DJ Link, actualmente DJ do NBC está no Hip Hop desde 2000 altura em que começou a trabalhar com os GMS. Produtor de créditos reconhecidos. Link lança-se agora na sua primeira compilação a solo


Freestyle: Como foi o teu primeiro contacto com os pratos e com a cultura hip hop? 


Link: Foi quando me mudei para a linha de Sintra, conheci um gajo que tinha uns pratos mas só misturava música de dança, techno e por aí. Foi isso que me levou a mixar, mais tarde é que me conhecei a interessar por scratch, na altura do boom do hip hop, por volta de 99 falava-se muito disso. Nessa altura conheci um rapaz que já fazia scratch e pensei, quero aprender isto. Comprei uns pratos podres. Uma mesa escafiada e comecei a comprar discos na King Size. Ia praticando a ver umas cassetes. Fui conhecendo mais gente e fui evoluindo.



Onde fizeste a tua primeira aparição como DJ?


A minha primeira aparição como DJ foi antes de estar com os GMS, o Dark Face andava à procura de um DJ para ir passar umas músicas no IPJ, nessa altura o DJ Psicopata que também tocava lá, falou comigo e perguntou se eu queria ir lá tocar porque eles estavam à procura de um DJ, foi a partir daí que conheci os GMS e passei a fazer parte da banda deles. Essa foi a minha primeira festa de Hip Hop, eu estava um bocado sem saber o que é que estava a fazer, o people todo olhar para mim. Mais ou menos nessa altura a Loop fez um campeonato de DJ´s na Valentim de Carvalho no Chiado, eu ganhei e o prémio era uma actuação na galeria Zé dos Bois, essas foram as minhas primeiras aparições.



Tiveste alguém que te ajudou ou foste autodidacta?


Fui um bocado autodidacta, em termos de material o que fiz foi pesquisar, via o material que eles tinham e procurava nas lojas. Para aprender, via o que eles faziam lá fora e tentava fazer igual, obviamente falavas com aquele pessoal que já tinha mais experiência, mas eu já trabalhava na altura e não tinha muito tempo para estar em casa do pessoal para aprender, eles davam-me as dicas e eu ia para casa praticar.



Quem foram as tuas influências?


Como músico em termos de produção, gajos como o DJ Hi-Tek, Pete Rock, mais tarde o J-Dilla, tens imensos produtores que me inspiraram. Em termos de música que eu faço sem dúvida os músicos dos anos 70, pessoal que trabalhou com o pessoal, como o Curtis Mayfield, Marvin Gaey. É daí que vou beber muita inspiração, muitos dizem que é revivalismo mas para mim é como se essa música nunca tivesse ultrapassada.



Achas que as novas tecnologias vieram ajudar os DJs?


Eu uso q.b. , uso quando toco com o NBC, porque há coisas que são necessárias para o concerto e como não há em vinil uso o software. Por outro lado veio estragar um bocado a cultura DJ porque basicamente abriu as portas a pessoas que não respeitam muito bem a história e a cultura do que é ser DJ. Veio facilitar também o facto de tu poderes ser DJ, não tens sequer de aprender a acertar batidas. Eu para aprender a acertar uma batida demorei um ano! Agora não precisas nada disso, lembro-me que carregava malas e malas de discos agora, levas o computador às costas. Aquela interacção que existia entre o DJ e o público perdeu-se, porque os DJs já levam a tracklist feita nos computadores, imagina que o DJ está a passar House e o público não está a curtir mas como a próxima música é de House ele vai disparar aquilo na mesma, independentemente de o público estar a gostar ou não. Isso a meu ver é mau. Quando nós tocávamos com os vinis, se reparávamos que o pessoal não estava a gostar tínhamos de virar logo para o outro lado, porque o importante era tu agarrares a malta. Eu vejo as coisas assim: na altura as pessoas eram mais exigentes, agora querem beber e ouvir aquela música da moda.  



O que achas do nível do turntablism em Portugal?


Evoluiu muito. Só o facto de teres campeonatos internacionais cá e teres portugueses a competir lá fora é uma cena espectacular. Continua é haver poucas condições e poucos DJs ainda dedicados a isso, porque basicamente se não tiveres dinheiro ou patrocínios é mais difícil, porque isso é que faz mexer as coisas… 



Ia-te perguntar isso, o que achas que faz falta aos DJs nacionais e como melhorar?


