São de Palmela, dignos representantes da vertente b-boying nacional, transportam o pulsar da dança e quase uma década de constante evolução. Inspirados pela imponente vista do Castelo, falámos com três dos elementos que compõem a crew, In Motion. 


Freestyle: Tracem-nos a linha histórica da vossa crew


Cisco – Eu já conhecia o Speedy. Nós fomos a um workshop de Hip Hop dado pela C.M. Palmela, em Setembro de 2002, e a partir daí começámos a praticar, a ver vídeos, ver os movimentos em câmara lenta no computador, a tentar imitar os moves. Treinávamos na rua, onde começaram também a aparecer outros miúdos a quem nós ensinávamos… 

Speedy – Na altura entrou o Fat Bastard (com 13 anos) e mais 2 miúdos, o Pica-Pau e o Mighty Mouse, que depois desistiram por causa dos pais e dos vizinhos a quem não agradava muito a ideia do que fazíamos, por medo e desconhecimento. Só ficou o Fat, já que da casa dele a mãe podia observar os nossos treinos e ver como estávamos a praticar algo saudável e divertido. Depois o Cisco e eu entrámos para a faculdade, ele para Évora e eu para Lisboa onde conheci a Lady Bug, que na altura pertencia às Butterflies. Ela começou a treinar connosco e integrou o grupo em 2004. Houve ainda outros elementos que pertenceram à crew, como foi o caso do Guebz que permaneceu mais tempo, mas que entretanto regressou ao seu grupo de raíz, os Wild Effect. Há cerca de 2 anos conhecemos o Guga, num dos treinos de rua no Oriente, ele também é de Palmela e acabou por treinar assiduamente connosco e juntar-se à crew. Consideramos também o Hugo Marmelada do nosso grupo, apesar dele ser top style, mas a maneira dele estar na dança é muito parecida com a nossa filosofia e juntos acabamos por completar conhecimentos. Aliás, ele participou recentemente numa competição que houve nas Caldas da Rainha “Can U Smoke The Queen”, onde eu entrei com o Fat e o Guga entrou com o Hugo, porque o Cisco estava lesionado na altura.



Há mais crews aqui em Palmela e arredores?


Speedy – Há os Crashers no Alentejo, que são uns miúdos que começaram há 2 ou 3 anos, e também os Wild Effect, que entraram no último campeonato “Can U Smoke The Queen”, penso que ainda estão no activo. Já houve tempos em que treinámos todos juntos, mas os miúdos do Alentejo de vez em quando ainda vêm treinar connosco.  



Costumam treinar onde?


Speedy – Os primeiros 5 anos treinámos na rua, num parque infantil com oleados por cima do tartan. Agora, há cerca de 2 anos, tivemos a sorte dos Bombeiros Voluntários de Palmela nos cederem o ginásio para treinar. Foi o “Boom” de evolução para a nossa crew, tanto que as competições que ganhámos foram as mais recentes.  



Num parque infantil devia atrair muitas crianças. Porque não há mais miúdos a treinar?


Speedy – Atraía imensas. Nós ensinámos quase todas as crianças que existem em Palmela. Se tu perguntares a um miúdo qualquer o que é um six step, ou um baby freeze ou um L-Kick ou qualquer outra coisa, eles sabem fazer.



Mas depois não permanecem… 


Speedy - Não porque em Palmela o desporto rei é o futebol, há uma tradição muito grande devido ao Vitória de Setúbal que é uma equipa de 1ª divisão e os pais gostam é de ver bola. Então, mesmo que comecem connosco, depois na escola jogam futebol e a assiduidade dos treinos acaba por ser trocada pela bola. Até os pais acabam por não deixar porque acham que isto é uma dança esquisita e têm medo que se possam aleijar. 



Além do treino, como é que se evolui?


Speedy – O mais importante na evolução de um B-boy é a pesquisa pessoal. Procurar encontrar um estilo próprio, seja nas influências que tens em teu redor, seja nas coisas que gostas. Os b-boys iniciais não se inspiraram uns nos outros, inspiraram-se noutras coisas, no James Brown, nos Nicholas Brothers, etc. A inspiração tem de vir de algum lado, pode ser o sitio onde vives, como o Castelo, no nosso caso, ou de outras coisas. Quanto a mim é muito importante viajar, entrar em competições, partilhar a cultura com B-boys de diferentes sítios, porque todos temos uma filosofia e uma realidade diferente. Vês outros países, outros B-boys e outra maneira de estar numa roda, outra maneira de entrar na música. 



Já foram lá fora, como é a experiência?


Speedy – Só estivemos no UK Championship, onde eu e o Fat competimos e chegámos aos oitavos de final na Seven to Smoke. Foi uma experiência incrível, adorámos e mudou a nossa maneira de ver o b-boying porque não há hierarquias, todos os B-boys são iguais, não há superioridades, há apenas a dança na música. 

Cisco – É uma inspiração estar ao pé do Claud, Louigi, Lil John... ver como eles dançam, porque muitos no b-boying não sabem realmente o que é a dança e essa é a maior evolução. Perceber que b-boying não é moves, não é air tracks, não é flares, não é um desporto, não é ginástica mas sim uma dança onde tens de ser expressivo, ter atitude, carácter, conhecer as bases, ter noção de onde é que tudo começou. Saber se é importante ou não fazer um determinado move em determinada altura. Há muitos B-boys, hoje em dia, que não estão realmente interessados em dançar mas sim em fazer moves. E vê-se nas battles, quando se faz um air track, toda a gente grita “ehhh!”, fica tudo maluco, mas isso não é a verdadeira essência do B-boy, b-boying é festa, é dança, estar com a alma no som, como vimos realmente nesses b-boys de topo. Ao pé de nós nem sequer faziam moves difíceis, apesar de terem a técnica, são realmente dançarinos, cuja criatividade e originalidade, fazem deles bons B-boys. 



