DJ Ride vai disponibilizar, ainda antes do Verão, uma promo gratuita para adoçar o interesse no segundo álbum de originais, a lançar no final do ano. Conquistou a aceitação da sua arte pelo público, de grandes músicos da nossa praça e até dos próprios pais, depois de comprar a primeira mesa e pratos, elevando-os à categoria de instrumentos musicais. A mais recente revelação do Hip-Hop tuga conta à Freestyle o percurso, o presente e os planos para o futuro

Era uma vez…


A atracção pela música foi-lhe diagnosticada desde cedo. Aos 8 anos começou a formação clássica de teclados. Ainda assim até aos 13, o rapaz que viria a transformar-se em DJ Ride, gostava mais de estar com os amigos e jogar futebol do que do compromisso com os teclados. Resultado: deixou a música, naquele formato, «talvez pela rigidez do ensino», conta. E explica: «o que gostava de fazer não era propriamente aprender música clássica. Daí ter desviado a atenção para outro tipo de actividades».


DJ Ride passou a primeira adolescência a andar de bicicleta, a jogar futebol e a fazer manobras no skate park, mas acabou por voltar à música aos 17 anos. Relegou os estudos para segundo plano, opção que não agradou aos pais, e arranjou um emprego de Verão numa loja de bicicletas, estratégia que lhe permitiu comprar a primeira mesa de mistura e os pratos. «Nessa altura os meus pais lutavam para que seguisse os estudos e não tive ajuda monetária mas, obviamente, dessa forma a conquista teve outro gosto. Saiu tudo do meu bolso e se tivesse sido diferente não teria a mesma piada. Comprei o material só mesmo para fazer scratch. Na altura, nem sequer tinha a ideia formada de que viria a ser DJ».


Aceitação e sucesso


No caso de DJ Ride a ligação à música «não tem a ver com aquela conversa de: “ah e tal o meu pai tocava um instrumento ou a minha mãe cantava”. O meu gosto pela música não é propriamente hereditário. Os meus pais sempre ouviram música, sim, mas o estilo deles nem tinha muito a ver com o que eu ouvia, nem tão pouco com as minhas raízes que são o funksouljazz… Eles preferiam rock»


«A partir do momento em que comecei a ter o meu trabalho mais exposto, uma outra visibilidade e a ganhar dinheiro à custa do meu próprio esforço, conquistando independência económica, os meus pais começaram a perceber que nada havia a fazer. Eu não ia voltar atrás na minha decisão». E remata: «no início estavam muito cépticos, mas depois começaram a ver os resultados do meu empenho e dedicação».


Ride já ganhou vários títulos de relevo em campeonatos de scratch. Mas foi depois de vencer a primeira grande prova ITF, em 2005, que os convites foram surgindo e os pais começaram a aceitar a ideia. «Hoje em dia apoiam muito mais», diz. «Qualquer mãe idealiza sempre que o filho tem de estudar, porque viver da música em Portugal é uma hipótese muito remota e, no início, os meus pais estavam mesmo muito cépticos». Actualmente, DJ Ride já conquistou um patamar de reconhecimento profissional no mundo da música que lhe permite viver dela, desdobrando o trabalho em quatro vertentes: DJ, scratch, produção e colaboração com bandas, atingindo o sucesso em qualquer uma delas.


Vive de e para a música

Para Ride «foi tudo um processo muito rápido: desde os campeonatos, à minha participação activa na produção e composição, o convite da Loop Recordings para gravar o primeiro álbum em 2005 [o álbum saiu em 2007 mas, anos antes, já havia contactos nesse sentido]. Falava com o Rui Miguel Abreu desde as minhas primeiras maquetas [em 2002]. Comecei a tocar com o D Mars no projecto - Rocki Marciano, mais virado para o jazz e o soul, e as coisas foram nascendo de uma maneira muito natural. Gerou-se uma forte amizade, enquanto lhe ia mostrando o que andava a produzir e acabou por surgir o convite para fazer o Turntable Food.




A descoberta…


DJ Ride eleva os pratos à categoria de instrumentos musicais, percebendo as potencialidades do gira-discos a partir do momento em que começou a manipular sons em intensidade, velocidade e tom. «Podemos sacar várias tonalidades de um mesmo som. Por isso, em meu entender, o gira-discos deixa de ser apenas um objecto para passar a ser um instrumento musical tão válido como qualquer outro». E desenvolve: «inclusive, por altura das comemorações do 25 de Abril fui convidado pelo pianista João Lucas para integrar uma homenagem à música de intervenção popular, em Almada, como percussionista. Tocámos Fausto e Sérgio Godinho, entre outros, e eu e os meus pratos fomos um único músico, como o é um pianista ou um baixista. O limite é a imaginação!»


Produção e Pesquisa


Relativamente ao modo de fazer produção, DJ Ride refere: «Sou um caso atípico porque a maior parte das pessoas que vêem da escola Hip-Hop, como eu, trabalham sempre à volta de samples e loops. Eu comecei assim mas, actualmente, trabalho muito com sintetizadores, MPC’s e teclados». E acrescenta: «talvez a minha preferência pelos teclados tenha directamente a ver com a formação inicial que tive na escola. No entanto, se me pedirem para tocar alguma coisa de início ao fim já não consigo. Mas a influência vem desse tempo, sem dúvida».


A diferença acentua-se porque, diz Ride: «Enquanto há pessoal que sampla sons de soul, sons pesados com violinos e orquestras, eu gosto mais do caminho electrónico, jazístico e de funk. Para isso trabalho quer com teclados quer com samples, utilizando-os de uma forma diferente do que os produtores da old school Hip-Hop».


