Desde 96 que marcam o Rap de Almada. Influênciados pelos Nexo, seguiram o seu caminho e conquistaram o seu território. O tempo passa, mas eles mantêm-se no movimento, mais fortes, mais maduros e prontos a colocar o carimbo M.A.C., neste ano de 2010 com um novo álbum e mixtape


Freestyle: De 96 até  aos dias de hoje, já muitos passos foram dados por MAC. Falem-nos um pouco do vosso inicio e da criação do grupo.


TNT – Tudo começou por volta de 96, quando nos juntávamos todos, tínhamos um grupo grande, em que alguns já gostavam de ouvir Rap, que na altura era uma novidade. Nesse grupo eu, o Kulpado, o Juanito, o Monkey e o Nuno (Santi) começámos o projecto M.A.C., no início Mente Anti Censura. Durou uns anos, demos uns concertos ainda sem ter nada gravado, pois só passado um ano é que gravámos algumas maquetes, ensaiávamos frequentemente e com o tempo as coisas foram evoluindo para um nível superior e quisemos levar isto mais a sério. Por motivos pessoais o projecto reduziu-se a três elementos, eu, o Kulpado e o Juanito. Foi nessa altura que começámos a planear seriamente um álbum e a fazer as coisas duma forma mais séria. Tem sido esta a evolução. Gravámos o primeiro álbum ainda com os três elementos, mas passado um tempo, por motivos pessoais novamente, o Juanito afastou-se. Nessa altura até houve um repensar do projecto, ponderámos se seguíamos ou não e acabámos por manter o grupo, mas a dois, eu e o Kulpado.

Kulpado – Só para completar o que foi dito e acho que é algo importante, voltando ao começo de M.A.C., o facto de termos todos o skate em comum, menos o Santi e o Juanito, mas que paravam connosco no skate park. Eu já rimava, já tinha escritos umas letras, já tinha tido um grupo, mas nada sério. Quando vim para Almada, foram esses gostos e esse grupo estar sempre junto, que nos fez formar M.A.C.



Quais foram as vossas influências na altura?


TNT – Há uma cena engraçada, é que eu comecei a ouvir mais Rap graças ao Kulpado. Ele estava mais à frente nesse aspecto, não só porque tinha parabólica e apanhava alguns canais lá de fora, que gravava, mas foi também através dele que tive acesso aos programas do Mariño. Em termos de influências estrangeiras foi daí. Algo que nos destacou e influênciou mais, foi gajos daqui que já rimavam. Não foi só lá de fora e foi uma coisa conjunta. Como não havia tanto acesso e havia gajos que já rimavam cá, nós agarramo-nos muito a isso, como por exemplo os Nexo.

Kulpado – E nós assumimos isso, a nossa principal influência, não tanto para começar a ouvir rap porque já ouvíamos, mas para nos apoiar, moldar o nosso estilo de Rap, não que nós sejamos iguais a alguém, mas os Nexo, principalmente o JP, foram muito importantes. Ele estava muito preocupado em que houvesse uma segunda geração de rappers em Almada e recebeu-nos de braços abertos, incentivou-nos a fazer som. Nós curtíamos o som deles e queriamos fazer o que eles faziam na altura, eram uma inspiração para nós.TNT – E estamos a falar duma altura em que gravar uma maquete era algo de extraordinário, não havia grandes condições e era algo de pouco usual, portanto tudo o que recebíamos de influências ou era em cassete de cenas estrangeiras ou era ao vivo, em festas ou com freestyles.


Vocês tentam passar essa influência para as novas gerações, tal como os Nexo fizeram convosco?

Kulpado – Claro que sim. O MLK faz parte dessa geração e nós influenciamo-los e até eles já estão a influenciar uma nova geração de putos rappers que já estão a surgir em Almada e até no EP dele, ele tem um tema em que descreve isso.

TNT – Eu acho que nós transmitimos principalmente a ideia de que é possível fazer. Eu lembro-me que era aqui, no Metro Cùbico, que eles vinham ouvir as nossas maquetes e todos eles já gravaram aqui e foi um bocado esse legado que deixámos. Em relação ao resto que possamos ter transmitido, em parte também nas nossas letras, é que falem da realidade que vivem e vêem e não tentem ser aquilo que não são.

Kulpado – E outra coisa, é que nós não somos iguais a ninguém, nem sequer aos Nexo, que nos influenciaram bastante, mas entristece-me muito ver que hoje em dia, até mesmo muita gente com skill ou dos mais velhos que por aqui andam, tentam ir buscar estilos dos outros. E é algo que nós tentamos passar isso também, tu ouves o MLK e ele tem o estilo dele, não é igual a nós nem aos Nexo. 



