O produtor aveirense Kooltuga nasceu de uma necessidade de explorar o que, para todos nós, é musicalmente mais querido: a nossa própria cultura. Tem percorrido a nossa história musical desde 2005, com vários trabalhos marcantes, sempre a assinalar datas com elevada importância para o País e para os portugueses. Assim tem sido nos dias 25 de Abril de 2005 com “Cultuga Nacional”, em 2006 com “Kooltugal” e em 2007 com “A Luta Continuga”. Culminou o trajecto em 2008, lançando uma espécie de “best of”, onde compila alguns dos melhores momentos da sua carreira. Em 2010 prepara-se novamente para um “regresso ao futuro”, com um novo trabalho vindo do passado. Vamos tentar explorar um outro lado do Kooltuga…




Freestyle:Como e quando é que começaste a produzir?


Kooltuga: Embora já produzisse Hip Hop, usando o meu computador pessoal, algum tempo antes de me dedicar a este projecto, como Kooltuga, foi já em 2003 que começou a despertar o primeiro interesse em ir realmente à raiz Portuguesa. Sempre fui um consumidor incurável de quase qualquer género musical, não só pela música em si, mas também pelos momentos que dela sobressaíam. Apetecia sempre utilizar certos loops, certas partes para criar algo novo… Não necessariamente para melhorar a música inicial, já de si, por vezes, tão perfeita, mas para levar essa perfeição original para outros lados… Outros caminhos e direcções onde também pudessem funcionar, pudessem chegar a um outro público, que não o habitual, e despertar outros sentimentos. Reciclar papel para fazer papel é bom. Reciclar papel para fazer supercondutores da NASA é uma visão futurista…



Quais são os teus meios de produção?


De momento, trabalho tudo num portátil com o FL Studio. Não sou muito exigente quanto aos meios, prefiro preocupar-me mais com o resultado final. Utilizo uns pratos com mesa de mistura para a samplagem inicial e, depois, é tudo sequenciado no PC. Tenho ainda uns micros e um teclado MIDI, que uso pouco, mas que pretendo, futuramente, vir a integrar mais no processo.



Software vs. Hardware? Ambos?


É uma pergunta um pouco perigosa, já que há muitos amantes de ambos os lados. Sou contra Hardware sem Software mas não consigo correr o meu Software sem Hardware. Acho que o melhor será a junção perfeita de ambos, já que defendo imenso o minimalismo de um PC com o seu software, mas excita-me a espontaneidade e a imposição de um cunho muito mais pessoal para quem “toca” directamente na música (Hardware). Acima de tudo, acho que “não é o equipamento” mas sim o manuseamento…



Samplas apenas música Portuguesa?


Religiosamente. Como já tinha referido, o Hip Hop não é um aproveitamento do soul/funk/pop, é sim um reciclar de culturas. Por isso me assumi desde cedo por este caminho estreito, que me levou, quase por necessidade moral, a coleccionar, documentar, divulgar, alterar e alternar toda esta história da música de Portugal. Nada me dá mais prazer do que soprar nova vida em algumas pérolas esquecidas pelo tempo e pela moda. Já aconteceu utilizar algo cantado em inglês ou até uma versão duma música estrangeira, mas tem sempre de ser Português. Criado, sentido e suado por cá…



Explica-nos essa tua necessidade de reviver e dar a conhecer a música Portuguesa (sobretudo a mais antiga) pelas tuas versões e reinterpretações... 


Deixando de lado o revivalismo e o nacionalismo real de ser tuga, o grande argumento é o facto de, ao analisarmos o nascimento do Hip Hop, vermos que a necessidade que levou à sua criação foi exactamente a de os intervenientes se reverem na música com que cresceram, muitas das vezes provenientes de discos e de artistas de outras gerações que ouviam por casa dos pais. Nisso viram algo que lhes dizia respeito, que os transportava para outros tempos, e decidiram transformar isso numa coisa nova e fresca. É o que eu pretendo fazer aqui. É isso que eu acho que o Hip Hop Tuga devia ser… Mais nosso… Mais Tuga… Oito e Oitenta!



Já tens lançado os trabalhos de download gratuito, utilizando alguns temas alusivos à luta, à revolução, à liberdade, ao protesto e manifestação. Conta-nos um pouco destes teus projectos.


A razão que motiva toda esta revolução é um grito no sentido de aproveitar o que é nosso, no que tanto nos diz, e pretende funcionar como um repto para a força, união e evolução deste e de outros movimentos e culturas musicais. Não há tempo a perder. Está na hora de irmos escavar às raízes desta nossa cultura, como arqueólogos do tempo perdido e do sentimento intemporal. Defendo a liberdade de divulgação gratuita do meu trabalho e de todo e qualquer outro tipo de cultura. Acredito na mensagem como recompensa. Mas eu sou louco…



Costumas samplar algum género específico ou década?


