Um ano depois do álbum "Marcha", na forma de alter-ego Skunk, Kacetado regressa com o terceiro álbum de estúdio, intitulado "Tributo ao Homem".


Freestyle: Fala-me um pouco do teu percurso no Hip-Hop em Portugal.


Kacetado: Bem, em 95 tive o meu primeiro grupo, na altura nem sabia o que era uma MPC, apenas caixa de ritmos. Éramos duas pessoas a tentar fazer aquele mega beat que, até hoje, nunca o vi e era funny porque havia aquela competição saudável entre nós os dois, duas amostras de beatmakers.

Um ano mais tarde juntei-me a outro colectivo, sempre com caixa de ritmos emprestada, quase dada. Nessa mesma altura, em 96, comecei a ouvir Das Efx, que foi uma das minhas grandes influências na escrita. Andava na escola quase a passear os livros, lembro-me do Biggy dos GMS ainda puto, com posters do Pac e Biggy Smalls nos cadernos, bem antes de começar a rimar. Comecei o que chamam de streetlife no Cacém. Na altura com os cotas, a estação dos comboios era uma mina, até que acabei por ir para Angola quase de castigo, com o objectivo de lá ficar 15 dias mas acabei por ficar 2 anos.

Em 97, comecei um outro grupo, o Valetudo, já em Luanda, editámos o meu primeiro trabalho discográfico.

De regresso a Portugal, no ano 2000, conheci o Bomberjack, que na altura estava a preparar o Bomba Relógio, ouviu o meu rap e convidou-me para participar, a partir daí foi só investir nesse projecto, mcing.

Em 2000 também, conheci o Samuel, o Chulla, o Cruz, o Killa, o Xeg, Deus Menos e o Gula, desde aí começámos a trabalhar em conjunto.

Num almoço de família em casa dos meus tios, os pais do Mangrudas, isso em 2001, acabei por saber que o meu primo tinha um amigo que também fazia Rap, esse amigo era o VALETE e o meu primo é o Bonús!

No ano 2002 comecei a fazer umas rimas com o objectivo de editar uma mixtape, mas o Mandela, um AMIGO com letras grandes, incentivou-me a fazer um álbum apenas para o Cacém, onde iria apresentá-lo no IPJ, bom concerto. Nessa altura que conheci o DJ Kronic e TWA. Nunca cheguei a fazer a tal mixtape, foram rimas só para o concerto. Nesse mesmo ano 2002, acho eu, já não me lembro bem, o Cruz tinha começado a Encruzilhada e tinha acabado de editar “1ª Jornada” do Gula. O Valete sugeriu ao Cruz, que ouvisse os sons que eu tinha feito, e daí saiu em 2003 o “Ontem, Hoje e Amanhã” com os tais sons que seriam para a mixtape.

Durante os concertos de apresentação desse álbum, conheci o DJ Link, que era o DJ dos GMS, que acabou por ser o meu DJ em conjunto com o DJ Kronic.

Em 2004, começámos a fazer um álbum, juntos, “Madvision” e como sempre houve aquela química entre nós, e os MCs que já mencionei, resolvemos fazer o álbum em conjunto.

O álbum saiu em meados de 2005, até por acaso, foi nessa mesma altura que o Sam me ofereceu uma MPC 2000.

Em 2006, editei uma Bootleg só com instrumentais, mais ou menos 20/21 beats, mas só alguns tiveram acesso, edição de autor, não havia “pilim” para mais de 300 cópias, mas em 2007, montei um estúdio caseiro e comecei a preparar outro CD.  



O nome Kacetado tem algum significado especial?


Quando andava na escola, no Cacém, isso em 93/94, abusava mesmo de tudo e todos. Tive um problema cardíaco, devido ao excesso de drogas no corpo, má alimentação e fiquei em coma alcoólico. Um tropa, o Bob, mas não era o Rage Sense, lembrou-se desse aka e até hoje ficou. De início ainda pensei “que raio de nome é esse” mas depois até curti, porque tinha mesmo tudo a ver comigo. Espalhou-se muito rápido na linha de Sintra, porque eu percorria aquilo tudo



E Skunk?


Quanto a este, já foi bem mais recente. Em 2006 comecei uma actividade nas ruas, mas num outro campo e daí surgiu esse aka.

Engraçado que hoje, a geração “net sons, apenas me conhece como Skunk, o beatmaker. Sabem que existe um Kacetado, mas nunca ouviram nada dele.



Antes de começares a cantar, quem eram as tuas influências?


Naquela altura tripava com Das Efx, Black Sheep, até o General D, teve influências em mim, vê lá: "BOOM SHAKKA BOOM, CAVACO QUER BUMBO". As minhas influências são um cruzamento desde, o Manré e o Ndengue Paz a Lord Quas.



Actualmente, alguém te influência na tua música?


Bro, quando fazes música, independentemente de ser boa ou má, tens sempre influências, seja de alguém da música ou não. Há beats feitos recentemente e outros mais antigos em que as minhas influências foram Lord Finesse, o toque de swagga do J Dilla e do Madlib e ainda cruzo com aquele registo de Bassline do Pete Rock e claro os meus filmes porno, mas não digas a ninguém!

