O colectivo Mundo Complexo já fez 10 anos. DJ Kwan faz parte do grupo, mas faz muito mais do que isso. Freestyle foi ver o quê…


Freestyle: Em que ano começaste a ter contacto com a cultura Hip Hop? 


Kwan: Lembro-me de quando era mesmo puto ouvir Afrika Bambaataa, mas não sabia o nome nem o que era Hip Hop ou Rap. Era música que punham em festas de garagem para dançarmos Breakdance que víamos nos filmes. 



Mas consegues identificar o ano?


Terá sido na década de 80, quando o Hip Hop cá chegou. Foi através dos filmes de Breakdance. Lembro-me, mais tarde, de ouvir A Tribe Call Quest, que vim a descobri depois, porque a música não me saiu da cabeça. O tema era I Left My Wallet In El Segundo. Já na década de 90 comecei no Rock e no Hard Rock. Tinha montes de discos e comprei uns pratos mais «rafeiros», com o dinheiro que ganhei a trabalhar nas férias. Mas não davam para fazer Scratch e acabei por vendê-los.



E DJ? Há quanto tempo?


DJ de Hip Hop só mesmo em 98, quando comecei a fazer Scratch. Antes punha som para os amigos, mas estava mais virado para o Rock e para o Hard Rock.



Porquê DJ?


Em 1994 andava muito com o Youth e os PRM. Posso dizer que foi através do Graffiti que me envolvi mais na cultura Hip Hop. Gostava de música, tinha uns pratos e já misturava. A cena Hip Hop gostei por ser algo com muito mais técnica. Mais tarde comecei a ver o DJ Assassin, o DJ Cruz-Fader e o DJ 30 Paus que me influenciaram bastante, pois era na casa do 30 Paus que se passavam as tardes a praticar. Via o Scratch como um desafio muito mais difícil pois estava habituado a misturar apenas.



Em que ano te juntaste aos Mundo Complexo?


Foi em 99 que o Duda e eu entramos. O grupo já existia com outra configuração, com o DJ 30 Paus. Depois, em 2000, já era o núcleo duro: eu, o Duda, o Ridículo e o Tony Moca a ensaiarmos.



Como está o colectivo Mundo Complexo? 


Estamos quase a comemorar 10 anos, é em 2009. O terceiro vídeo saiu há pouco tempo e temos estado a tocar todos os meses. Por isso, acho que está bom; mais unidos do que nunca. Aprendemos a trabalhar de uma forma diferente, pois o Dé vive no Porto e nós aqui na zona de Carcavelos. No final destes anos todos já somos tão amigos que nos habituámos à maneira de trabalhar de cada um, já gozamos com os defeitos em vez de atrofiarmos, estamos num ponto em que, com o estilo de vida que levamos, temos de ser hiper-profissionais para tudo funcionar. E, realmente, a única forma é termos tudo bem planeado para correr a 100 por cento.



Projectos?


Estamos cheios de força e de vontade para fazer o álbum que vem a seguir, de remisturas, que se chama «10 anos 10 manos». Convidamos 10 produtores conhecidos da praça e vai ainda ter um DVD extra sobre esses 10 anos, um documentário feito pela família «Fazuma». Queremos fazer também uma mini-tournée para promover esse disco e, no final do ano, lá para Setembro/Outubro, temos planeado fazer sair o terceiro disco. Mundo Complexo a comemorar 10 anos e cheios de projectos.



Fala-me um pouco sobre trabalhos em que estás envolvido?


Tenho o meu trabalho como DJ, a minha dupla com DJ Ride mais virada para o Turntablism e para os campeonatos, e um projecto com outro DJ ligado a festas. Além disso, naturalmente, tenho Mundo Complexo e actuações com Melo-D, porque faço parte dos Good Vibes Band que acompanham Melo-D ao vivo. Também estou com Manif3sto e participo com Scratchs em álbuns de outros artistas.



E quanto ao projecto que tens com o DJ Ride?


É um projecto mais virado para as competições. Conseguimos um 3º lugar num campeonato Mundial em 2007, mas agora está um pouco parado por falta de disponibilidade dos dois; temos horários um pouco trocados, o que é bom por ser sinal de que temos tido trabalho e andamos a tocar bastante. Vamos ver, no futuro, como fica o projecto. Não sei dizer nada mais neste momento.


Fala-me um pouco sobre trabalhos em que estás envolvido?


