Um nome incontornável do Hip Hop Tuga e um dos nomes mais importantes do norte. Numa conversa no mítico segundo piso falámos sobre os seus meios e métodos de produção


Freestyle: De onde vem o teu nome artístico?


Mundo: Vem de infância, chamo-me Edmundo e desde criança que a minha família e todos os meus amigos me chamam Mundo, acabou por ficar já faz parte do meu nome.



Há quanto tempo produzes e como te iniciaste na produção?


Por volta de 93 foi quando comecei a estar mais inteirado acerca do movimento Hip Hop. Nessa altura tinha um método muito estranho de produzir, era com dois teclados Casio, um deles já tinha desde os meus 9 anos, tinham sido os meus pais a oferecer, que já era sampler, mas nessa altura não sabia o que eram samples não é? Só anos mais tarde é que peguei outra vez no teclado e comecei a produzir, produzia a meias com o DJ Guze, fazíamos tudo em tempo real porque não tínhamos sequenciadores para fazer os loops, ou seja, 3 minutos de bateria e os samples a mesma coisa. Depois arranjei uma caixa de ritmos emprestada, pelo Ace dos Mind Da Gap, uma Alesis que já era muito, muito à frente para a altura. Aí comecei a fazer os samples e já tinha como sequenciar a bateria, faltava só arranjar maneira de sequenciar os samples, foi quando investi no meu primeiro PC, na altura a carvão, foi mesmo dos primeiros Pc´s, produzia no Fast Tracker2 que era um programa que todos tinham de ter, porque já podias cortar os wav´s e cortar os samples todos sequenciando tudo direitinho. Daí para a frente em 99/2000 comprei o meu primeiro MPC, que era uma máquina que eu já andava de olho há muito tempo. Aí juntei as duas coisas, o sampler, a parte analógica, às cenas digitais, no PC, que evoluíram muito. A minha produção é feita com base na MPC e PC, apesar de fazer muita coisa com instrumentos, como os teclados. 



Quais as tuas ferramentas de produção?


Neste momento são a MPC, que uso frequentemente, o PC onde tenho o Cubase com uma montanha de plug-ins com variadíssimos instrumentos e o vinil para a samplagem, para além de convidarmos, agora mais, músicos.



Costumas samplar algum género musical específico ou década? 


Eu tento samplar coisas que sejam bastante antigas, de preferência que sejam antes do ano em que eu nasci que foi em 78, mas não me prendo a um estilo, tento ter vários estilos diferentes. Depende muito do ambiente que quero criar. Samplar cenas modernas não faço por uma questão de respeito e ética de produção. 



Tens alguma regra no que diz respeito ao início da criação de um beat?


Por acaso não, não tenho regras. Tanto começo pelos samples como pela bateria, depende muito da ideia que tiver na altura. Mas normalmente, talvez 60% das vezes, começo pelo beat.



Tens o teu próprio “DrumKit” ou usas presets?


Eu uso um pouco de tudo, se achar que o preset é bom, uso. Mas o beat componho sempre. Sou aberto a qualquer tipo de presets e se me soar bem uso-o, porque se formos ver os presets acabam por ser também samples. Tento é estar sempre actualizado, utilizo o mais antigo mas o preset mais recente também.



De entre as tuas produções, qual é a tua preferida? 


Gosto muito do Fado Vadio, o Infíeis, o Bofiaofobia, isto são coisas que já produzi há uns anos. Tenho um monte de coisas mais recentes que eu gosto, mas é-me difícil enumerar porque quando começo um beat já tenho uma certa paixão por ele. 



E sem serem tuas?


Eu sou totalmente fã de DJ Premier, foi talvez a escola que mais me marcou. Dele gosto muito do Invicible dos CNN, é aquilo que se chama uma batida de rua mas ao mesmo tempo transpira alegria e isso é muito importante, transmitir sentimento, nem muito negro nem muito luminoso.



Que produtores te influenciam (nacionais e internacionais)?


Nacionais, Rodrigo Leão e  João Aguardela,  2 grandes compositores. Internacionais, DJ Premier, DJ Muggs e gosto muito do Stoupe dos Jedi Mind Trick, são 3 produtores completamente distintos, cada um no seu estilo totalmente potente



E sem serem produtores?


Os meus pais e a cidade onde nasci.



Qual é o teu TOP-3 de instrumentais de sempre? 


Invincible do DJ Premier, Age of the sacred terror do Stoupe e o Be do álbum do Common produzido pelo Kanye West, mas a lista seria longa se o top fosse maior. 





Ultimamente o que tens ouvido?


Tenho ouvido o último álbum do Raekwon Only Built For Cuban Linx Part2, também gosto muito do Royce Da 5´9 Street Hop e tenho ouvido Rodrigo Leão, gosto de música tradicional Portuguesa, bem feita.



Sendo tu também um MC, quando é que te apetece produzir vs. escrever ou rimar?


Eu acho que faço tudo em simultâneo, mas há dias que tiro só para produzir, faço beats em série e quando é para escrever é a mesma coisa, às vezes aproveito os beats que fiz em série (risos). Às vezes fico dias inteiros a escrever. No mesmo dia só se estiver mesmo inspirado, acabo o beat e faço logo a letra mas isso é muito raro. Faço por dias, uns para fazer beats outros para escrever outros para misturar que é grande parte do tempo.