Ride mistura ainda mais, afirmando: «Também samplo bastante os meus amigos». O músico explica: «Opto várias vezes por convidar os meus amigos para tocar e depois samplo-os, numa visão um bocado diferente do habitual e comummente aceite. Exemplo disso são os trabalhos que já fiz com o Rodrigo Amado, um dos melhores saxofonistas nacionais, ou com o André Fernandes, que é um grande guitarrista português. Faço também muita produção com o DJ Ovelha Negra que também responde pelo nome de Stereossauro; ele toca guitarra baixo na precursão. Seria um desperdício não aproveitar os meus amigos, além de que me dá muito prazer sampla-los».


O caminho electrónico, a absorção da arte dos amigos e os discos antigos são as fontes de eleição para samples, na vertente de produção que gosta de criar sem regras fechadas. «Ainda para mais o meu estilo é completamente ExPerimeNTal. E em vez de ir privilegiar os loops de funk e soul exploro outros caminhos», remata.


Why not?


DJ Ride gosta de classificar o seu estilo, na descoberta da música que faz, como puramente ExPerimeNTal. «No início era muito funk e soul mas hoje em dia é mais electrónico. Talvez por influência das últimas colaborações com Micro Áudio Waves e André Fernandes, que trabalha o jazz com fundo electrónico [entrou no seu álbum com o Alexandre Frazão e Mário Laginha]. Entrei no festival One Man Band do Legendary Tiger Man, com o Slimmy que está completamente fora do contexto de onde eu venho e funcionou muito bem devido ao denominador comum, que é a electrónica. De certeza que toda esta fusão me influenciou.»


Ride tem uma visão de oportunidade apurada relativamente à criação musical ligada à electrónica: «Tenho a certeza de que há muito mais a explorar neste campo do que propriamente na vertente old school. Este é um caminho ainda por descobrir, sendo muito mais fácil criar alguma coisa nova utilizando os teclados do que utilizando os mesmos loops, quatro por quatro, e ter um instrumental sempre com o mesmo loop do princípio ao fim».



Preferências & paixões


DJ Ride já passou por Amesterdão, Londres no Nothing Hill Arts Club, Polónia, Holanda e Espanha. Em Portugal toca no Armazém do Chá no Porto, Plano B, Lux, Chocolat City e Music Box. Elege os live acts como a ramificação da música que lhe dá mais prazer executar. «Gosto muito da performance e da produção nos live acts. Como DJ dá-me muito prazer. É totalmente diferente o feeling de estar só a passar música de outras pessoas, comparado com a composição no momento, tocando as minhas próprias músicas». Para explicar: «esses momentos são um misto de expectativa, de orgulho profissional, de consolidação de um trabalho, que por vezes demora meses a ser feito, e de adrenalina, por estar a ver a reacção directa das pessoas à minha música».


O que anda a fazer…


No início deste ano, DJ Ride lançou, gratuitamente e em parceria com a equipa Red Bull, o primeiro projecto de vinil português só de scratch«Este trabalho representa a concretização de um sonho. Sempre quis produzir o meu próprio vinil para scratch». E adianta: «De um lado, tem instrumentais e sons para scratch e do outro, tem teclados, sintetizadores, sons captados na rua, batidas…»


Desde 24 de Abril está disponível em  HYPERLINK "http://www.optimusdiscos.com" www.optimusdiscos.com um EP com oito faixas para donwload gratuito, dando continuidade ao lançamento do 180 Gr, específico de scratch para DJ. O formato físico, para quem quiser apoiar o trabalho de Ride, de uma forma mais directa, está disponível nas lojas da especialidade. «Beat Journey tem oito músicas e é a continuação do que tenho andado a fazer a nível de produção. Tem os Supa numa faixa, tem Stereossauro noutra, e dub step bem como outras faixas mais break beat. Muita música, portanto».


Educação e Bom-Senso


DJ Ride utiliza as novas tecnologias como um complemento mas admite que «também possam ser vistas como desvantagem», porque «as pessoas têm cada vez mais tendência para optar pelos formatos digitais e deixam de apoiar as lojas e os artistas com a compra de música em vinil ou mesmo noutros formatos»


Para Ride a música é um bem essencial. Em cada dia compra cada vez mais música e considera essa compra como engrenagem essencial que dá vida a toda a máquina musical. Segundo o próprio, a pirataria que tão facilmente se pratica na internet«acaba por ser uma questão de bom senso, ou de falta dele. Sacar uma música é quase a mesma coisa que roubar um carro. As pessoas podem até rir deste exemplo, mas faz todo o sentido. Eu dedico praticamente as 24 horas do dia a fazer música…, se não tiver retorno do trabalho que faço, vou viver do quê? Como consigo dar continuidade ao processo criativo?».


Competição pessoal


DJ Ride evidenciou as suas qualidades musicais em campeonatos de turntablism que requerem muita atenção, energia e dedicação. De tal forma o fez que chegou a ultrapassar muitos veteranos nessas andanças. «Hoje, competir implica deixar para trás a produção. Tenho de treinar meses e meses a fio para chegar lá e fazer boa figura. Por isso, quero continuar a estar presente em competições mas em equipa, com os Supa. Inclusive, já ganhámos nessa categoria».


Para rematar: «O meu objectivo agora é fazer música descontraidamente e tentar evoluir no caminho experimental sem a ansiedade de provar o que quer que seja, a quem quer que seja. A competição que quero que exista é aquela que tenho comigo próprio e com o que se faz a nível internacional, estabelecendo prioridades».




Por: Cátia Viegas

Fotos: Martim Borges


FREESTYLE/2009


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