O DJ Sas iniciou a sua carreira de DJ e Produtor em meados dos anos 90. Trabalhou com nomes grandes do Hip Hop Tuga, tais como Chullage, Nigga Poison, Ghoya, Celso, Twa, Kosmikilla e J.J., entre outros. Com um status legendário no Hip-Hop em Portugal, devido às suas inúmeras mixtapes e percurso, a entrevista era incontornável.


Freestyle: Qual foi o teu primeiro amor, DJing ou produção?


DJ SAS: DJing, mas sempre com o objectivo de, um dia, me tornar produtor.



Para muitos pode ser novidade, mas tu também gostas de rimar. Fala-nos sobre isso.


Comecei a rimar no fim dos anos 80. Escrevia umas rimas fracas, pois ainda era puto. Antes de vir viver para a Tuga até cheguei a escrever um álbum de 12 faixas, mas nunca o gravei. Como à minha volta só havia MC's, desviei-me mais para o DJing, que me atraiu muito na altura.



Sentes alguma responsabilidade por seres um dos pioneiros das mixtapes em Portugal?


Nenhuma. Faço os meus projectos como sempre fiz, sem pressão e com total liberdade. O meu objectivo nas mixtapes foi sempre o mesmo: promover os artistas da cena Hip-Hop nacional e internacional. Para mim isso é a verdadeira essência da mixtape - promoção artística e divulgação.



Já passaram quase 13 anos depois da tua primeira Mixtape, "Ataque Resistente". Passados este tempo, como vês o estado do Hip-Hop na Tuga?


Bem, acho que reflecte a situação do País: está em crise (risos). Crise de identidade, crise artística, corrupção e falta de unidade. No fundo, reflecte a mentalidade do País. Isto tornou-se um negócio para muitos. Há muito gente a cair de pára-quedas, faz uns trocos com o pessoal e baza. Os intervenientes têm de perceber que enquanto não houver um movimento forte, não haverá uma cena forte. As mentalidades também importam muito. Não estou a tirar o mérito dos trabalhos que têm saído, temos bons trabalhos, mas também temos muita merda. Enquanto não houver uma limpeza a este nível, as coisas não vão para a frente. O Hip-Hop Tuga tornou-se um movimento sectário. Uns bloqueados (??? TIAGO NÂO ENTENDO????) aqui, por outros ali. Há muita falta de conhecimento. Muitos fizeram carreiras com o trabalho e imagem de outros. Vai à rua, pergunta e verás. É claro que há coisas positivas que aconteceram nos últimos anos, mas não caíram no bom sítio.



Onde está, para ti, a verdadeira essência do Hip-Hop?


Nos Ghettos, nos bairros, nas classes sociais mais desfavorecidas. Hoje em dia, uns dão para gangster e para espertos. Acima de tudo e todos, o Hip-Hop não é isso. Eu não sou gangster, nem possuo uma etiqueta. Eu sou eu, jovem, filho de emigrantes, criado num bairro social, num ambiente multi-cultural. O Hip-Hop é isso. Movimento, cultura e a luta de pessoas desfavorecidas e suas consequências. A origem do Hip-Hop está nos guetos negros Americanos. A América é um estado capitalista e, por isso, lá o Hip-Hop tornou-se capitalista. Também reflecte a ascensão social e cultural dos negros que lutam desde o tempo da escravatura. Essa luta começou na Europa depois da II Guerra Mundial. Em Portugal, o pessoal mais "Morangizado" tem que respeitar isso e não andar a gritar com a bandeira do Hip-Hop, como se aquilo fosse um movimento de putos betinhos armados em bonzões, todos a gritar "yo yo yo". Nas ruas isso não se perdoa!



Com o Hip-Hop a ser consumido lentamente por máquinas corporativas de dinheiro, tens alguma posição em relação a cultura MTV e bling? 


Fuck that, new world order!



Quando pensamos em grandes produtores (DJ Premier, Pete Rock, Marley Marl), todos começaram por ser DJ'S. Hoje muitos fazem apenas batidas. Porque que achas que existe uma crescente perda de ligação entre o DJ e MC?


