O seu nome provém dos tempos em que era DJ, devido aos cortes malucos que fazia. Em 2003 pôs os pratos de lado para se dedicar àquilo que o cativa, a produção. A Freestyle foi conhecer um pouco mais do produtor cada vez mais em foco do movimento.

Fala de ti, o que tens feito, como começaste…

Madkutz: Comecei em 99, como writer, se é que aasim se pode chamar. Pertenci a uma crew, que era ILK. Pintei até aos 2001, depois parei porque graffiti, para mim, era para ser ilegal e como tinha o meu irmão em casa, acamado, era mau chegar e ter a polícia à porta. Já produzia, mas era sempre em softwares e nada a que se pudesse chamar música. Mas, em 2003, comecei a levar a produção mais a sério, explorando mais os programas, o Acid, Frooty Loops, entre outros. Em 2004 comprei o meu primeiro prato e mesa de mistura ao Pass One, ele foi-me dando uns toques, para ter mais técnicas em DJ. Até foi ele quem me deu o nome, porque dizia que os meus cortes eram malucos e como sempre gostei do Cut Killa, o nome ficou Madkutz. Foi o Pass One que me arranjou a minha escola, a MCP 2000 XL. Uns tempos depois passei para software e agora junto-o com sintetizadores e com o apoio da MPC. Ainda como DJ, o meu primeiro MC em que fui DJ foi o Royal, depois passei para os Dupla Consciência e, passado um mês, o Chullage convidou-me para ser DJ dele. Fizemos a tournée do Rapensar e esse foi o meu boom como DJ. Na altura tinha saído o Sorte Quase Nula, o Chullage ouviu falar disso pelo Gilbert, o manager dele e chamou-me. Com o Royal, sempre trabalhei com ele desde novo. Ele lançou o Visão Periférica, em que eu ajudei, o Rualigião foi produzido aí, o único beat feito em MPC. O meu boom como produtor foi mesmo o Portfólio em 2008 com a Footmovin. E, de certeza, esse foi o maior bang que me permitiu estar em álbuns como o do Tekilla e ter propostas de outros artistas.


Agora és mais produtor e menos DJ?

Quando deixei de ser DJ estava com o Chullage e como ele passou a ter banda, o scratch já tinha de ser mais um instrumento do que algo só para encher o beat ou para cobrir algumas alturas em que o MC estivesse sem fôlego e já não sentisse tanta pica pelo scratch. Sentia-me estagnar, enquanto pela produção sentia-me a evoluir todos os dias. Então dediquei-me mais à produção.


O que te faz gostar de produção?

É diferente, quando fazia um scratch e o via assentar no beat, gostava, mas é diferente tu fazeres a base e o beat tocar-te, fazer-te lembrar momentos da tua vida, ou produzires numa fase que estás mais triste ou mais feliz e aquilo inspirar-te… Não sei, é bom demais para eu conseguir explicar. É uma rotina, mas que dá gosto. Quando estava a tirar o meu curso, a malta ia para intervalo eu ficava a produzir, eles voltavam e eu estava a produzir, ia no barco a produzir… estava sempre a produzir no portátil... o Portfólio foi produzido a ir e vir do Montijo para Lisboa. Dou por mim a produzir por gosto.


Tiraste um curso relacionado com música?

Tirei o Curso de Técnico de Audio para melhorar a minha mistura. Posso vir a exercer também, mas não para já. Será uma escapatória, quando isto já não der dinheiro (risos), mas o mais importante era saber misturar. Se tiveres uma boa mistura é meio caminho para o teu beat ser aceite.


Que material usas para produzir?

O crânio do meu estúdio é a placa externa M-Audio, onde ligo o teclado Rolands e a MPC. Tenho dois monitores rascas e um computador, que também tem de ser renovado, o que me permite sequenciar de um lado e misturar do outro. Tenho o portátil, onde produzi o Portfólio, com uma placa mais low budget da M-Audio. Para exportar, acho que todos deviam ter uma placa externa, pois dá-nos uma melhor qualidade. Em termos de softwares uso Reason, Fruity Loops, Cubase, Ableton Live e o Cool Edit para samplar. Tenho a MCP 2000, que foi onde comecei, mas que já só uso como controlador MIDI nas Pads e uso os pratos para samplar vinil. 


