PinyPon, Leo, Cuca, Bia e a ausente Lúcia a.k.a. Baronesa, são as cinco b-girls que dão cor e vida às Butterfliesoulflow. Uma crew de raparigas que não se intimida perante o universo predominantemente masculino da cultura Hip-Hop. 


Freestyle: «BGirls, DJs e Writers por amor e por (pro)vocação», li na apresentação do vosso myspace, querem comentar?


Piny – (risos) É um jogo de palavras. Por vocação porque, se o fazemos, é porque o sentimos e temos alguma vocação para isso. A parte da provocação tem a ver com a forma como a fazemos, na atitude que imprimimos. 



Qual é a abrangência do vosso interesse pela dança?


Leo – A Cuca é diferente, faz rancho folclórico (risos).

Cuca – Não, eu e a Bia estudamos dança clássica. Eu estou no segundo ano da Escola Superior de Dança de Lisboa, onde faço contemporâneo e clássico. 

Leo – Mesmo assim, há outros estilos dentro do hip-hop que qualquer uma de nós faz, não é só o breakdance. Depois, há outras coisas que vão completando. Eu, por exemplo, também faço um pouco de sapateado, a Piny ainda faz dança do ventre, dança tribal e africana. Acabam sempre por se associar vários ritmos que ajudam a criar um estilo próprio.



Tu e a Piny dão aulas, de quê?


Piny – Eu dou aulas de Fusion Belly Dance, que acaba por não ser aquela dança do ventre formal com o véu porque já tem fusão com dança urbana. Damos também aulas de Newstyle, de House, e de Waacking. Podem espreitar no nosso myspace www.myspace.com/butterfliesoulflow 



Vivem da dança?


Piny – Vivemos um pouco de dar aulas, mas isso não se pode considerar viver da dança, é diferente: é dar aulas! Se conseguíssemos ter espectáculos que pagassem já seria diferente, mas assim não sustenta. Portugal ainda não tem mercado para isso. 



Com uma versatilidade tão vasta, costumam ir buscar outros passos e fundir estilos nas vossas performances como b-girls?


Piny – Uma das essências do break é a criatividade, por isso qualquer b-boy ou b-girl a quem perguntes isso, vai sempre responder que sim. Toda a gente tenta tirar o máximo de influências de outros sítios ou de si mesmo e das capacidades do seu próprio corpo, que é único, para criar um estilo mais inovador. Seja, por exemplo, a Cuca que faz dança contemporânea e tenta pôr coisas de contemporâneo, seja uma pessoa que faz ginástica ou capoeira e adiciona alguns movimentos… toda a gente procura criar linguagens diferentes.

Leo – Geralmente consegue-se identificar o que a pessoa faz por um ou outro toque da sua performance. Não quer dizer que esteja ali o passo completo da inspiração, mas o estilo acaba por estar incorporado.



Leo e Piny são também DJs. Esse facto ajuda-vos a ser melhor b-girls, ou ser b-girls ajuda-vos a ser melhor DJs?


Pyni – Acho que é mais a segunda hipótese. Não é que ajude a ser DJ tecnicamente, mas sim a escolher o tipo de música.

Leo – Sim, dá outro tipo de sensibilidade. Como dançamos, conseguimos sentir melhor aquilo que quem está lá em baixo quer ouvir, ou o que é que faz vibrar. Muitas vezes é difícil ficar só pela cabine de som e acabamos por fugir, uma ou outra, e ir para a pista dançar também (risos). 



O Hip-Hop é uma cultura maioritariamente masculina. No breakdance por exemplo, porque é que não há mais raparigas a dançar?


Piny – Porque o break é difícil! Custa, dói no corpo, não é só chegar, dar dois passinhos e está feito. Exige muito treino, como na ginástica ou artes marciais, com a diferença de que no break não tens o treinador a insistir, nem um horário imposto. Então tens de ser tu próprio a querer. Depende muito da tua vontade.

Leo – É como seres o teu próprio mestre, tens de trabalhar para isso e insistir até que alguém acredite em ti. Não é qualquer pessoa que te vai ensinar só porque decides: «olha, quero aprender isso». Não, tens de merecer o respeito daquela pessoa para receber a informação e, para isso, tens que estar lá, tens que sofrer.



Como é que foi dançar perante tanta gente ao som de África Bambaataa, no Casino de Lisboa?