Tenho o meu trabalho como DJ, a minha dupla com DJ Ride mais virada para o Turntablism e para os campeonatos, e um projecto com outro DJ ligado a festas. Além disso, naturalmente, tenho Mundo Complexo e actuações com Melo-D, porque faço parte dos Good Vibes Band que acompanham Melo-D ao vivo. Também estou com Manif3sto e participo com Scratchs em álbuns de outros artistas.



E quanto ao projecto que tens com o DJ Ride?


É um projecto mais virado para as competições. Conseguimos um 3º lugar num campeonato Mundial em 2007, mas agora está um pouco parado por falta de disponibilidade dos dois; temos horários um pouco trocados, o que é bom por ser sinal de que temos tido trabalho e andamos a tocar bastante. Vamos ver, no futuro, como fica o projecto. Não sei dizer nada mais neste momento.



Fala-me um pouco sobre a tua discografia e o trabalho com outros artistas.


Em termos de discografia, tenho os álbuns com Mundo Complexo, as minhas duas Mixtapes (que já são bem antigas), compilações e participações em álbuns. No que respeita ao trabalho com outros artistas sou muito eclético, tal como sucede com a minha discografia. Nos eventos e festas de Hip Hop nem sempre é possível isso acontecer mas, quando toco para outros públicos, normalmente, gosto de misturar outras coisas no set, Rock, Pop, Soul, R&B e Funk. Passa, também, pelo facto de trabalhar com outros artistas que não estão só envolvidos com Hip Hop, como o Melo-D com Soul/Funk, os Manif3sto, com uma vertente mais Reagge. 



Que experiências te marcaram mais?


 É difícil dizer, pois tenho muito respeito pelos músicos nacionais, como é o caso dos Cool Hipnoise, uma banda da qual eu sempre gostei. Aliás, depois, vim a conhecer as pessoas. O João Gomes e eu até já trabalhamos juntos na Megastore da Valentim de Carvalho e, na altura, por acaso, era uma equipa só de DJs: o Nuno Forte, um dos maiores nomes do Drum N´Bass português, a Filipa Príncipe, que também punha Drum N´Bass. Trabalhámos também com os GNR, no álbum deles, e descobrimos que temos muito em comum, apesar da diferença de estilos musicais. Há ainda experiências com músicos que já considero amigos, como o Sam The Kid, o NBC, SP, os Micro e o Dourado. Em termos de scratch tive a sorte de tocar com DJ Q.Bert, A-Track e o Prime Cuts dos Scratch Perverts. Nomes estrangeiros com quem já me cruzei, e dos quais guardo boas memórias, estão ligados a entrevistas no tempo da rádio: o Ben Harper, os Outkast ou Guru. Foram pessoas que tive oportunidade de conhecer pessoalmente e por isso apreciei mais a sua música. Recordo ainda De la Soul (tivemos a oportunidade de abrir o concerto deles no Coliseu de Lisboa), ou até mesmo Blackalissious no Porto.

 


Sei que trabalhaste em Rádio. Queres falar um pouco sobre essa experiência? 


Foi muito importante para mim, fazia Playlist normal na rádio. Depois conheci o Rui Miguel Abreu, que tinha um programa de Hip Hop aos fins-de-semana com o Jos-T na Marginal, programa que eu, mais tarde, viria a fazer com o D-Mars. Durante uma semana fi-lo sozinho e acabou por ser o único programa de 

Hip Hop diário que passou, até hoje, em Portugal. Era o Nação Hip Hop, que me levou a ficar mais interessado por esta cultura em geral. Estive na Rádio entre 1998 e 2003.



Como gostas de identificar a tua música?


Tento que seja muito eclética, misturo um pouco de tudo, envolvendo alguma técnica, mostrando que se pode fazer mais qualquer coisa do que apenas misturar. Procuro envolver as pessoas usando aquilo que treinei com um pouco de Scratch, não esquecendo o papel do DJ, que é pôr as pessoas a dançar.



Quanto ao Rap Nacional, como achas que vivemos neste momento?


Em termos de MC´s, depois de ter havido uma fase em que apareceram vários, não estou a ver ninguém novo que tenha aparecido com um bom skill como há uns anos atrás Sam the kid ou Valete. Pode ser que não os conheça e eles estejam por aí a fazer um bom trabalho. Mas cada vez mais vejo aparecer bons produtores. Com a evolução dos meios tecnológicos, acho que estamos bem. Já estive mais ligado ao Graffiti do que agora, mas parece-me bem. Estamos perto de uma estação e vimos montes de comboios pintados, vejo sempre imensos. No que respeita a DJ´s, eu esperava que, por esta altura, houvesse mais e virados para o Scratch e Turntablism, o que deveria ser incrementado com o aparecimento dos campeonatos.



