Max, Mix, Lagaet, Diogo, Pedro, Magik, Dri, Ivo e Jump são os nove elementos que compõem a chamada Momentum Crew. Além de terem uma loja de roupa (Urban Max), uma escola de dança (Dance Fact) e de organizarem o maior evento de breakdance em Portugal (Eurobattle), são absolutamente incansáveis a representar o nosso país em competições internacionais. Em conversa com o Max, mentor do grupo, ficámos a conhecer um pouco melhor a crew.

Freestyle - O que é para vocês uma crew/família?


Max - Há várias definições para crew. A palavra significa tripulação, se formos a falar na tradução literal. Há pessoas que têm várias interpretações, mas para nós só há uma. Crew, para nós, é a vida, ou seja, eu não sei viver sem eles nem eles sem mim. Há uma dependência total, uma necessidade de estarmos uns com os outros. É passarmos o Natal juntos há cinco anos, é passarmos Páscoas juntos, é irmos de férias juntos todos os anos, é vivermos juntos, é batalharmos juntos, treinarmos juntos, fazermos tudo juntos. É levarmos o nome tatuado uns dos outros no corpo, sem ninguém pedir ou exigir nada, coisa que algumas pessoas fazem por uma mulher ou pelos filhos e que nós fazemos por uma crew. Todos por um, um por todos. Morro por eles, mato por eles!



Defendem a ideia dos b-boys treinarem na rua e no metro? Costumam fazer isso? 


O b-boy dança em qualquer sítio. Defender, não defendo. Se me levarem para um sítio fashion, no meio da moda, eu também danço. Se me levarem para o meio do underground, da rua e do metro, eu também danço. Se me levarem para o meio do Presidente da República e dos deputados, eu também danço. Eu faço a minha dança em qualquer lado. E qualquer b-boy é o que deve fazer. Para mim, isso de dançar na rua, ou sem ser na rua, debaixo da ponte, em cima do prédio, ao lado da… é igual!



Qual é a melhor e mais antiga recordação que têm do breakdance em Portugal? 


Foi o começo da Eurobattle, em 2005, com a presença pela primeira vez do Kujo e do Don Campbell em Portugal. Na altura era algo inacessível, impossível de se realizar. 



Com o mediatismo da chamada dança Hip-Hop, acham que há cada vez mais pessoas interessadas em aprender breakdance?


Sem dúvida nenhuma. O breakdance teve um grande boom e um grande sucesso nos anos 80. Nos anos 90 estagnou, foram os europeus que foram a Nova Iorque, ao Bronx, rebentar com toda a gente e graças a b-boys como o Storm, o Maurício e muitos outros que foram lá na altura e que fizeram acordar para a vida as pessoas que estavam lá no Bronx, os americanos voltaram e o boom ressurgiu. Na realidade, o b-boying, neste momento, está muito popular e cada vez vai crescer mais, especialmente por marcas que entraram como sponsors de grandes eventos, como o Red Bull BC One.



Vocês notam isso na Dance Fact


A Dance Fact tem poucas inscrições porque é um armazém sem nada. Eles vêm para aqui no Inverno, treinam de blusão de penas. Vêm para aqui no Verão, têm de abrir as janelas todas e pôr a cabeça de fora para respirar. A aparelhagem não é da melhor qualidade. Quero aquecer as mãos no Inverno, tenho que ligar o aquecedor e encostar-lhe as mãos porque é um gelo tremendo. Chove cá dentro… A Dance Fact tem de ser para pessoas que querem mesmo aprender a ser b-boys, ou seja, não querem aprender a dançar o que os outros dançam, querem ser b-boys, b-girls, poppers, lockers, new stylers, etc. Para essas pessoas, sinceramente, é o sítio ideal. A Dance Fact, nesse sentido, é uma escola que, comparada com qualquer ginásiozinho aqui da esquina, não tem alunos. Nós não chegamos aos 40 alunos... 40/50 alunos no melhor mês do ano. Tem meses de 20 alunos. Para uma escola que está aberta todos os dias, com aulas todos os dias, o que é isso? E, entre todas as turmas, não é uma turma com 20! Mas, sinceramente, tenho alto orgulho nos meus alunos. Vejo-os dançar, com dois, três ensaios e estão à vontade, já à frente de toda a gente, batalham e ganham batalhas… É outro espírito! As pessoas que vêm para aqui sentem isso e dificilmente saem.



A Eurobattle vai já na V Edição e é um evento reconhecido internacionalmente. Como foi chegar até aqui?


Foi enterrar muito dinheiro à custa de se sonhar e de lutar por algo em que acreditamos realmente. Trabalho e temos actividades extras, dançamos na rua para ganhar dinheiro (isso sim), fazemos muitos shows de rua para sobreviver e fazer dinheiro fora de Portugal. Dançamos em quase todas as capitais da Europa que podemos. Vamos, poisamos o rádio, dançamos e recolhemos os nossos trocos, que acabam por ser muito dinheiro. E muito desse trabalho que é suado na rua é para pagar uma Eurobattle. Na verdade, nós estoiramos o dinheiro de um carro todos os anos num evento por falta de apoios. Andamos o ano inteiro a pagar os Eurobattles passados. É a dificuldade que há. Não há falta de valor, não há falta de interesse, não há falta de iniciativas, não há falta de apoio por parte das pessoas praticantes e não praticantes. Não falta nada menos o apoio de patrocínios e do Estado. Só este ano é que a Câmara do Porto nos isentou de pagar as taxas de ruído e etc. Andávamos a estoirar todos os anos quase 4000€ só para impostos. Acho que as pessoas não têm muita consciência e, muitas vezes, aqui, como em outros sítios, o dinheiro vai para muita coisa sem interesse…



O que é que vocês acham que ainda pode melhorar na Eurobattle? O que é que gostavam de ver acontecer nas próximas edições?


