Começou a misturar discos por brincadeira em 1994. De Micro a "Bullet" até aos trabalhos a solo como Sr. Alfaiate, já conta com dois campeonatos ganhos: ITF 2005 e o DMC 2008. Hoje é das maiores referências no turntablism nacional. A Freestyle encontrou-o na sua cave, uns pisos debaixo de terra para saber como tudo começou.

Freestyle: Em que ano é que começaste a ter contacto com a cultura Hip-Hop?


NelAssasin: A primeira cena foi o Djing por volta de 1994, com o Wise. Nós juntávamo-nos a fazer djing. Na altura já passavam discos na nossa mão como Public Enemy, Digital Underground, entre outros. Mas a música foi mesmo o meu primeiro contacto. Os graffiti também apareceram por volta dessa altura, mais uma vez através do Wise. 



Há quanto tempo és DJ?


No inicio é uma brincadeira, tu nem sabes bem o que vais ser, estás em vários estilos, só queres é mixar sons. Considero-me DJ a partir de 95/96, foi quando me cansei de mixar, comecei a treinar scratchcortava em mesas só com cuts, não tinham fader. Nessa altura usas tudo o que tens, o que der para cortar e alterar o som. O Wize foi o primeiro gajo que eu vi a fazer scratch. Um dia chegou a minha casa com um disco, com um autocolante, e disse: vem a minha casa que eu preciso de te mostrar uma cena. Pôs o disco e começou a fazer scratch, eu fiquei parvo. Nessa altura ouvíamos muito áudio porque não havia imagem, cá não chegava nada. Só nos states.

Quando apareceu o colectivo Micro?


Veio nessa altura também, tive uma ligação com o Rapública, era watcher, através do meu irmão. Ele foi o primeiro a mixar de nós todos. Nessa altura já estava muito mais à frente e apanhou logo a cena, foi ele quem nos ensinou a mixar. Se ele fizesse scratch hoje em dia, fazia com as duas mãos. O grupo onde ele estava Zona Dread teve sucesso mas acabou por causa de uns desentendimentos. O D-Mars já se andava a mexer, foi buscar o Sagas, com quem eu também andava (é como se fosse o meu quinto irmão) e foi assim que nos juntámos. Formámos os Micro e lembro-me de ficarmos quase dois anos a gravar, tínhamos quase 50 sons e fomos dar uns concertos. Críamos a Microlândia Connections que era para ser uma editora que iria apadrinhar outros projectos da zona, mas não andou para a frente. Gravámos o primeiro álbum «Estratégia» ainda em bobine. Nunca saiu porque o nosso manager bazou, não atendia telefones nem nada. Fomos abaixo com isso, mas não desistimos. Fizemos outro álbum, o Microestática, e quando saiu rebentou! Micro também era graffiti, nós estávamos espalhados! Era o Youth, o Wize o Exas todos tagavam micro, o Mosaik também andava a pintar.


Fala da tua discografia.


A minha primeira mixtape foi em 96, «primeiro assasinato» que até teve um beef com o DJ Bomberjack que tinha lançado a primeira mix com Mc´s. E o Knowledge dava uma rima: «eu rimo mais do que o assassino faz scratch».O bomberjack cortou o meu nome e pôs o dele. Esse foi o primeiro beef da tuga! Achei alto desrespeito. Essa mix fazia parte de uma série de cinco actos, os assasinatos. Isto de 1996 até 2000. Entre essas mixtapes sai o álbum «Microestática» em 97. 2000 foi o «Microlandeses» e 2002 o último álbum de micro que era o «Demostyle». Entretanto, também saiu «Bullet» um projecto que tenho com o Armando Teixeira, dois álbuns em 2003/2004. Saiu o «Timecode» em 2005, fiz a série «Sr. Alfaiate» e a seguir o «Reconstrução». Saiu agora, só para download, a mixtape «Pioneiros» com o Mundo.



E em que projectos estás agora a trabalhar?


Saiu agora o «Sr. Alfaiate» vol. II, na Optimusdiscos.com para download. Tenho a mixtape «MikePhelps» para sair.



Como identificas o teu Rap?


O meu Rap é uma mix de DJ Premier e DJ Craze. Musicalidade, feeling e skillz.



E o Rap nacional?


Penso bem de algumas coisas e mal de outras. Acho que, no fundo, só deve ficar o pessoal que sente a cena. Devia haver um teste para poderes prosseguir, não só para djing mas para todas as vertentes, para ver se realmente sentes. É que há gajos que duram um mês e outros que são forever. Eu sinto isso no geral da música, não só no Rap nacional. Tem de haver um filtranço, falta muitas vezes uma auto-avaliação. Falta o Love, tem de haver love


O que achas que nós como portugueses estamos a viver em termos de música?


F***… Eu acho que estamos a viver numa tristeza. Vou ser sincero: uma tristeza e uma beleza. É uma beleza 70 por cento falsa, porque as pessoas que estão a trabalhar nisto, cinco por cento vivem bem, as outras 95, que são gajos que até se safam, no final vão morrer com zero escudos na conta. E isto são só 95 por cento…só! O mercado de pessoas que ouvem coisas de qualidade é pequeno, há mais gente a consumir, o que é fácil. É um mercado pequeno e com pessoas a mais para alimentar. Só mesmo se houvesse uma team gigante, porque não há união. Esse é um dos problemas. 


Que campeonatos já participaste e os teus resultados?


O ITF acabou, só houve um ano, foi em 2005, ganhei. Participei num campeonato com o Cruz em Barcelona, que era o Vestax Extravaganza, um campeonato muito bom. O IDA que ganhou o Ride. E o DMC, no ano passado, que ganhei. Tenho o ITF de 2005 e o DMC 2008. O triste é que em Portugal, por mais que ganhes, não tens agentes que te promovam.



O que te inspira?


A tranquilidade, paz, ouvir bons trabalhos, rotinas boas.



O que ouves no dia-a-dia?


Neste momento estou a sentir o novo álbum de Jay-Z. Ouço muito Common, Gang Starr, Dilla.



O que achas ser preciso para haver uma base sólida nacional? O que faz falta?


Está-se a ir no caminho certo, porque ainda há pessoas que acreditam bué. O que é necessário mesmo é haver um trabalho contínuo, fazer actuações; por exemplo: um gajo que ganhe o DMC tem de ter continuidade, não morrer logo ali. Aqui só se faz o que dá dinheiro, também faço umas festas, mas porque não há mais gente a fazer. Há festas de house que estão cheias, por não haver lá um DJ a fazer scracth? Há uns anos atrás, no DeepClub fiz scratch numa festa de drum´n bass.



Para finalizar queres dizer alguma coisa?


Estou aí com o «Sr. Alfaiate», abraço ao Henrique Amaro por ajudar a iniciativa e WATCH OUT!! Como diz o Mickey Factz google meTou aí adaptado aos tempos de agora, um gajo reinventa-se… 




Por: MSKRLH

Fotos: Martim Borges


FREESTYLE/2009

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