Falemos, então, do Campeonato Mundial ITF 2007?


Ganhamos o nacional em 2006 e em 2007 fomos lá fora. Não tínhamos nada a perder, tivemos uma grande experiência com alguns dos melhores Turtablists do mundo e foi importante estabelecer contactos e conhecê-los pessoalmente, como sucedeu com o DJ Truble e o Tigerstyle, que foram campeões do mundo varias vezes, assim como júris e concorrentes com que nos cruzámos. Gostei muito de Crakóvia (Polónia) e a cereja em cima do bolo foi sacar o terceiro lugar. Foi inesperado, mas correu-nos tudo bem. Não nos sentimos pressionados, o que acontece cá em Portugal onde a pressão é bem maior porque já temos um nome.



Campeonato DMC 2008 em Portugal, fala-me da tua participação?


O nível foi bom, equilibrado, mas esperava ver alguém a destacar-se. Penso que houve alguma injustiça por parte dos júris ou algum engano; não sei como chamar ao que se passou, mas os campeonatos são assim e temos de estar preparados e aceitar. Podemos é concordar ou não.



O que achas necessário fazer para criar bases fortes que elevem o Turntablism Nacional?


Além dos campeonatos DMC e ITF, que devem ocorrer todos os anos, é importante os portugueses irem ao estrangeiro ver como está o nível e ganhar calo na competição. Falta também serem organizados workshops e outros eventos de Turntablism, que não necessariamente esses campeonatos, onde DJ´s se juntem e mostrem o trabalho, tournées por exemplo. As Jam Sessions, que têm sido organizadas pela Crew Assam, as Open Jams, pelo DJ Pass, deixam-me pena de não poder estar lá, mas é complicado gerir o tempo entre o meu emprego e os concertos. São essas iniciativas que fazem com que a base se torne realmente sólida e atraiam novas pessoas para o turtablism português. É preciso sangue novo pois, qualquer dia, já estamos muito velhos para competir.

 


Gostava de saber a tua opinião quanto à música nacional e à ligação aos meios de comunicação, tanto mais que trabalhas na MTV. 


Existem bandas com potencialidade para irem lá fora, como é o caso dos Buraka, e há outras que já deviam ter tido essa oportunidade. De qualquer forma, continua-se a fazer boa música em Portugal. O Hip Hop é um dos géneros que mais álbuns lança e que mais criatividade está a impor à música nacional. 



E quanto ao mercado nacional, se é que assim se pode falar?


É um mercado fechado, onde poucos com um nome mais mainstream conseguem viver da música e viver bem. O mercado para eles tem uma boa venda de CD´s e concertos. Existem aqueles que se vão aguentando, pois se querem viver da música têm de penar. Depois há outros, a maioria, que têm os seus empregos e a música é o seu dispendioso hobbie a que eles se dedicam muito. 



O que ouves no teu dia-a-dia, o que te inspira?


Oiço de tudo. As pessoas dizem isto mas, na verdade, eu oiço mesmo tudo, muito Soul Music e clássicos. Talvez o que oiço mais são coisas da Motown. Stevie Wonder é o meu músico preferido. Gosto de Reagge, Funk e, claro, Hip Hop. Aprecio toda a música que tenha alma, seja Rock ou música de dança. Qualquer uma tem de me tocar, de ter alma mesmo que não seja Soul. Estou a ficar mais velho, já não julgo as pessoas pela música que fazem mas por aquilo que são. Cada vez oiço coisas mais variadas, o que penso que faz bem também ao pessoal do 

Hip Hop.


 

Queres deixar algum props?


Para os meus manos de Mundo Complexo, que já estamos juntos há 10 anos, para a comunidade de Hip Hop Tuga, para aqueles que fazem música em Portugal, porque isso é mesmo dar algo de si aos outros, para o Dj Maskarilha (risos), à minha Agência a Spin, ao Kamala e ao Ride, com quem já vivi grandes cenas, e para as pessoas com quem tenho partilhado palco e que me fazem uma pessoa mais feliz.




Por: MSKRLH

Fotos: Martim Borges


FREESTYLE/2009

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