Se a Eurobattle está como está, com os problemas económicos que tem, e está considerada um dos três melhores eventos do mundo pela própria bboyworld.com, que é um website com 100 000 membros b-boys activos, eu só posso dizer que o que gostava de ver era dinheiro a entrar, porque tendo dinheiro a entrar, vocês nem têm noção…! Acho que punha toda a gente a chorar por ver um espectáculo de outro mundo! Por exemplo, eu não trago b-boys da Coreia desde a primeira edição porque não tenho hipótese de pagar 2000€ pelo voo de seis b-boys, mais estadia, mais alimentação, mais o prize money que os gajos ainda iriam ganhar de 5000€. Façam as contas… Quantas pessoas é que eu precisava de ter? Nem comporta o espaço!



Recentemente vocês foram nomeados para a Portugal Dance Awards. Qual é a vossa opinião sobre essa iniciativa?


Eu não conhecia ninguém ligado a esse programa. Acordei de manhã com um telefonema a dizer «Olha, vocês estão nomeados». Até pensei que fosse brincadeira, juro-te! Respondi: «ah, está bem…». Eles disseram que me iam mandar não sei o quê para o e-mail, eu fui ver e realmente era verdade. Tudo muito direito, tudo muito formal. Depois vi as outras nomeações e há muita coisa ali da qual que eu discordo, mas há uma coisa que eu admiro: É que esses foram os primeiros a levar o b-boying ao mainstream e a levar o b‑boying a ser reconhecido no meio das outras danças, perante os media, de uma maneira formal e clássica para o povo português. Foram os primeiros que fizeram a «morangada» com açúcar, os cabelos pintados de cor de rosa yo, e bling blings e não sei quê, ficarem abaixo do b-boying e reconhecerem-nos o mérito, a nós que andamos a transpirar e a rebentar-nos no chão todos os dias. Para eles, os meus parabéns, primeiro por nos terem nomeado e, depois, por nos terem premiado, porque foi mesmo surpresa absoluta. Seja lá quem for que está à frente disso, tem uma boa visão de dança, parabéns!



Quais são as músicas que mais vos inspiram para dançar?


Eu, pessoalmente, tenho dois estilos, dependendo do meu estado de espírito. Eu sou um funkaholic, eu bebo e respiro funk, é a única coisa que eu ouço, quase. É brutal para mim dançar funk puro, de finais de 60, princípios de 70. Sou uma pessoa que gosta muito de funk, e gosto muito de dançar com funk, sinto-me muito bem. Mas, dependendo do meu estado de espírito, também gosto muito de dançar com rap underground. Rap puro underground americano também me dá para sacar movimentos e forma de dançar, porque eu sou bastante agressivo quando batalho e puxa-me um bocado esse lado.



Vocês já têm uma loja de roupa, uma escola de dança e organizam o maior evento de breakdance em Portugal. Agora qual é o próximo passo?


Temos vários. Nós vivemos do e para o b-boying com diferentes formas de estar. A própria loja tem uma pista de dança, trabalham lá b-boys em part-time. Na escola de dança, leccionamos, os b-boys leccionam. Os eventos, organizamos. De tudo sacamos fontes de rendimento. Vamos fazendo shows e batalhas com os prize money. Vamos atrás deles para viver, como todas as pessoas vivem, e é aqui que está a nossa receita. E ainda fazemos shows de rua... Quando há necessidade, lá estamos nós na rua sem pensar duas vezes. E aqui as pessoas já entendem como é que o dinheiro entra, como é que a vida se faz. Contudo, somos ambiciosos (de uma boa maneira, sem pisar ninguém, sem andar a criticar ninguém) e temos ideias. Estamos a trabalhar num projecto de lançamento de um DVD a nível nacional sobre o b‑boying português. Já nos foram feitas algumas propostas muito interessantes. Estamos a trabalhar para fazer aquilo que em França chamam trabalho de creátion. Um trabalho de criação é aquilo a que aqui se chama espectáculo de teatro. Nós estamos a pensar em juntar-nos com artistas de outras áreas que não b-boying, que não de dança, e juntar o b‑boying com a música, com o canto, com percussão, etc, num trabalho de criação de 1h30 para apresentar a nível nacional e internacional. É um trabalho que vai começar a desenvolver-se a partir do próximo Setembro/Outubro. Também em Setembro fomos seleccionados como uma das dezasseis melhores equipas do mundo para estar na R 16 na Coreia, e em Outubro, estaremos na Rússia. Mas, voltando da Rússia, o objectivo vai passar pelo trabalho de creátion de um espectáculo de 1h30/2h00, para realmente podermos então fazer performance e não só batalha.




Por: Daniela Ribeiro

Fotos: Gentilmente cedidas


FREESTYLE/2009


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