Tens algum equipamento que gostasses de adquirir para complementar as tuas produções?

Tive aí uma fase maluca em que quase dei 4000 euros por uma máquina. Falei com um manager da West Coast, que tem contrato com a Open Labs, uma marca de hardware que fez uma máquina chamada MICO, que o Timbaland também usa, que tem tudo: Teclado MIDI, placa incorporada, VST’s já legalizados pela Open Labs, é um PC lá dentro e é algo que podes levar para o estúdio, ligar Pro Tools… dá para fazer tudo. Mas acabei por não comprar porque, no fundo, eu tenho isso tudo. Com menos qualidade, mas tenho. O que preciso é de melhorar o PC, melhorar a minha munição, apostar num microfone novo e talvez montar uma cabine para captação. 


Entre software e hardware?

Eu gosto de ouvir os dois, mas prefiro produzir em software. Gosto da essência de hardware do Sam, J-Dilla , Pete Rock entre outros. Além da máquina já ter aquela sonoridade, eles dão-lhe um extra. Pessoalmente, prefiro produzir em software, já estou habituado e eu produzo muito e fazendo-o em hardware, não tendo tantas saídas na MPC como, por exemplo, o Sam, não posso passar tantas pistas ao mesmo tempo. Assim, a produzir aqui em software, exporto logo as pistas. Mas nada contra quem produz em hardware, é apenas uma preferência pessoal.


Qual é o teu software de eleição? Ou Plug-in que consideres indispensável?

Essa é complicada. Já produzi singles em Reason, mas a maioria dos meus beats são feitos em Fruity Loops, mas não gosto de fazer tudo lá. Gosto de exportar tudo em bruto e levar para pós-produção para um Pro Tools e fazer uma mistura séria. Ando agora a tentar mudar para o Ableton Live. Em termos de VST’s, uso o Nexus, Simphonic Gold Orchestra e outros plugins que todos conhecem. Um produtor tem de ter sempre uma boa biblioteca de sons, vários plugins, etc. 


Costumas samplar algum género específico?

Sou mais conhecido pelos beats de orquestra e bandas sonoras. No Porftólio usei a banda sonora do 300 no tema Underground, a do X-men no tema 11, o segundo Round tem sample de um filme do Tarantino, mas também samplei muito soul. Ultimamente deixei de fazer este último porque quem é bom digger em Portugal, em termos de soul é o Rui Miguel Abreu, o Dodge dos Dupla Consicência e o Sam the Kid e eu não quero fazer algo que não vá estar ao nível deles ou estragar algo que eles fazem muito bem. 


Preferes samplar de CD, Internet, Vinil?

Há vezes em que não apanhas a fonte original. Não arranjas o CD ou Vinil, então tens de ir à Internet… no Portfolio fiz vários beats que samplei da net porque não consegui arranjar CD ou o Vinil. A preferência vai para CD, Vinil e, em último recurso, a internet. Youtube recuso-me.


Em relação à criação de um beat, tens alguma regra para iniciares?

Se for a samplar, depois de ter o sample, gosto de o colocar na sequência certa, em loop, e deixá-lo tocar, porque enquanto estou à procura dos kits para a bateria, o sample vai ficando na cabeça e vai-se vendo a cadência dele. Por estar sempre a ouvi-lo, sente-se cenas que podem estimular. Fica até mais fácil para entender onde o bombo fica melhor, se aquela tarola encaixa ou não. Quando é a tocar, composição a 100 por cento, começo pela bateria e só depois é que toco. Estimula mais ter uma bateria forte. Se quero algo mais elaborado, tenho músicos: pianista, baixista, saxofinista, guitarrista. Além de dar mais musicalidade ao meu trabalho, dá-lhe trabalho a eles e eles também ganham com isso. 