Piny – Foi brutal, foi muito bom. Foi um misto de prazer e responsabilidade, porque nós sabemos que, quando conseguimos um trabalho dessa dimensão, automaticamente vamos ser julgadas. Faz parte. Ou dizem que conseguimos o trabalho porque somos mulheres, ou ficam a perguntar «como é que conseguiram isso?», «quanto é que vão ganhar?», «que contactos é que têm?». Eu acho que isto é um mal geral em Portugal: em vez de felicitarem os outros por conseguirem as coisas, julgam e questionam como é que elas foram conseguidas. Para nós, foi um trabalho super humildemente aceite e fizemos o melhor que conseguimos, tendo em conta que era final de dia e estávamos completamente estoiradas, até porque tínhamos vindo de uma viagem. Mas estivemos todas: eu, a Leo e a Baronesa. A Cuca e a Bia subiram depois, mas só um bocadinho.  



Acabadas de chegar da Eurobattle 2009, no Porto, como é que foi a experiência este ano?


Leo – Este ano foi calmo, foi uma perspectiva diferente.

Piny – Para mim foi um bocado tortuoso, porque não participei, e foi a primeira vez em que não participei. 



Nenhuma de vocês participou?


Piny – Este ano não, porque as categorias em que nós entramos são a pares. Eu ia entrar em B-girling com a Baronesa, mas ela não está cá. A Leo ia entrar em Newstyle, mas não tinha par porque nenhuma de nós está a treinar Newstyle. Então fomos só ver e foi muito mais tranquilo. A partilha é completamente diferente. Eu, pelo menos, normalmente estou uma pilha de nervos. 

Leo – Acaba por se absorver as coisas de outra maneira. É estar ali no meio, ou na sala de treino e ser chamado ao palco e tudo o resto. Masvê-se o evento com outra calma, consegue-se estar com mais atenção e apreciar níveis. Eu, antes, até chegar o momento de entrar, não ouvia mais nada!



Que mais vos impressionou este ano, alguém em especial?


Leo – O Ricardo. Tenho que dizer isto, foi mesmo o Ricardo! É um rapaz daqui de Lisboa que faz Loking e, desde a última vez que o vimos, evoluiu imenso. Está brutal.

Piny – Sim, o Ricardo em Loking surpreendeu-nos muito, parabéns! Também gostei muito da battle de Poping, no geral foi muito boa. Em minha opinião, foi a melhor de todas as categorias. E, já agora, também parabéns ao Hugo e ao Marco, por terem ganhado a battle de Newstyle empatados, o que foi algo muito estranho.



Já foram a eventos do género, ou de maior dimensão, fora de Portugal?


Piny – Fomos participar no Circle Kings, na Suíça, que não é maior, é apenas diferente. Fomos ao Just Debout, em França, mas não participámos, foi só para ver. Fomos ao Dance International e ao aniversário de Rock Steady Crew, em Nova Iorque, uma semana inteira de competições e festas, exposições, debates, muita coisa. E fomos também ao Bee Supreeme, em Londres, um evento só de mulheres, as mulheres em todas as vertentes do Hip-Hop.



Viajam muito…


Piny – Trabalhamos para juntar dinheiro para viajar (risos)

Leo – Era bom que desse para ser assim todos os fins-de-semana.





O que é que falta em Portugal para podermos organizar e crescer mais a nível de breakdance?


Piny – Podemos começar pelas coisas mais simples que é haver espaços para treinar. É o básico! Havendo espaços para treinar as pessoas já se juntam e motivam muito mais, porque o que acontece agora é que as pessoas estão separadas consoante o sítio onde treinam. 

Leo – E atenção que pedir espaços para treinar nem é preciso ser uma sala mesmo própria para treino, basta, por exemplo, podermos estar numa praça, numa rua ou num sítio onde o chão tenha condições mínimas e ninguém vá interromper para dizer que estamos, sei lá… a criar um motim!



Mas antigamente havia treinos na rua…


Piny – Sim, nós também chegámos a ir treinar ao metro da Alameda.

Leo – E, ainda antes disso, treinava-se no Marquês

Piny – Mas as coisas vão sendo proibidas porque são espaços que não são considerados públicos. E quando são espaços públicos vêm perguntar «o que estás a fazer?», dizem que não podes estar ali, porque se estás a fazer um espectáculo tens de pedir autorizações, etc. Mas isto é o mais básico. Outra coisa que considero importante e continua em falta é haver mais apoio e divulgação dos eventos. Porque ainda funciona muito no boca-a-boca, apesar de aparecer num site ou noutro, ainda falta algum financiamento para pôr as coisas a funcionar como deve ser. 

Leo – Está bem que esta cultura nasceu da rua, mas é preciso tirar o preconceito da marginalidade para ganhar um pouco mais de crédito. Para que tenhamos oportunidade de crescer e o breakdance, neste caso, possa ser também considerado um tipo de dança como as outras, que tem as suas regras, as suas técnicas, e pode perfeitamente estar ao nível de outros espectáculos.