Organizaram o Breakers Revenge em 2009 e 2010. Como surgiu a ideia?


Speedy – Breakers Revenge é a nossa dedicatória à cultura Hip Hop. Porque é nas jams e nas battles que os B-boys realmente se ligam e as crews ganham mais motivação para treinar. Quando tivemos conhecimento da primeira competição de b-boying, ficámos super contentes, lembro-me perfeitamente que foi uma motivação extra para treinar. No fundo, o Breakers Revenge surgiu como a nossa vontade de mostrar às pessoas o que é o b-boying e o que é a cultura Hip Hop. Dar uma oportunidade aos B-boys, sobretudo aqui na parte sul, de entrar em contacto com B-boys e DJs de nível internacional, é uma espécie de Eurobattle aqui em baixo. 



E já trouxeram vários artistas de fora...


Speedy – Sim, trouxemos o B-boy Just Do It e o Menno, o Dj Siens no primeiro ano, e agora no segundo ano, os B-boys Gassama, Arthur (dos Deep Trip) que é um B-boy português que está na suíça, e também o DJ Renegade, de Londres, que é considerado um dos melhores DJs, está em todos os grandes eventos. 



Qual a evolução do evento nestes 2 anos?


Speedy – Sentimos grande diferença. Nós somos b-boys, por isso no primeiro ano o evento foi só dedicado ao b-boying. Preocupámo-nos que o chão fosse bom para dançar, a música tivesse nas melhores condições, que começasse e acabasse à hora prevista, o que é raro acontecer. No segundo ano adicionámos outras vertentes do Hip Hop e outros estilos de dança, o que acabou por dar uma dinâmica completamente diferente. Havia pessoas a dançar em diferentes estilos simultaneamente, no mesmo espaço. Houve jam de graffiti, conseguimos um muro enorme para ser pintado pelos writers. Em princípio, a partir deste ano, esse muro vai ser sempre renovado na data do nosso evento. 



O que gostavam de acrescentar ao evento?


Speedy – Mais crews internacionais, embora tenham vindo algumas crews de Espanha, nós gostávamos de dar oportunidade aos portugueses de competir com mais pessoas de fora, porque como disse antes, a interligação de diferentes culturas, diferentes B-boys e diferentes maneiras de ver o b-boying, faz crescer a cena nacional. 



Quem são os vossos gurus?


Speedy – Os meus gurus nem são B-boys, são outras personagens. O meu guru é o James Brown, são os Nicholas Brothers, é o Fred Astaire, são influências completamente fora que me inspiram. Eu não gosto muito de me inspirar em B-boys, embora haja alguns que me influenciaram imenso no início, como o Storm, o Ken Swift ou a crew dos Flying Steps. 

Fat B. – Mas no mundo actual do b-boying também há alguns que nos inspiram como o Lil John, ou o Focus… 

Speedy - E mesmo a crew dele, que é a Flow Mo Crew, tem uma maneira diferente de estar no b-boying. São apaixonados pelo top rock e pelo improviso, tal como nós. Hoje em dia os b-boys escrevem muito sequências no papel e isso acaba por cortar um bocado a alma da dança e torná-la num desporto. Por isso é que falamos do Lil John e de outros b-boys como o Havikoro, o K-mel, o Remind... até mesmo Mr Wiggle, para mim, é uma grande influência porque a maneira dele dançar em cima influenciou muito a minha maneira de fazer top rock, já que inicialmente também fiz um pouco de popping e gostava de electric boogie também, boogaloo..



É inevitável fazer-te uma pergunta mais intimista, que tem a ver com o facto de não teres um antebraço. Isso não te inibiu de entrar e evoluir no b-boying?


Speedy – Não, e posso agradecer principalmente ao Cisco que em vez de ter cuidado comigo por causa de eu não ter o braço, era ao contrário, ele dizia “deixa de ser parvo, tu consegues fazer as cenas na mesma, treina porque fazes tudo tão bem como os outros. Isso não é uma restrição, é uma diferença. E se é uma diferença podes usá-la para ser original.” Foi sempre assim que o Cisco, e o Fat também, me fizeram encarar este “problema”. 



Quais são os vossos sonhos?


Speedy – Continuar a dançar juntos, pelo mundo fora, competir e ter oportunidade de estar em grandes eventos. Não há nada que me tenha dado mais gozo do que ter estado em UK, com o Cisco e com o Fat a competir, estarmos fora do país, juntos numa grande battle, a ver grandes b-boys e conhecer gente diferente. No fundo é isso que pretendemos, conhecer diferentes sítios e sermos influenciados por outras coisas, andar por aí fora a dançar. 



Palavras finais 


Speedy – Um prop no geral à cultura nacional do Hip Hop, aos grandes DJs que vão às discotecas e não têm medo de passar música a sério para os b-boys e para as pessoas dançarem. Uma dedicatória também a todos os b-boys que dançaram, partilharam conhecimentos e estiveram juntos connosco em algumas jams. Que continuem fortes e a treinar, mantenham a cena! Um prop geral à cultura nacional, inovem, estejam presentes e realmente conheçam a cultura na sua máxima expressão. 




Por: Sofia Meireles

Fotos: Martim Borges


FREESTYLE/2010


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