Pontos em comum


A partir desta edição da Freestyle, é com agrado que me junto à equipa para desempenhar as funções de editor de banda desenhada, a fazer aquilo que mais gosto e com que mais me identifico: o argumento. Apesar de ser essencialmente esse o meu universo, aliado à ilustração, ao cartoon e à criação de narrativas, o apreço pelo hip hop é algo que me acompanha desde sempre. Na verdade, e se formos ver bem, este tem com a BD muitos pontos em comum: todo o carácter visual associado, o facto de ser ou ter sido considerada por muitos como uma forma de expressão marginal e censurável e, acima de tudo, um veículo de uma mensagem. Não é por acaso que eu, ao ouvir qualquer música rap, privilegio muito mais a letra, aquilo que é dito e como é dito, em oposição ao beat e demais artifícios musicais. Isto embora reconheça que o ideal será uma feliz confluência entre os dois elementos, é apenas a forma como sinto a sonoridade da coisa.


Nos últimos tempos, entre estes dois universos, vi desaparecerem tragicamente autores que admirava e estimava, isto embora não os conhecesse pessoalmente. Estou a falar dos rappers Snake OG e Raptor e também do cartoonista brasileiro Glauco. Em todos eles os contornos do perecimento foram distintos, desde o assassinato às causas naturais, mas em mim o impacto foi o mesmo: o mais profundo pesar por ver partir artistas que eu respeitava e respeito, a quem reconhecia enorme potencial e de quem foi difícil aceitar que nunca mais veria nada da sua arte. Neste âmbito, os últimos tempos trouxeram-me bastante tristeza, e serviram para que eu percebesse o quanto aquilo que faz parte da minha vida tem influência no que eu faço, e onde escolho ir buscar inspiração.


O rap, para mim, não é o que vemos ou já vimos nos “Morangos com Açúcar”. Considero a dança hip hop leccionada nos ginásios uma enorme aberração, uma invenção do hype parida na corrente das modas e da contemporaneidade. É muito mais do que isso, é algo que não causa embaraço às suas raizes, às motivações que lhe deram origem.


A BD, para mim, não se resume ao Pato Donald ou ao Homem-aranha. É um mundo suficientemente abrangente para ser explorado, com muitos e bons autores nacionais que cada vez mais, para sentirem que têm uma carreira na área, vêem-se forçados a trabalhar para fora. A 9ª arte é algo que acompanha o Homem desde os primórdios da espécie e por isso não é merecedora do rótulo ignorante de estilo menor e infantil.


A minha intenção é aproximar estas duas realidades. Numa primeira fase de uma forma leve e descontraída, sempre com um gag espirituoso que pode ter várias origens (desta vez a inspiração veio de uma dica do Sam!), até um série de curtas com continuação que , se tudo correr bem, surgirá a médio prazo. Para já, o meu agradecimento vai não só para aqueles que me disponibilizaram espaço na revista (props para o meu mano Martim e para o meu amigo Tiago) mas também para os que tiverem paciência para apreciar aquilo que eu trouxer, número após número. 


Vários autores nacionais de banda desenhada colaborarão comigo nesta rubrica, servindo a mesma também como uma espécie de mostruário do que cá se faz.

Na BD, assim como no hip hop, somos “poucos” mas somos bons. Estamos num país pequeno, numa indústria algo reduzida, mas quanto mais unidos estivermos mais hipóteses temos de fazer isto crescer. Eu quero pegar em duas das coisas que mais amo e criar algo de novo. Mau ou bom, desta forma acho que já estarei a contribuir para mexer com o “sistema”.


Keep in touch!



Por: André Oliveira
Ilustração: Tiago Costa Rebelo

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