É isso, apoios. Tu para seres um bom DJ de turntablism tens de treinar horas e horas por dia, se tiveres outra profissão nunca vais ter tempo para seres um DJ ao nível de os DJs lá de fora. Igual para as outras vertentes, para seres um bom MC, tens de praticar, ler e escrever muito, às vezes um caderno cheio de letras, percebes? Com o DJ a mesma coisa.

A meu ver ou isto dá uma grande volta ou nunca vai haver as condições para um DJ evoluir ao nível de os DJs lá de fora.



E o que achas que é preciso?


Primeiro tem de se reconhecer esta música e esta cultura como algo válido. Como algo que tem qualidade e que as pessoas que fazem parte, tanto as revistas como os cantores como os DJs são músicos, são artistas e são escritores, tem de haver reconhecimento. A partir do momento que isto aconteça, e nos deixem sair da caixinha que nos meteram, aquele estereótipo de que a música que fazemos é de rua e é só para malta até aos 19 anos, quando isto tudo estiver feito acho que as coisas podem andar. Vai ser difícil, há poucas editoras e se já para aqueles que são “grandes” está complicado, para nós que somos tão pequenininhos ainda pior fica.



Qual é o material que utilizas e porquê?


Eu pessoalmente não gosto de divulgar as marcas, prefiro dizer que são uns pratos da Technics, isto é o normal toda a gente sabe, uma mesa de DJ e software de DJ, se eles quiserem que se divulgue a marca, primeiro pagam-me e depois pagam à Revista Freestyle.



Quais são os teus discos preferidos?


De vinil…não te consigo dizer assim discos preferidos. Lembro-me que tenho lá em casa as compilações da Soundbombing da Rawkus, isso são as que me acompanham para todo o lado. Imensos discos de Funk, são discos que uso muito, são alguns dos meus discos favoritos, cenas tipo Bobby Womack, Curtis Mayfield, Roy Ayers.



Que sons tocas sempre?


São estes que te disse, gosto muito de incluir Funk nos meus sets, também para mostrar que o Hip Hop vem um pouco daí. Nós samplamos muito disso. Algum Hip Hop português também, tenho aquelas compilações do BomberJack, do NBC, BlackMastah, Micro, esses também andam sempre comigo. É sempre bom mostrar o que foi feito cá. Discos de 7 polegadas, aqueles discos de Reggae que eles antes faziam muito, era aquele Reggae meio Hip Hop, cenas que não se ouvem muito. Gosto de pôr essas cenas no meio, até porque é uma forma de te destacares, hoje em dia ouve-se muito aquele Hip Hop electrónico, eu gosto de me desmarcar desse feeling.



Qual foi o concerto que mais te marcou e porquê?


Houve alguns, um deles foi, o ano passado, quando tocámos no Delta Tejo. Marcou-me porque sendo o NBC conhecido, não é conhecido do público geral e nós fomos tocar no palco principal onde estavam à volta de 20 mil pessoas à nossa frente e o público sem nos conhecer aderiu completamente. Interagiam connosco, e é assim que deve ser sempre, nós estamos ali para lhes dar um bom espectáculo. Esse é o que mais recordo, mas há muitos. Com o NBC muitos, uma vez em Aveiro com uma chuva torrencial e pensávamos que íamos ter poucas pessoas, parou de chover dez minutos antes do concerto e de repente vemos uma multidão a correr para o palco, foi fixe. Foi um bom concerto, pessoal no meio da lama, esses concertos é que dão pica para continuar.



Como surgiu a produção?


Quando já estava a passar som, comecei-me a interessar pela forma como as coisas eram criadas, e a partir do momento que eu disse, isto interessa-me bastante é complicado, e tenho de ir aprender as bases. Fui pesquisar, falar com pessoas que produzem há mais tempo. Vês nas revistas quais são as máquinas que o pessoal usa, mas tens de ter cuidado porque muitas vezes aquilo é endorsement e tu acabas por comprar uma máquina que não te interessa para nada, aí tens de ter cuidado para ver que tipo material compras. Mas foi assim, fui comprando material, interessando-me, e há um factor importante que tenho de dizer, é que tens de ter alguém que se interesse pela tua música, se não tiveres perdes o interesse. Eu tive a sorte de ter tido muita gente a interessar-se pelos meus beats e a partir daí vais-te sempre aprumando.



