Um dos mais activos writers nacionais, BLE aka KEiMS, conta com muitos panels, end to ends e um número de wholecars de fazer inveja a muitos. Um writer da nova escola, que não desrespeita o passado, focado no presente e sobretudo em inovar 

Freestyle – Fala-nos um pouco do teu percurso enquanto writter. Quando e como começaste a pintar?


Ble Tive o meu primeiro contacto com o graffiti em 99, quando vi pessoal a pintar na minha escola, em Sintra, tinha eu 11 anos. Passava a vida a desenhar lettrings e, quando tive oportunidade, arranjei umas latas manhosas e comecei a rabiscar. Apesar disso, só mais tarde é começa um percurso que se possa chamar de visível e que considero mais activo. É a partir do final de 2003.



E porquê o tag BLE?


Inicialmente derivou de «ABLE», aquele que é capaz de fazer algo, que consegue e pode fazer o que quer! Também tem significado através das siglas como: Bless Last Escapes, Bitches Lying Everytime e Bringing Love Everywhere.



Quais as tuas principais influências e de que modo contribuíram para o desenvolvimento do teu estilo?


Eu não sei bem responder a isso… do que eu gostava há cinco anos não é do mesmo que gosto agora. Quando comecei nos rabiscos gostava de hall of fame e admirava as cenas dos que pintavam as paredes cheias de cores. Mas com o tempo mudei e, hoje em dia, hall of fame já não me diz nada. Ou seja, acho que não posso agarrar numa influência ou nomes. Agora gosto muito de ver as cenas do metro de Nova Iorque nos anos 80, com aqueles estilos naïfs. Aquilo era tudo muito genuíno, não é como actualmente que tudo tem muitas influências.



E não achas que o retro está muito na moda?


Sim. É uma moda que, como as outras, também vai passar.



És conhecido como bomber. Quer dizer que o hall of fame está de parte para ti?


Gosto de ver algumas coisas, apesar de agora não ver nada de especial. Prefiro as cenas antigas. Hall of fame é mais a vertente que nos pode dar um futuro por causa dos trabalhos, porque está distante do que, para mim, é o graffiti.


Em relação ao bombingtrains ou sub´s?

Prefiro sub´s aos trains, mas também acho importante bombar a cidade. Mas não há dúvida que os sistemas de metro são bastante mais apetecíveis devido a todo o ambiente envolvente e às estratégias de muitas das missões.Pintei, com bastante regularidade, comboios no passado. Mas, no final de 2007, dediquei-me somente ao metro, que é o que faço com frequência, sem que ninguém veja e sem ter de ver ninguém!


Como foi o teu primeiro comboio?

Tinha eu 14 ou 15 anos, em Lagos, estava de férias com a minha família. Lembro-me de passar horas escondido, a fazer do spot um bicho-de-sete-cabeças e das mil possibilidades da action não correr bem. Na verdade, eram apenas meia dúzia de regionais parados num sítio ridículo, dava para pintar a noite toda, a beber litrosas. Mas a minha falta de experiência não me deixou à vontade e fiz uma cena rápida terrível!



Qual foi a sensação?


Enquanto pintava senti-me bem, uma mistura de receio com aquele sentimento de ver a chapa a ficar colorida e brilhante. Quando bazei e olhei para a foto senti-me um idiota, já em Lisboa se faziam wholecars, a cores, no metro e muitos «sintras», já para não falar do que se fazia na Europa. E eu tinha acabado de fazer uma caganita num regional em Lagos. É realmente ridículo!



És um dos mais activos writers em Portugal, o que te motiva?


Gosto de ver o meu nome e o dos meus, espalhado pela cidade, e gosto do jogo em si… Tem graça…



Como writer já tiveste encontros com a lei, alguma história em particular que te marcou?


Essas histórias, com o tempo, deixam de ser marcantes e passam só a ter piada. Foi o mesmo que acontece aos outros, tiros e muito tempo passado escondido nos arbustos… O clássico!



Mas nunca foste apanhado em flagrante?


A única vez que me apanharam foi a tirar fotos em exterior. É o único caso que ainda hoje me dá problemas. Já foi arquivado mas ainda prestei declarações e, a partir daí, as coisas ficaram mais complicadas. Um dia, seguia no metro, normalmente, quando pararam as carruagens e mandaram uns «sugas» apanhar-me. Disseram-me que sabiam quem eu era, que tinha problemas com o metro e chamaram a policia.



Achas que o nível de patrulhamento está a aumentar?


Sem dúvida. Há um interesse crescente em tentar manter a cidade limpa e punir os pintores. De facto, é mais fácil tentar lavar a cara da cidade do que alterar a podridão do seu interior. O patrulhamento nos comboios é uma palhaçada, mas no metro é diferente. Têm tudo filmado para, no dia em que quiserem apanhar alguém, ser mais fácil fazê-lo. A história do Bairro Alto é a maior fantochada. Aquilo faz parte do ambiente boémio da noite, não só aqui como em todo o lado. Querem fazer do bairro uma aldeia? Seja como for, faz parte do jogo e até ajuda a meter os fracos e todos os que não são puros fora do jogo!




Então como vês o Graffiti em Portugal?


É decadente, há meia dúzia de writers que têm valor. De resto são gajos que se limitam a fazer o que os outros já fizeram: não inovam, não querem fazer maior nem melhor, são ridículos, com bué props, família e abraços. Acho que deve haver uma certa rivalidade porque ela vai puxar mais pelas pessoas, obrigá-las a fazer mais. Mas isto, se calhar, é a minha arrogância a falar…


Como é a tua relação com os outros writers?


Já tive bastantes problemas. Hoje pinto com os meus e é só isso que me interessa. Vejo os outros writers num mundo à parte do nosso, parece que falam línguas diferentes.



Já foste pintar lá fora? Em que sítios estiveste?


Já estive em Paris, Londres e Madrid. E é fixe ir lá fora e perceber que isto aqui é ridículo; o que se faz cá é pintura de rodapé. Mas, antes de começar a viajar a sério e pintar lá fora, há muita coisa que quero fazer por cá.



Até que ponto a música te influência? 


rap influência-me, mas não obrigatoriamente. Não acho que seja uma obrigação um writer ter de ouvir hip-hop. Aliás, eu li uma cena que contava que os primeiros writers do Bronx nem sequer ouviam rap, ouviam metaladas antigas, Led Zeppelin e por aí… Quer dizer que se, no início, não se ouvia hip-hop porque se convencionou que um writer tem de o ouvir? 



Quanto ao teu futuro, estás a estudar ou trabalhar?


Estou a estudar e vou fazendo uns trabalhos para ajudar. Em relação ao futuro gostava de fazer trabalhos de graffiti ou ilustração. Era ai onde eu gostava de me ver daqui a uns anos.



Ocorre-te ainda dizer mais alguma coisa?


Sim, quero só acentuar que tudo aquilo em que eu e os meus inovamos foi graças ao que as crews anteriores fizeram, crews que merecem todo o meu respeito. O pensamento é fazer mais, maior e melhor do que os anteriores e não tentar aquilo que já foi feito. 




Por: Martim Borges & André Silveira

Fotos: BLE


Freestyle/2009



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