Venceram o 2º  concurso de música moderna de Almada. Em que é que isso vos beneficiou?

Kulpado – O que vês aqui no estúdio, por exemplo, quase todo este material...

TNT – Esse concurso foi numa altura muito boa, porque tinhamos o álbum prestes a sair e isso deu-nos mais força para continuarmos e acreditarmos. Nós estávamos inclusive, a tocar com instrumentos, o que era algo que não se via muito, que entretanto, por outros motivos congelámos essa ideia. O que o concurso possibilitou, foi podermos montar o estúdio, deu-nos guita para comprar algum material, que temos vindo a completar mas com o nosso orçamento. Outra coisa foi dar-nos um pouco mais de credibilidade, porque o Rap não era levado muito a sério e isso abriu mais portas, principalmente na Margem Sul. Ganhámos o concurso, que era recente e ser uma banda de Rap a ganhar a 2ª edição é bom. Tornámos as coisas mais crediveis e mostrámos a um público mais diverso, que Rap também pode ser música. Deu-nos muita satisfação ter ganho e trouxe-nos também mais oportunidades para concertos.



Em 2005 lançaram o vosso primeiro álbum, Missão a Cumprir. Primeiro como edição de autor, depois com o selo da Footmovin, numa reedição do mesmo.


Kulpado – O que aconteceu foi que ganhámos ambém, num sorteio aleatório pertencente ao Concurso que falámos agora, a gravação de 7 temas num estúdio. De todas as bandas participantes do concurso, nós ganhámos esse sorteio. Decidimos gravar os 7 temas e guardar para fazer o álbum. Surgiu pouco depois a hipótese de gravarmos o resto do álbum num estúdio que tinha aberto recentemente. Foi uma experiência muito boa. Depois de termos o álbum todo gravado, fomos ter com várias pessoas para saber se tinham interesse em lançar e apostar no nosso trabalho. Uma cena que nunca mais me esqueci foi o facto de o Chullage ter pegado no álbum e ter ido à Edel mostrá-lo, que não aceitaram editá-lo. Quando demos por nós tínhamos o álbum gravado a quase 1 ano e tal e não tínhamos feito nada com aquilo.

TNT – Optámos primeiro por edição de autor, que foi fixe porque havia muita gente que estava à espera e estava sedento de ouvir a nossa cena. Já tínhamos apresentado o trabalho antes ao Bomber, mas ele não teve possibilidades, mas mais tarde surgiu a hipótese de fazermos a reedição com a Footmovin, acrescentando duas faixas e só temos de agradecer essa oportunidade, porque foi um ponto de partida para termos uma coisa física, um primeiro marco.



Foi missão cumprida?


Kulpado – Acho que sim. Dentro da nossa onda, para aquilo que nós fazemos ficámos contentes. Se calhar 1000 cd’s não é nada, mas daqueles 1000 cd’s, foram gravados não sei quantos, foram feitos x downloads, mas o que me interessa é que ouçam o nosso som e graças a isso demos imensos concertos a divulgar o álbum e foi uma altura muito fixe para nós.

TNT – Houve cenas que me marcaram desse trabalho, principalmente irmos ao Algarve e ao Norte e sabermos que havia pessoal que ouvia o nosso som, pois nós não tínhamos essa ideia.


Vocês gostam de actuar ao vivo?

Kulpado – Sim, claro. O que nós não gostamos, é quando vamos actuar e as condições não são boas, mas isso é um problema que todos os rappers na Tuga passam. Nós já demos imensos concertos, com boas ou más condições e é algo que temos muito gosto. Agora parámos um pouco os concertos devido ao próximo álbum e estarmos a trabalhar para ele, mas adoramos actuar ao vivo.

TNT – Se fosse classificar a nossa banda, era como banda de concertos. Nós começámos não foi a gravar maquetes como se faz hoje em dia, mas a dar concertos que era como se fazia antes. Para uma banda de Almada, que começou em Almada e que durante muito tempo este fechada aqui, termos actuado no Algarve, em Coimbra, no Norte...é bom. Dá-nos gosto, seja uma sala com 200, 300 pessoas ou com 50.


Em termos de sonoridade, vocês tem algum cuidado quando fazem música, com a reacção do público?