Os valores perdem-se, as pessoas esquecem-se dos fundamentos do Hip-Hop, da história, das ruas regras, etc. Quando não se tem conhecimento, à partida, as coisas não se ligam como deviam. O sistema e a evolução tecnológica também contribuíram para isso. O Hip-Hop, em qualquer sítio do mundo, é o espelho social e cultural do País.



Nos teu álbuns “Apenas Dicas” e "Game Over" tens uma grande variadade de MC's, como  Kosmikilla, Riko, Naughtyganja, Khalaf, Ghoya, entre outros. Algum motivo especial para a escolha deste elenco?


Nada de especial. Trabalho com as pessoas que se cruzaram na minha vida e observei que eram o que diziam ser. Pessoas com quem partilho grandes sentimentos de amizade e respeito, tanto em termos pessoais como artísticos. Eu não descrimino ninguém, o fundamental é respeitar as pessoas como elas são.


Trabalhaste recentemente no álbum de Naughty Ganja. Como correu?


O álbum foi produzido em 2007. Processo simples: eu e o Naughty juntámo-nos durante seis meses e realizámos trabalhos tendo um projecto conjunto. É o mesmo de sempre, produzir beats, gravação, mistura e master.



Tens algum processo especial criativo para fazeres os beats?


Nada de especial. Ouço vários tipos de música e isso é o meu processo criativo. Samplar ou compor uma melodia de base e desfrutar das batidas.



Recentemente, quais foram os MC's que contribuíram com as tuas produções? 


Tenho trabalhado para o Ghoya, para futuros projectos. Estou a trabalhar numa mixtape de batidas com o 1ºG. Há pouco acabei de produzir 1/4 do álbum de estreia do Riko (AZ) previsto para 2011. Também estou a preparar umas produções para o álbum de estreia da Vilma B. Tenho outros projectos em vista, como o meu segundo álbum e uma nova mixtape.


Durante a tua carreira trabalhaste com os nomes mais importantes do Hip-Hop em Portugal. Qual foi o artista com quem mais gostaste de trabalhar e porquê?


Todos. De outro modo, não teria trabalhado com eles.



Estás em estúdio a gravar o teu próximo álbum "Alerta Vermelho". Como está a correr o trabalho de estúdio?


A progredir bem. Já estamos em processo finalização. O álbum está previsto para Junho de 2010.



Em que estúdio estás a gravar?


No meu homestudio. Com a tecnologia já se pode fazer um trabalho aceitável em casa. É a melhor aprendizagem para mim. Mas claro procura-se sempre evoluir, por isso o futuro passa por trabalhar  noutro estúdios.



O Kosmikilla, Vilma e ShakaOne também fazem parte deste projecto. Fala-me sobre isso.


É um projecto que tínhamos em mente à algum tempo, e foi iniciado em Dezembro passado. A base do projecto é o Kosmikilla, Eu, o Shakaone e Vilma. Iceman e Ghoya são convidados  especiais.



Vai ser um lançamento da editora S950?


Exacto. Edição digital e estou a estudar uma edição física.



A editora é gerida por ti?


Sim, é uma label digital.



A S950 funciona como uma plataforma digital. Porque estás a optar pela distribuição digital?


Por várias razões óbvias, como a simplicidade, desburocratização, o custo. Por mim o formato digital é o formato do futuro.



Tencionas continuar a lançar álbuns e mixtapes em formato físico?


Sim, enquanto houver ouvintes nesse formato.



Queres acrescentar mais alguma coisa a esta entrevista que não tenha sido dita?


“Alerta vermelho” brevemente on line e nas ruas. Um abraço para todos os que contribuíram para o meu trabalho e sempre acreditaram em mim. Abraços. Keep it real.




Por: Joaquim Meireles

Fotos: Martim Borges


FREESTYLE/2010

This free website was made using Yola.

No HTML skills required. Build your website in minutes.

Go to www.yola.com and sign up today!

Make a free website with Yola