Falando de apoios, vocês têm algum patrocínio?


Piny – Não. No ano passado tivemos o apoio da Eastpak, o que foi bom, apesar de ser algo simbólico. Às vezes as pessoas engrandecem tudo. Quando viam questionavam logo «mas como é que têm isso?» sem perceberem que era uma coisa meramente simbólica que nem podemos considerar um patrocínio. No entanto, já ajudava, claro. Por exemplo, no ano passado fomos à Eurobattle e não pagámos nada porque deu para pagar as despesas de carro e de alimentação, o que já foi bom. Mas neste momento não temos nenhum apoio.



Em relação às mudanças do grupo. A Baronesa foi para França, por tempo indefinido, como é que se sentem em relação a isso?


Piny -  Sentimos a falta dela, mais como amiga, é obvio. Em relação à crew a ausência também se sente até porque, de todas nós, a Lúcia é a mais focada no break. Mas continuamos juntas e podemos sempre ir a eventos que haja lá, ou ela vir a outros cá…e continuamos todas a treinar.



Há também duas novas «aquisições»: a Cuca e a Bia. Como surgiu a entrada para o grupo?


Cuca – Eu comecei como aluna delas, a fazer as aulas. Provavelmente viram que eu me aplicava, não sei (risos)... ou que procurava evoluir e daí comecei também a ir aos treinos e a andar mais com elas. No ano passado participei Battle da Flamenga, foi a minha primeira competição. 

Piny – Pois foi, porque eu nessa altura estava lesionada e era em «três por três», mas correu bem! E entraste também na Battle da Arruda dos Vinhos, no dia a seguir.



E em relação à Bia?


Bia – A situação é a mesma, também comecei como aluna delas, mas sou mais nova, ainda só tenho 18 anos.



Próximos planos de acção?


Piny – O mais importante agora é irmos para Nova Iorque outra vez. Eu e a Leo, vamos em Julho passar lá um mês, para aprender e participar no que houver. Nós já fomos duas vezes. Além de se absorver hip-hop em todos os cantos daquela cidade, a nível de dança é brutal. Há muitas escolas onde se pode fazer aulas, há sítios de encontro para treinar, há eventos, há concertos, há tudo!

Leo – Há coisas de cinco em cinco minutos. Resumidamente: «há!».

Cuca – O meu próximo plano é pensar na carta de condução… (risos) Também quero ir estudar para a Bélgica, mas é só para o ano, no terceiro ano do curso, através de Erasmus e ainda tenho de ver o que consigo arranjar porque com a escola tem de ser algo mais dentro do estilo contemporâneo e clássico.



Gostava de pedir que se definissem individualmente como b-girls. Começando, por exemplo, pela PinyPon, que características consideram que lhe estão mais associadas?


Cuca – É impulsiva, tem muita energia!

Leo – É electrizante. Como se aquilo que ela sente no momento estivesse a transpirar por cada poro e pudéssemos sentir a força com que ela entra e a vontade que tem de estar ali.



Agora sobre a Leo.


Cuca – Para mim, enquanto aluna dela, ela é o «estilo». E depois tem muitos toquezinhos e pormenores. 

Piny – Isso tem a ver com o feitio de cada uma de nós e ela a dançar reflecte aquilo que é. Sente as coisas por ela e não para mostrar aos outros. Acho que ela transmite mesmo essa relação com a música, um sentir muito próprio, muito mais chill, muito mais na dela, a curtir, sem grandes pretensões.



A Lúcia…


Piny – A Lúcia é força, é potência! De nós todas, ela é a mais guerreira. A que está sempre pronta para um desafio, nunca vira a cara à luta! 



Falta a Cuca e a Bia.


Leo – A Cuca é a baratinha tonta! (risos) Acho que tanto a Cuca como a Bia ainda se estão um pouco a definir como estilo. Têm características, como é óbvio, mas ainda estão a passar por aquela fase de perceber o que é que mais gostam, ou o que mais querem fazer daqui a um tempo, e só aí é que vão começar a definir melhor o caminho.



Alguma mensagem final?


Piny- Acho que queremos todas mandar props à Lúcia. Apesar de sentirmos a falta dela, queremos desejar-lhe toda a sorte do mundo. Ela foi para França tentar entrar numa faculdade de dança, onde vai fazer muito mais do que breakdance ou Hip-Hop. Vai fazer clássico, contemporâneo, jazz, por isso esperamos que ela consiga. E que dê sempre para irmos lá, ou ela vir cá, quando surgirem oportunidades de estarmos juntas. Não é por causa dela estar ausente que deixa de fazer parte, apenas está um bocado mais longe. 



Por: Sofia Meireles 

Fotos: Martim Borges


FREESTYLE/2009


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