Às vezes sou demasiado rígido no que procuro. Existem muitas razões para não se samplar o que é demasiado recente e, por isso, eu não o faço. Não chego a entrar nos anos 90 porque também quero descobrir e ser surpreendido. Desde cedo que havia um fio-de-prumo que começava no José Cid, pela minha infância feliz, e que acabava no fado, a inegável raiz de todo o sentimentalismo português. Decidi começar pelo maravilhoso mundo do Festival da Canção por ser mais acessível (relativamente fácil encontrar discos nas feiras) e fui ramificando. O reportório é gigantesco e há muito boas surpresas que apenas existem em vinil. Por isso, tento cada vez mais descobrir coisas mais raras e obscuras. A busca recompensa…



Samplas de CDs, Internet? Ou apenas vinil?


Preferencialmente do vinil. Tenho andado a aumentar a minha colecção a olhos vistos. O som é mais grandioso e não há nada como o barulho de ovos estrelados logo pela manhã. Mas não me limito a nenhuma fonte. A única fonte que me interessa é o Line-In. Também tento procurar o que me possa interessar pela Internet, desde informação e mp3s ao YouTube e a RTP Memória. Resumindo: há coisas que só existem em vinil, há coisas que só existem na Internet.



Tens alguma regra no que respeita ao início da criação de um beat?


Costumo começar pela samplagem. Passo a maior parte do tempo a ouvir música portuguesa e, logo que apanhe qualquer coisa que me agrade, passo logo para o editor para isolar essas partes com potencial. Aí começa já a surgir um caminho, que até poderá nem vir a ser seguido, mas serve de motivo para começar a construir algo depois. Gosto de construir primeiro a base samplada, a ver como funcionam os loops entre si, e, depois, ir acrescentando o beat e tudo o mais que possa motivar. 



De entre as tuas produções, qual é a tua preferida? E porquê?


Acho que me devo decidir pela “Hino (Instrumental)” porque, logo à partida, tem uma introdução quase perfeita do Raul Solnado, dos seus grandes tempos de “stand-up”. Arranca, depois, uma melodia contagiante (mais uma com o dedinho de José Cid), que a mim transmite sempre um sentimento patriótico incontrolável. A guitarra presente mostra esse sentimento de uma forma perfeita. Sinto-a como o meu hino pessoal de Português… Mas, de momento, tenho andado a sentir muito as minhas novas produções kooltuguesas. 2010 com os dois pés…



Quem são as tuas influências musicais (produtores nacionais e internacionais)?


Em relação a produtores nacionais admito que não tenho andado actualizado. Darei sempre mais valor a quem apresenta algo diferente. Sendo assimm vou ter de ser previsível e eleger o Sam The Kid. Acho que é realmente quem me surpreende da melhor forma. Em termos internacionais também sou um bocado genérico: Premier, Dr. Dre, Kanye West, Timbaland, um jovem RZA. Mas, acima de tudo, eu tento sempre seguir um meu caminho. Conheço demasiados produtores que são “mesmo quase o Dr.Dre” ou que “passavam pelo Premier”… Cuidado Com As Imitações! Façam um dueto com o Fernando Pereira…



E sem ser produtores?


Todas as pessoas que fazem parte deste movimento que mistura a música com arte, com dança, com poesia e improviso; que lutam por um movimento de quase contra-cultura musical (com Iva), onde a mensagem e a ética ainda co-existem. Para todos os que realmente se interessam pela música e não por relatórios do Excel onde o lucro é obrigatório e a música e os autores secundários, eu acredito na música e na liberdade de circulação da cultura.



Ultimamente o que tens ouvido?


Muita música portuguesa. Tento andar a par do que se faz lá fora, mas de uma maneira muito superficial. Prefiro continuar a procurar esse loop perfeito.  


Com quem tens trabalhado ultimamente e que projectos tens para o futuro?


Tenho algumas colaborações na manga mas, essencialmente, tenho andado a trabalhar em novas faixas. Tenho também aproveitado este tempo de introspecção para começar um outro projecto de divulgação musical chamado “Retro-Escavador”, em que pretendo ir lançando compilações regulares com todas as pérolas musicais que vou descobrindo. Estou sempre interessado em tentar alargar o meu reportório musical. E, quem sabe?, futuramente uma compilação onde pretenderei convidar alguns MCs com os quais gostaria de colaborar…



Queres dar umas palavras finais para os leitores?


Estejam atentos: o Kooltuga pretende regressar brevemente. Onde estarão vocês no 25 de Abril? Prometo um ano cheio de novidades. E, finalmente: Não vivam sem a música! Não baixem os braços! Continuem na luta! 




Por: X-Acto


FREESTYLE/2009


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