Como te inspiras?

É complicado. Há dias em que produzo mas não consigo achar que seja algo bom…há momentos que digo mesmo que sou mau produtor e, quando é assim, deixo de produzir um tempo, fico só a ouvir música, vários produtores estrangeiros, portugueses e até mesmo cenas fora do Hip-Hop. Aquela sede de não produzir vai-me permitir vir mais fresco, já não vou pegar no mesmo instrumento, já vai ser diferente. Inspiração é o que houver. A minha família principalmente, pois é sempre importante teres o apoio de quem te é mais próximo. Os quadros também são inspiração. Eu tenho a mania de pendurar os trabalhos onde entro na parede, porque, de vez em quando, naquelas alturas em que me sinto mau produtor, paro e olho para a parede, vejo lá os quadros e vejo onde entrei e o que é já fiz e isso moraliza.


Qual é o teu beat preferido, das tuas produções?

EH! Pá! É difícil… eu sou visto como um produtor de bangers, cenas mais agressivas e aí tenho de dizer que é o Undeground, que foi mesmo o meu maior buzz em termos de produtor. Na música, o Vida, também do Royal, que tem o meu baixista Cabo Verdiano e deu um grande feeling ao beat. Samplei o piano de Tito Paris, a Carla Souza fez um grande refrão e o tema do Royal é bem direccionado. 


Influências musicais em termos de produtores?

As minhas baterias não têm influência de qualquer produtor tuga. Estrangeiro é capaz: Dr. Dre ou Timbaland, é impossível não seres influenciado por eles quando produzes para majors. A minha maior influência em termos de sintetizadores e baterias é malta da pastilha, Prodigy. Foi o meu primeiro contacto com a música, em 93 e quando ouvi o Voodoo People disse mesmo «esses gajos abusam do ritmo!». Foi algo que me ficou, tentar ter potência na bateria. Há MC’s que levam beats meus porque curtem mais da bateria do que propriamente da composição. De resto, em termos de produção Dr. Dre, Swizz Beatz, Timbaland, Ryan Leslie.A samplar, J-Dilla, Premier, Pete Rock, Black Milk, DJ khaled está a partir muito, Hi-Tek e outro gajo que o Dre contratou agora e eu fiquei muito feliz porque ele produz no Fruity Loops (risos). Tugas, o Sam, New Max, Armando Teixeira, Rodrigo Leão em termos de composição, Cold Finger, Ride, Bambino que tem um feeling doido na MPC, SP…. Imensos! É melhor ficar por aqui…


E sem ser produtores?

Por exemplo, é estranho fazer beats com samples de música clássica e não gostar dela. Mas gosto de ouvir compositores de música clássica do nosso tempo, principalmente os de Hollywood que produzem para os filmes como o Hans Zimmer. Essa música inspira-me. Gosto de soul, curto muito do Marc Lawrence que está a trazer o novo trabalho da Amy Winhouse. Curto de Garbage… esses géneros mais fora, mas que dá para meteres dentro do Hip-Hop.


Algum produtor da nova escola que queiras destacar?

Tens tantos. O Blastah Beatz, que está aí em grande e a fazer o que muitos de nós devíamos, que é produzir lá para fora, o Intakto que, para mim, é um dos produtores da nova escola mais consistente, o Kosmiko, que está na minha equipa de produção Beat Einstein, ele é muito bom. O Kacetado surpreendeu-me imenso. E tens aí muitos produtores bons com bons trabalhos.


Diferenças da produção de agora para a de há uns anos?