Kulpado – Nós escrevemos mais por necessidade, é algo que faz parte da nossa maneira de ser. Quando o fazemos, é sobre as nossas opiniões, frustrações e não pensamos muito no que o pessoal vai pensar ou se vai bater ao vivo. Para nós fazer som é uma necessidade e sendo uma necessidade, quando escrevemos é para nós, é sobre aquilo que achamos que tem de ser dito. Talvez os últimos sons que têm ouvido nossos são mais avacalhos, mas é por terem sido para mixtapes e compilações em que o espírito é mais esse, mas no álbum já vão sentir mais conteúdo. Quando escrevemos é 50 50, ele às vezes surge com ideia para uma letra e se eu sentir a cena escrevo, porque é o partilhar de emoções, opiniões pessoais, cenas que temos necessidade de dizer.
TNT – Acho que, principalmente, não nos bloqueamos muito um ao outro. Se ele tiver alguma coisa para dizer, mesmo que meta caralhadas, eu não sou o gajo que o vai bloquear e não lhe vou dizer que temos um publico x, ou que temos de fazer assim ou assado e vice versa. Por vezes planeamos o som, mas é algo nosso, não nos condicionamos com o público. Posso-te dizer que ultimamente, e é algo que tem a ver com nível de produção, já direccionamos um pouco mais as coisas, mas nunca fizemos sons para agradar as massas, não é esse o objectivo.



Sentem-se bem se têm feedback de um som que tocou alguém, pela vossa letra?

TNT – Claro que sim. Nós não fazemos música para nós. Fazemos nessa vertente de escrever aquilo que estamos a sentir, mas não fazemos música para nós, mas sim para as pessoas ouvirem e sentirem.

Kulpado -  Depois é um bocado quem gosta gosta, quem não gosta não ouça. Nós não vamos mudar o nosso estilo de som para agradar a x ou y. Ia contra os nossos princípios moldar o nosso som para pessoal de ondas diferentes do Rap.


Vocês tem várias participações em mixtapes, compilações, trabalhos de outros artistas. Sentem o vosso trabalho reconhecido e sentem-se valorizados por esses convites?

TNT – Sem dúvida e aí  posso-te dizer que sentimos que fazemos parte de alguma coisa. Quando por exemplo, o Cruz, que é o exemplo mais recente, nos convida para fazer parte do trabalho dele, é porque se calhar fazemos parte do panorama nacional. Isso é bom e tentamos sempre fazer o melhor.

Kulpado – E é sempre a oportunidade de metermos coisas novas cá fora, enquanto não sai o álbum, é bom e curtimos esses convites.Seja quem for, participações são sempre boas, desde que sejam artistas que nós tenhamos afinidade com o trabalho deles.Tem acontecido recebermos convites para x ou y participação, quando estamos concentrados no álbum e não podemos aceitar tudo e tentamos não ferir susceptibilidades. Mas tens outros casos, em que já gravámos maquetes para mixtapes à anos e nunca ouvimos esse trabalho e isso deixa-nos de pé atrás nalgumas situações em que conhecemos menos o trabalho de quem nos convida. Mas não quer dizer que no futuro não venhamos a trabalhar com esse pessoal, recusámos numa altura porque não deu, questão de tempo ou não, mas no futuro nunca se sabe.


O que podemos esperar de M.A.C. em Muito A Contar?


Kulpado – Antes de mais, nós ficámos imenso tempo sem lançar nada e de repente vai haver um bombardeamento de som de M.A.C.. Decidimos, antes do álbum, lançar uma mixtape, para criar um certo buzz e dar alguma coisa ao people antes do álbum. O conceito do nome, tal como o primeiro álbum é arranjar várias terminações para M.A.C. O primeiro foi Missão a Cumprir, que é o nome da banda, a mixtape vai-se chamar M.A.C. - Mesmo A Chunga e o álbum M.A.C. - Muito A Contar. Mais concretamente, o álbum está M.A.C. na mesma, mas mais maduro porque crescemos e abordamos temas mais conscientes e não quisemos fazer um álbum inteiro de punchlines. Crescemos e reparamos em coisas que quando éramos putos não reparávamos e queremos falar sobre isso.

TNT – Muito a Contar vem na sequência de histórias e de coisas que nos aconteceram desde o álbum anterior. As nossa vidas mudaram 180 graus e temos um conjunto de coisas e histórias que queremos transmitir com este álbum. O nosso ponto de vista mudou nalgumas coisas, crescemos quer como pessoas, quer a nível musical, e tanto, que este álbum vai ser trabalhado de forma diferente em termos musicais. Muito A Contar é um conjunto de histórias encadeadas umas nas outras que vão transmitir a nossa perspectiva e o que é M.A.C. hoje em dia. Mesmo A Chunga, a mixtape que esperamos lança-la durante o verão deste ano, sem querer dar muitos prazos, é o que vai dar um bocado de buzz à nossa cena e vai ter sons antigos, sons novos, para o pessoal ouvir até chegar o álbum.