Em relação ao teu novo trabalho, como se chama?


Ainda não tem nome, a malta anda a dizer para eu lhe chamar Link mas um álbum com o meu nome, não sei.



Como foi o processo de escolha dos cantores e quantos temas são?


São 10 temas, tenho o álbum fechado e esta semana já vou ter o Master. Em relação às pessoas, ainda faltam algumas porque eu não quis fazer um álbum muito grande, não pude incluir toda a gente e terão de fazer parte de futuros trabalhos. Estas pessoas que estão a participar, ou são pessoas que me têm acompanhado, ao longo da carreira, ou pessoas que vão aparecendo e há um entrosamento e crias uma amizade e aí a colaboração é uma cena que sai espontânea, isso reflecte-se na música que fazes. 



A nível de produção, há alguma regra no que diz respeito aos instrumentais ou aos temas?


A regra base foi fazer músicas que dessem para tocar ao vivo com banda. O processo foi assim; fiz o esboço das músicas, depois entrei em ensaios com a banda para fazer os arranjos dessas músicas. A partir desse momento dei as músicas aos cantores e aos rappers, foram comigo para a sala de ensaios, para colocarmos tudo certinho, e depois foi gravar. Estou a trabalhar neste álbum desde Janeiro de 2009. 



Como vão ser as actuações ao vivo?


Isto sendo uma compilação vai ser impossível ter os artistas todos, portanto o molde vai ser, 2 ou 3 cantores base que fazem todas as músicas e ter convidados, algumas surpresas mas isso vai sempre depender das datas e conseguirmos conciliar as coisas. O que estou a planear com a banda é termos um bom espectáculo ao vivo.



Quem vai lançar o álbum?


Pois aí é mais complicado. É aquela eterna questão de encontrar uma editora. Para já não tenho ninguém e provavelmente vai ser edição de autor. Tenho andado a contactar algumas editoras mas até agora não tenho tido grande feedback. Mas digo-te uma coisa, de um certo ponto de vista as editoras tradicionais estão um bocadinho fora, porque se tu fores um gajo que se mexe e tiveres dinheiro, consegues por o álbum a girar. Tens internet, tens distribuidoras, tens assessorias de imprensa e management, neste momento se tiveres dinheiro para investir já não estás preso às garras de uma editora que basicamente vão tratar o teu trabalho como porcaria. Tu sozinho dás o valor que ele tem de ter. 



Onde foi gravado?


O álbum foi gravado nos estúdios Big Bit nas Laranjeiras, os ensaios foram todos feitos em Alfragide numas salas de ensaio que lá existem. A mistura, masterização e arranjos que também fiz depois da captação foram feitos no New Max estúdio. O Max é um gajo doutros tipos, para mim um dos melhores músicos de Portugal, tem feeling, não é daqueles gajos que tu precisas de estar a dizer “não é assim”, ele próprio se for preciso dá um dedilhar na guitarra dá os toques que forem precisos.



Quando está previsto o lançamento?


Outubro, finais de Outubro. Está dependente da gravação do clip do primeiro single, da imprensa da distribuidora mas é complicado dar uma data certa.



Últimas palavras


Obrigado, à Revista Freestyle pela entrevista. Queria só aproveitar para deixar uma mensagem, o caminho que este estilo de música que nós gostamos está a tomar não é o certo, há coisas que têm de ser mudadas, as pessoas têm de assumir uma postura mais profissional, porque senão assumires ninguém vai apostar em ti. Nós não podemos dar ideia que este movimento é gerido por um bando de miúdos. A partir do momento que as coisas ficarem mais refinadas as portas vão-se começar a abrir. Este movimento não é embrionário, já tem muitos anos e as pessoas que começaram isto já estão a ficar “velhas” e cabe a essa malta nova dar rumo a isto. Vejo muitas pessoas com talento, mas faz falta desenvolver projectos.




Por: Martim Borges & X-Acto

Foto:Timóteo Santos


FREESTYLE/2010


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