teu processo criativo e de inspiração?

Depende. Agora tenho estado, constantemente, a fazer beats. Apesar da internet, mesmo benéfica, me consumir muito tempo.


A tecnologia neste teu mundo é muito importante…

Sim, mas eu nunca fui muito de computador. Só recentemente aderi, o que me permite fazer downloads de drumkits e sound effects muito rapidamente.


Onde é que vais buscar os samples?

Não há limites, até do youtube saco cenas.



Achas que ouvires produtores estrangeiros te vai fazer ser um seguidor do género de produção que eles estão a fazer?

Claro que sim. Mas…  


… Ouves coisas de fora ou preferes não ouvir para não seres influenciado?

Mas eu quero ser influenciado. Eu tinha um amigo, o Furão, que fez alguns beats para o Regula e para o Tekilla e ouvia música, não especialmente hip-hop. Tudo o que ouvimos nos inspira. Às vezes, a posteriori é que podemos fazer comparações, como este beat está parecido com aquele. Acontece-me muitas vezes conseguir associar os sons mesmo quando estou a ver televisão, como sucedeu com «I´m yours» do Jason Mraz e o «Bicho» do Iran Costa. Mas claro que são coincidências: Jason Mraz não conhece o Iran Costa. Uma coisa é plagiar, outra são sons parecidos.


Quais são os teus produtores estrangeiros preferidos?

D.j. Premier, J-Dilla, Rza, Hi-Tek, Madlib, Pete Rock e Alchemist.


E Portugueses? 

New max, Kronic, Skunk, Coca, Xeg


Para finalizar quando podemos esperar novo albun de instrumentais?

O beats vol2 sai este ano e outro projecto instrumental que eu estou envolvido que se chama "orelha negra" também.



Por: Cátia Viegas
Foto: AKAI Portugal


Freestyle/2009

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