Em relação ao álbum, em termos de produção, participações, podem adiantar alguma coisa?

TNT – Posso dizer que em termos de produção, é maioritariamente por mim...

Kulpado – ...senão também deixava de ser M.A.C.. Quando idealizámos o álbum, pensámos em ter vários produtores diferentes, mas deixámos isso de parte. Puxámos um beat ou outro, mas maioritariamente são produções do TNT, 

porque senão deixava de ter a sonoridade normal de M.A.C.. Posso adiantar que vai ter um beat meu, que produzo há menos de um ano.

TNT – Em termos de participações, vai ser muito a nossa tropa. Participações de pessoal com quem, há muito tempo, queríamos trabalhar e posso dizer que muitos deles têm muito potencial. Nomes sonantes, não esperem muito isso...

Kulpado - ... nós nunca tivemos essa necessidade de fazer sons com X ou Y que têm mais buzz no movimento. Não é que nos importássemos, mas até no nosso primeiro álbum os únicos que participaram que não eram daqui da nossa click foi o Chullage  e o irmão.



Que ideia têm do Rap actualmente?


TNT – Do que tenho visto em termos de Rap tuga, há coisas muito boas a acontecer, mas falta o feeling que houve a uma certa altura. O pessoal segue muitas influências lá de fora e novos estilos e esquecem-se do que existe cá, do que se pode fazer cá. Sem duvida que o regresso das mixtapes veio trazer algo que faltava, mas é preciso coisas com mais conceito. A nível de produção tem evoluído imenso, não só em termos de beats como em termos de álbuns. Em relação ao rap lá de fora, perdeu um bocado a magia. Nós hoje em dia encontramos coisas porque vamos à procura, sabemos o que queremos e o que é bom. Eu não me preocupo muito com a situação do rap no geral, porque estou numa de fazer rap à minha maneira e à nossa maneira, mas obviamente há coisas que sinto falta e outras que gosto. Mas essa pergunta é um bocado sui generis, são opiniões pessoais.

Kulpado – Em relação ao rap português, acho que são sempre os mesmos. O pessoal critica o Bomberjack e a Footmovin, mas a verdade é que deviam existir mais Bomberjacks e mais Footmovins. Não iguais, porque ele tem preferências por certos artistas, mas deveria haver mais Bomberjacks com preferências por outros artistas. Falta mais people a apostar no rapFalta alguém que agarre no rap crioulo, por exemplo. Há muito som pesado por aí e existe pessoal que nem compra cds, ouvem som ligando o youtube. E alguns desses sons são fortes, mas a falta de condições de quem os faz ou alguns serem calões, faz com que não se divulguem tanto. O que falta é mais people a apostar em mais people de diferentes registos dentro do Rap tuga. Hoje em dia o que temos acesso é sempre às mesmas caras e às mesmas vozes.

TNT – Estamos num pais de 10 milhões de pessoas, que é muito pequeno e temos um mercado de Rap que ainda é mais pequeno e existem umas quantas caras que se mantêm ali. É normal num pais da nossa dimensão , mas poucas delas puxam cenas novas para cima. Mas não é só no Rap, nos outros estilos musicais acontece o mesmo. Tens gajos cotas da música, Rui Veloso por exemplo e são sempre os mesmos a aparecer e gajos novos que chegam, só alcançam um certo patamar, porque os mais antigos ainda lá estão a fazer som e não dão hipótese. No Rap então, que ainda é uma micro presença na música, ainda mais complicado se torna.



Palavras Finais


Kulpado – O people que curte da nossa cena, que aguardem pelo álbum até ao fim do ano e pela mixtape, que não vão ter nenhuma desilusão.

TNT – Temos de agradecer a uma série de pessoas que nos têm ajudado e acreditado em nós, mas temos também de agradecer a nós próprios por ainda estarmos aqui a fazer rap, apesar de todos os contratempos da nossa vida e isto não é fácil, porque já vi muita banda surgir e desaparecer. Não é dizer que somos mais que ninguém, mas apenas que temos uma grande vontade de levar a nossa cena para a frente. De resto, faço minhas as palavras do Kulpado.

Kulpado – Deixa-me só mandar um grande props para vocês da Freestyle, porque apanhando o que falámos a bocado de termos sempre as mesmas caras, vocês tem um ponto de vista muito bom porque entrevistam malta um pouco de tudo, de todos os estilos, não é preciso o pessoal ter cenas cá fora, que vocês dão a conhecer e obrigado por se lembrarem de nós e fazerem esta entrevista.




Por: Tiago Costa Rebelo

Fotos: Martim Borges 


Freestyle/2010

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