Acho que se perdeu muito a essência. Os meus beats, por exemplo já não são tão Hip-Hop como eram no Portfolio. Acho que já não têm tanta mística que é a cena do sample. Se ouvires o Som do KRS-One com Buckshot «Robot», eu levei a dica como se fosse para mim. Como produtor, hoje em dia, se queres viver disto, tens de saber produzir não só rap puro como para Majors. É como o Sam diz, «não concordo com o Paredes na sua frase mais bela, eu amo demasiado a música para não viver dela». Quando estou a produzir, se me pedirem um beat de rap puro, eu tento manter essa sonoridade e não vou tocar nada, vou samplar e tentar adaptar-me ao MC que vou produzir.  


Top 3 de Instrumentais só de tugas de sempre?

Rhymeshit Kabala sem dúvida. O Império da Calçada dos Blackcompany e o Súburbios do Scotch.


E estrangeiros?

Hoje sou capaz de te dizer umas e amanhã já sou capaz de te dar uma resposta um bocado diferente, mas gosto imenso do Runnin um grande beat do J-Dilla, Tic Toc dos Lords of the Underground e provavelmente o beat que eu mais curto e está mais batido no Hip-Hop, o Gangsters Paradise do Coolio. Os arranjos, as vozes por cima do beat… fantástico. É algo que já não se faz e já não existe.


De que participação musical mais te orgulhas?

É complicado porque não é só uma. Cresci a ouvir Black Company e ter o Bambino e o Makas a escrever num beat meu foi fantástico. O que mais me orgulha nem foi ter feito a música com eles, mas sim o facto de ter convivido com quem considero dinossauros do rap e eles saberem o meu nome. E, quando fiz o som para o Pacman, também adorei trabalhar com ele. Outro grupo, Nigga Poison, o Praga ligou-me a pedir um beat. Eu já ouço Praga desde os tempos de Resistência. 


Projectos para o futuro?

O Primeiro Aviso, um projecto que eu estou a fazer para distribuir de borla porque acho que devemos retribuir ao público por comprar os nossos álbuns. O Busta Rhymes quando lançou agora o novo álbum disse que eram três álbuns pelo preço de um, pois antes já tinha lançado duas mixtapes de borla. Entretanto, estou a produzir para a nova cena do Royalistick, para Nigga Poison, FLow 212, para o novo trabalho do Lancelot, para o Pacman, para o Kosmiko, Supremo G. Valete também me pediu beats para o álbum dele, o Adamastor igualmente, o Brasileiro, Carla Souza, Deau, Raptor, La Dupla, Gilson que era back vocal do Chullage, M.A.C.. Estou a produzir para o álbum do NGA, para um projecto do Stray dos Monstro Robot, para o Trevo, Vokábulo, Blasph. E estou à procura de MC’s, novo sangue, para outro projecto.


Fala-me do teu projecto Madkutz TV.

Muita gente tem confundido a Madkutz TV, pensando que é uma TV do Hip-Hop tuga, mas não. Madkutz tv é algo que faço quando vou ao estúdio ou quando vou estar com alguém do movimento, em que gravo e depois mostro, nada mais. No início, criei o canal no youtube e o blogspot para poder publicar e foi um buzz tão grande com as entrevistas ao NGA e ao Tekilla, que recebi a proposta do Myspace, algo que eu não esperava. Muita gente me diz que me bitaram a ideia. Mas, nem pensar! Algumas delas já cá estavam antes de eu criar a Madkutz TV e, além disso, a minha ideia é diferente. E quanto mais cenas relacionadas com Hip-Hop houver melhor, é mais estimulante.


Palavras finais para os nossos leitores.

O que eu costumo dizer é: acreditem no que querem fazer, mas acreditem a sério. Acreditar que vai ser possível e assim consegue-se fazer tudo. Imagina, queres ser produtor daquele e do outro, mas se não trabalhares para isso e não levares isso a sério, não vais a lado nenhum. Se caíres, vais ter de te levantar e lutar. É como a revista, vocês vão ter de batalhar sempre para que as coisas corram bem e acreditar. Não falem mal dos outros, «não gozem com o vizinho porque a tua vem a caminho», como a minha mãe costuma dizer.


Por: X-Acto & Tiago Costa Rebelo
Foto
: Martim Borges


FREESTYLE/2009


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