Influencio-me em várias coisas quando estou a fazer uma música, e tento ao máximo manter a minha sonoridade.

É bom ouvir que isso é um beat do Skunk, mas podia ser do Pete ou do Dilla, percebes onde quero chegar.



Gostarias de trabalhar, produzir ou rimar num álbum de algum dos artistas que mencionaste?


Eu trabalharia com todos eles, aliás trabalho com alguns deles, se fosse possível, até juntava os Americanos que mencionei com os Portugueses que também mencionei.

Faria um projecto com o Sam e o Xeg a rimarem, apenas, por cima dos beats do Skunk por exemplo.

 


Desde 2002 que tens vindo a trabalhar com nomes importantes como Chullage, Sam The Kid, Xeg, entre outros. Na tua opinião, qual o Rapper que melhor representou ou tem representado cultura Hip Hop em Portugal? 


Sinceramente não te sei responder a essa pergunta, porque todos eles o fizeram e fazem de formas diferentes...



Qual é a tua peça favorita no equipamento que utilizas para fazer beats?


Bro, essa pergunta é funny. A minha peça favorita no equipamento que utilizo? É a disquete de arranque.



Porquê?


Porque tem o sistema operativo da minha MPC.



Que conselho darias, aos produtores que estão a começar? 


Não samplem os meus drums, façam os vossos, de resto, bom trabalho no diggin, porque a caça do sample certo, está escassa.



Quais são os elementos essenciais numa faixa de Skunk aka Kacetado?


A minha identidade, se não me identificar com o beat, por exemplo num beat Skunk, passo o beat para outra pessoa.

 


O que um artista necessita de ter para colaborar contigo?


É necessário existir uma boa química entre nós e claro temos de conhecer os trabalhos uns dos outros.

O que tens a dizer sobre o estado actual do Hip Hop?


O Hip Hop Tuga actualmente, tem estado separado. Muitas confusões que até hoje não percebi, intrigas criadas, o disse que disse, depois já existem pessoas que não têm nada a ver com o assunto e já querem opinar. Este não gosta deste mas não sabe o porquê. As vendas dos álbuns crescem a passo de caracol, o download é aquilo que já sabemos, não é? Mas no meio disso tudo faz-se bom rap em Portugal.

É este o estado actual do Hip Hop Tuga, para mim.



Achas que a famosa citação de Nas, "Hip-Hop is dead", adequa-se à realidade Portuguesa?


Vê bem, o Hip Hop português ainda é um bebé ao lado do americano, e já se pode dizer que o Hip Hop Tuga is almost dead! Mas ainda somos pequeninos e já queremos dar um passo maior que a perna.



Qual é a tua posição em relação à promoção de drogas, álcool e sexo na cultura Hip Hop?


Isso acontece naturalmente fora da cultura Hip Hop.

Pode ser transmitida em letras, por exemplo, porque é algo que faz parte do dia-a-dia.

No caso dos Rappers portugueses, acho que promovem mais hoje em dia o Ego Tripping, mas também não estou dentro a 100%, não sei de tudo o se faz no Hip Hop Tuga.

 


Podes falar um pouco sobre o teu novo álbum "Tributo ao Homem"?


O “Tributo ao Homem”, como diz o nome, é uma dedicatória ao homem no geral, tento falar um pouco dos podres da sociedade portuguesa, dos incidentes nos bairros, que acabam por ser parecidos. Faço um apanhado da minha vida, dos problemas que enfrentei, que alguns ainda hoje enfrento, falo da educação e de como será o meu e o futuro da humanidade, porque tenho filhos e isso é um facto que se vai sentir em peso no álbum.

Acho que está um álbum bem mais maduro, com mais objectivos. Quanto a participações irá ter algumas.


 

Tencionas dar muitos concertos ou é só um álbum de estúdio?


Claro que tenciono, esse é um dos meus objectivos.

Quero fazer com este álbum o que não fiz com os outros todos, quero tocar de norte a sul do país, e vou trabalhar para que isso aconteça.



O álbum vai ser lançado de forma independente pela Footmovin, correcto?


Footmovin? Não.

Ainda estou a fazê-lo e todas as propostas são bem-vindas. Tenho que saber primeiro o que é mesmo bom para mim, depois…

Ainda estou a fazer o álbum para já, e estou mais focado nisso.



Tens algumas expectativas comerciais para "Tributo ao homem"?


Como em qualquer ramo, queremos sempre que o nosso peixe venda bem, que os clientes reclamem, mas de satisfação, é como tudo. Queremos estar em grande naquilo que fazemos. Mas sinceramente como anda este mercado, só vendo.



Para finalizar queres acrescentar algo à entrevista?


Beijinhos e abraços!

TRIBUTO AO HOMEM!

SKUNK/KACETADO.




Por: Joaquim Meireles 

Fotos: Martim Borges


FREESTYLE/2010

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