Já estás no movimento há mais de 15 anos... Achas que a “Golden Era” já passou? 


Acho que sim. Mas tudo são ciclos, hoje em dia está a voltar a febre do liricismo e podemos ter outra Era que não será chamada de “Golden Age” mas terá novos poetas, liricistas e produtores. Hoje, há muita coisa que não interessa, porque a indústria fez com que assim fosse, dando relevância a coisas que não têm que ver com o Hip Hop. Quem faz Hip Hop, hoje, e tem a febre da “Golden Age” está a criar uma nova “Golden Age”, porque, está a carregar a tocha da cultura.



Como surgiu a ideia para o teu último trabalho em conjunto com o Nel' Assassin: mixtape “Pioneiros”?


A ideia já tínhamos há algum tempo, no início, seria fazer uma coisa de originais que, entretanto, estamos a cozinhar. A ideia surgiu assim, eu estava, aqui, no 2ºpiso a escrever umas letras, liguei ao Nelson, ele estava perto e apareceu aqui, mostrei-lhe umas coisas que já tinha gravado, ele curtiu e fez logo uns scratches nesse dia. Fizemos tudo em dois dias, foi um bom momento daqueles como antigamente, em que um gajo se fecha no quarto e fabrica logo em série, mas não foi nada provocado, aliás, eu conheço o Nelson desde 95/96 somos bons amigos, talvez já pudesse ter acontecido antes.



Como nasceu o 2ºPiso?


Nasceu em 93, é este quarto onde estamos. Na altura vivia cá a minha irmã com o marido, quando eles saíram de casa, comecei a fazer aqui umas reuniões para ver filmes, na altura eu era skater tal como o DJ Guze. Depois quando começámos a entrar na febre do Hip Hop fazíamos sessões de improviso, de produção, como vês, as paredes falam por si…Isso foi-se desenvolvendo ao longo dos anos, o mítico 2ºPiso que, ainda por cima, rima com improviso e depois vês de onde vem o resto (risos).

Eu acho que este misticismo vem todo das pessoas que frequentaram ou frequentam, elas é que criaram essa magia. O 2ºPiso não é só o meu estúdio, é o sítio onde o pessoal vem e partilha as suas ideias, faz improvisos, ou seja, não é um estúdio, é um colectivo de pessoas, um ponto de encontro, no futuro esperemos que venha a ser um museu (risos).



Que projectos tens para um futuro próximo?


Vários, temos já em Fevereiro um EP de DLM que está relacionado com o projecto Optimus Discos, composto por 6 temas. Temos mais ou menos meio álbum de Dealema já pronto mas parámos, entretanto, por causa deste projecto para o Optimus Discos, conto ter isto feito até ao final do ano. Pelo meio estou a gravar inúmeras coisas, uma colectânea do 2ºPiso que vai ter todos os artistas que fazem parte do 2ºPiso, produzido por mim, depois espero ter um volume dois, mas este volume dois é com pessoal já fora do 2ºPiso, com pessoal que já conheço e aprecio o trabalho deles, alguns mais novos que também aprecio, são dois volumes, distintos, que quero fazer. Estou a trabalhar no meu disco novo, já tenho algumas faixas mas sou muito exigente comigo, faço muitas só depois é que escolho aquelas que acho que me representam a 100%. Tenho muitos outros projectos com bandas mas eles têm os seus timings e não posso adiantar muito, mas no devido momento vão saber, posso só dizer que pelo menos mais 3 discos estão a ser cozinhados.



Tens feito muita coisa com pessoal da Galiza, sentes mais proximidade com eles?


Não têm muito a ver com isso. Aliás eu sempre trabalhei mais com pessoal de Lisboa, sempre convidei pessoal de Lisboa a vir cá. Eu acima da música prezo as pessoas, a sua maneira de ser, a humildade o respeito. Para fazer música com alguém tenho de o conhecer bem e ter alguma privacidade com ele, saber se é real ou se é só uma letra percebes? Se calhar nunca trabalhei com muita gente porque nunca tive essa intimidade para poder criar isso, eu não gosto de fazer só por fazer, para além de fazer uma música gosto de criar uma amizade com essa pessoa se possível ter mais um bom amigo para a vida. O que eu gosto no Hip Hop é isso, é poder criar amizades e saber que posso ir a um sítio e levarem-me a conhecer as cenas, os tascos, os amigos, a família, eu aprecio muito isso. Se não for marcante para mim eu não estou interessado em fazer.



Álbum de instrumentais?


Não está fora de questão mas neste momento não penso nisso, porque quando comecei a fazer beats foi pela necessidade de ter os meus beats para poder rimar e não ter de usar beats de outros. Sempre vi o instrumental como uma ferramenta para a rima, mas talvez um dia quando sentir essa necessidade.



Queres dar umas palavras finais para os leitores?


Paz, Amor, União e Divertimento!




Por: Martim Borges & X-Acto
Fotos: Martim Borges

FREESTYLE/2010

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